A queda de 2,08% nos preços de energia elétrica ajudou a "segurar" a inflação na capital paulista em agosto. Segundo o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), Rafael Costa Lima, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), não fosse o recuo na tarifa de energia o indicador fecharia o mês com alta de 0,35%, em vez de 0,27%. "Só energia respondeu por um recuo de 0,08 ponto porcentual no IPC", disse.
O recuo nos preços de energia, que reflete a redução promovida em julho pela AES Eletropaulo e também a diminuição do PIS/Cofins, foi determinante para a queda no grupo Habitação (-0,13%) em agosto, de acordo com a Fipe.
Segundo Costa Lima, a tarifa ainda deverá continuar tendo efeito benéfico sobre a inflação de setembro. Pelos cálculos do economista, o pico de baixa pode ser atingido na segunda quadrissemana do mês. Para este período, a previsão da Fipe é de que os preços da tarifa de energia cedam 3,97%, mas depois irão reduzir o ritmo e fecharão o mês com deflação de 1,82%.
Outro item que também impediu um avanço maior do IPC em agosto, conforme a Fipe, foi o de automóvel usado (-1,53%). Já os preços de veículos novos saíram de um recuo de 0,50% na terceira quadrissemana para um aumento de 0,07% no encerramento do mês. Além disso, a deflação dos combustíveis - de -0,90% do etanol e de -0,42% da gasolina - amenizaram o aumento de 1,08% do grupo Alimentação sobre o IPC, disse Costa Lima. Os recuos de automóvel usado e dos combustíveis levaram o conjunto de preços de Transportes a uma nova deflação em agosto (-0,24%), após cair 0,36% em julho.
"Ainda tem o efeito do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis, mas apenas sobre carros usados. É provável que o preço se mantenha estável, mesmo com a renovação da redução do imposto, já que parece que as montadoras normalizaram seus estoques", comentou.
O feijão, segundo a Fipe, continuou caindo e fechou o mês com recuo de 2,08%. Mesmo com a taxa negativa, o economista reafirmou que os preços ainda não devolveram a alta de quase 60% no acumulado em 12 meses até agosto. O mesmo aconteceu com alface, que cedeu 14,69%, após subir mais de 20% na primeira quadrissemana de junho. O tomate, por sua vez, grande vilão da inflação dos últimos meses, ainda ficou no território positivo no fechamento do IPC de agosto (12,25%). "Mas os preços estão perdendo força e devem manter a queda no ritmo de alta. Na pesquisa semanal, o aumento já está em 2,60%, depois de uma valorização de quase 33% na primeira semana do mês", disse.
Revisão
Diante da expectativa de novas quedas nos grupos Habitação e Transportes no decorrer de setembro, Costa Lima preferiu não alterar sua projeção para o IPC do final do ano, mantida em 4,80%. "É cedo para rever. Há alguns itens que estão na dependência de decisões políticas. É preciso esperar até que os debates apontem quando isso irá acontecer", disse, referindo-se especialmente a uma eventual desoneração que o governo federal poderá divulgar para o setor de energia.
Costa Lima afirmou que, apesar de prever inflação de 0,32% na capital paulista no fechamento de setembro, não descartou a chance de a taxa ficar acima desse nível ou até mesmo abaixo. "Quando se tem um grupo pressionando fortemente (caso de Alimentação) e itens de peso (energia e automóveis usados) caindo, as previsões ficam bem voláteis, o que dá brecha para surpresas", disse.
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