Queda no consumo projeta ano crítico para a siderurgia

Bruno Porto - Hoje em Dia
04/05/2015 às 06:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:53
 (João Bosco)

(João Bosco)

Ainda maior parque siderúrgico do país, na iminência de perder o posto para o Rio de Janeiro, as usinas de aço instaladas em Minas Gerais terão um ano de dificuldades, com perspectivas de negócios fracos geradas pela retração econômica do país e pelas adversidades enfrentadas por seus principais clientes: setor automotivo, da construção, linha branca e infraestrutura. A projeção do Instituto Aço Brasil é de redução de 7,8% no consumo aparente de aço em relação a 2014, atingindo 22,7 milhões de toneladas, patamar próximo ao registrado em 2007.

O Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) vai revisar sua projeção de vendas para este ano, que ainda é oficialmente de queda de 5%. Dada a deterioração do cenário econômico e a inexistência de indicadores que apontem para melhorias, a nova previsão deverá ficar em torno de 8%, segundo o presidente da entidade, Carlos Loureiro.

“A situação do mercado apresenta pioras, com alta ociosidade nos nossos clientes. Em novembro prevíamos para 2015 crescimento de 2%, passou para os atuais 5% de queda, mas teremos que ajustar esse dado para mais de perto de retração de 10% do que de 5%”, afirmou.

As siderúrgicas, que programavam um reajuste no preço do aço para abril e maio abortaram o plano em decorrência da fragilidade das vendas. “Apesar da postergação da alta de preços, não há no horizonte possibilidade de redução também, uma vez que as margens já estão reduzidas”, afirmou Loureiro.

O último levantamento realizado pelo Inda apurou retração de 16,2% nas vendas de aços planos sobre igual intervalo do ano passado. No mês de março, a redução foi de 9,3% ante o mesmo mês de 2014. No setor de aços planos, Minas Gerais é sede da maior fabricante do país, a Usiminas, em Ipatinga, no Vale do Aço. A companhia publicou recentemente seu balanço financeiro do primeiro trimestre do ano, e o resultado dá a dimensão da crise.

De janeiro a março, a Usiminas acumulou prejuízo líquido de R$ 235 milhões, o segundo resultado trimestral negativo consecutivo. No quarto trimestre de 2014 a companhia fechou no vermelho em R$ 117 milhões. A CSN, concorrente direta da Usiminas, com produção concentrada em Volta Redonda (RJ), ainda não publicou seu balanço do primeiro trimestre, porém a perspectiva é de um resultado fraco.

“As empresas de aços planos produzem basicamente para atender o mercado interno e o primeiro semestre será de negócios fracos. O segundo depende do sucesso do governo com seus plano de concessão e aportes em infraestrutura”, disse Pedro Galdi, analista de mercado da WhatsCall.

Readequação de custos chega ao mercado de trabalho

A necessidade de ajustar custos à nova realidade do mercado já atinge o emprego. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco, para que não se configure demissão em massa, quando é necessário abrir negociações com o sindicato, as siderúrgicas instaladas na região demitem a “conta-gotas”, mas a soma das dispensas já é significativa.

De dezembro a maio, de acordo com o sindicato, foram 507 demissões homologadas pela entidade que representa os trabalhadores. O sindicato estuda a possibilidade de se reunir com as empresas e propôr um Plano de Desligamento Voluntário (PDV) retroativo.

No Vale do Aço, polo de produção siderúrgica no Estado, o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga e Região (Sindipa) alega que a rotatividade dos trabalhadores aumentou porque as empresas estão trocando funcionários com salário mais alto por outros com remunerações menor.
Investimento

Enquanto em Minas Gerais os planos de novas usinas são engavetados, como a da CSN em Congonhas, em outros estados ainda existem novos aportes. A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou na semana passada financiamento de R$ 2,3 bilhões para a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). Os recursos serão destinados à construção da usina, no município de São Gonçalo do Amarante (CE), com capacidade de produção de até 3 milhões de toneladas/ano de aço.

Com o investimento total de cerca de R$ 12,7 bilhões estão sendo gerados mais de 17 mil empregos diretos e indiretos durante as obras. A previsão é de que o início da produção ocorra no primeiro semestre de 2016. O controle acionário da CSP é exercido de forma compartilhada pela Vale e pelas sul-coreanas Dongkuk e Posco.
 

© Copyright 2025Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por