O fantasma de uma inflação reprimida, certamente de preços administrados que podem explodir depois das eleições, está tirando o sono de muitos brasileiros. Essa preocupação vem sendo captada nas últimas semanas por vários indicadores que mostraram a deterioração da confiança do consumidor.
Cada vez mais cauteloso com os gastos e inseguro em relação à manutenção do emprego, o brasileiro colocou o pé no freio nas compras no primeiro trimestre deste ano, quando o consumo das famílias, que responde por 63% do Produto Interno Bruto (PIB) e tem sido pilar do crescimento, caiu 0,1% em relação ao último trimestre de 2013.
Para o segundo trimestre deste ano, o cenário é incerto e os indicadores antecedentes do consumo não são nada favoráveis. As vendas no varejo em abril, o último dado disponível, caíram 0,4% em relação a março, descontados os efeitos sazonais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em maio, as vendas dos Dia das Mães decepcionaram e, em junho, os negócios do comércio foram prejudicados pelos jogos da Copa do Mundo.
O quadro do consumo também não é animador para o terceiro trimestre. Sem datas sazonais importantes, menos da metade dos consumidores (46,6%) pretende adquirir bens duráveis ou semiduráveis entre julho e setembro, segundo a Pesquisa Trimestral de Intenção de Compras do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA). Trata-se da menor marca de intenção de compras para um terceiro trimestre em 12 anos.
A cautela do brasileiro se baseia no temor de perder o emprego. Em junho, o Índice de Medo do Desemprego, apurado pela Confederação Nacional da Indústria, subiu pelo quinto trimestre seguido. No indicador nacional de confiança da Associação Comercial de São Paulo, levantado pelo instituto de pesquisas Ipsos Public Affairs, aumentou mais de 10 pontos, de 17% em maio de 2013 para 28% em maio deste ano, a fatia de brasileiros que está menos confiante com o seu emprego.
Diante da incerteza em relação à inflação e à empregabilidade, o consumidor adotou um comportamento defensivo. A secretária executiva Vanessa Marques Acencio, de 34 anos, por exemplo, reduziu as idas ao supermercado: antes ia entre duas a três vezes por mês. Hoje vai só uma vez e estoca os produtos no freezer. Já o analista fiscal Alex Henrique Lima, de 30 anos, começou a poupar. Agora guarda 20% da sua renda e até pouco tempo atrás não poupava nada.
Também na defensiva, a administradora de empresas Sandra Hoffmam, de 36 anos, não pretende comprar nada a prazo, muito menos fazer aquisições de produtos de grande valor nos próximos meses. Para o gerente comercial Marcelo Murilo Carraca, de 68 anos, que desistiu de uma viagem ao Chile programada para este mês, o momento é de segurar as despesas e fazer uma poupança forçada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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