Avaliar a natureza da dívida e os juros é fundamental antes de dar o primeiro passo
(Reprodução/Pixabay)
Uma pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL) aponta que a inadimplência entre os consumidores da capital cresceu 2,81% em comparação ao mesmo período de 2024. Entre os fatores que contribuíram para o avanço estão juros elevados, inflação persistente, priorização de contas básicas e uso intensivo do cartão de crédito. Se o nível de endividamento está em alta, como pensar em investimentos?
Segundo o Raio X do Investidor Brasileiro feito pela Anbima, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, em parceria com o Datafolha, a maioria da população (63%) ainda está fora desse universo das aplicações financeiras que ajudam a fazer o dinheiro render. Entre os que aplicam, a poupança segue sendo o destino mais comum.
Camila Poltronieri Flaquer, Head de Cobrança Digital (B2C) da Recovery, empresa do Grupo Itaú focada em recuperação de crédito no Brasil, "avaliar a natureza da dívida, os juros envolvidos e o tipo de aplicação faz toda a diferença para tomar a melhor decisão” sobre investir mesmo com contas em atraso.
Facilmente quem está com o orçamento apertado imagina que investir é um luxo, mas ter uma pequena reserva pode ser justamente o que impede o endividamento de virar uma bola de neve, ressalta a especialista. “Dentro do possível, é importante manter uma quantia mínima reservada para emergências. Essa quantia pode evitar que imprevistos gerem dívidas”, explica Camila. Segundo ela, “guardar R$ 20 ou R$ 30 por mês já é um começo. Além de trazer segurança, essa prática ajuda a criar o hábito do planejamento financeiro”.
Entre as alternativas para quem deseja dar os primeiros passos estão produtos como o Tesouro Direto, que aceita aplicações a partir de R$ 30, e a poupança, que tem rendimento menor. Na dúvida, vale priorizar investimentos que permitam resgatar o valor total ou parcial aplicado com rapidez e segurança, caso seja necessário em caso de emergência.
O apego ao dinheiro investido pode atrapalhar decisões racionais, afinal, ver o saldo da aplicação crescer é motivador. No entanto, se a pessoa tem dívidas com juros muito altos, como o cheque especial ou o rotativo do cartão de crédito, priorizar o investimento pode custar mais caro.
Os juros dessas modalidades costumam ultrapassar os rendimentos médios de qualquer aplicação conservadora, e até mesmo de algumas mais arriscadas. Nesse caso, sacar o valor aplicado para quitar a dívida tende a ser a opção mais vantajosa, destaca a especialista.
Financiamentos de longo prazo, como os de veículos ou imóveis, geralmente apresentam juros mais baixos que outras modalidades de crédito. Com isso, ao receber um valor extra (como o 13º salário), pode surgir a dúvida: é melhor aplicar o dinheiro ou antecipar parcelas?
A escolha dependerá de alguns fatores: o financiamento oferece desconto ao antecipar parcelas? A antecipação ajudaria a diminuir o valor final pago ou traria tranquilidade financeira no curto prazo? Por outro lado, se o investimento escolhido render mais que o custo da dívida, mesmo considerando o imposto de renda sobre o rendimento, talvez valha mais deixar o dinheiro aplicado.
“Comparar a taxa de juros da dívida com o rendimento estimado do investimento, incluindo os impostos descontados, é essencial. Com isso, dentro do possível, a dica é priorizar o pagamento das dívidas, já que manter pendências financeiras pode comprometer parte da renda mensal das famílias, além de gerar a negativação em órgãos de proteção ao crédito e outras dores de cabeça futuras”, conclui Camila Flaquer.