Risco de crise energética atrai empresas para venda de excedente

Estadão Conteúdo
21/12/2014 às 21:00.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:27

Os baixos níveis dos reservatórios e os elevados preços da energia no mercado de curto prazo têm atraído as empresas de papel e celulose para a venda da energia excedente da produção, obtendo um caixa adicional. A Klabin, por exemplo, terá 150 megawatt/hora (MWh) de sobra no projeto Puma, e prevê que 10% da receita da nova unidade virá desta venda. A Suzano Papel e Celulose, por sua vez, possui atualmente 100 MWh disponíveis na unidade de Imperatriz, no Maranhão, e investe na melhora da eficiência energética da fábrica de Mucuri. A Fibria já comercializa cerca de 76 MWh e produziu, nos nove primeiros meses de 2014, 116% da energia necessária para o processo de produção de celulose.   "Em geral, essas empresas são superavitárias e com a possível crise energética elas acabam usufruindo disso como um caixa adicional. São oportunidades para se manterem competitivas em um cenário futuro mais fraco", explicou Victor Penna, analista de papel e celulose pelo BB Investimentos.   Atualmente, o valor máximo da energia no mercado de curto prazo (PLD) está em R$ 822,83 por megawatt/hora (MWh), válido até o final do ano. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu, no entanto, uma redução para R$ 388,48 a partir de 2015. O preço do PLD baliza a liquidação das operações de compra e venda de energia no mercado de curto prazo.   Especialistas de mercado detalham que a energia excedente das fábricas vem, principalmente, da produção de celulose, já que a de papel consome a maior parte gerada, e de novas fábricas, preparadas para a autossuficiência com o uso da biomassa. Um exemplo disso é o adicional de 100 MWh gerado na fábrica de Imperatriz, da Suzano, inaugurada em 31 de dezembro de 2013, e dos 150 MWh extras do Projeto Puma, da Klabin, previsto para o início de 2016.   O diretor de projetos e tecnologia industrial da Klabin, Francisco Razzolini, explicou, em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que o Projeto Puma foi desenhado desde o início para a autossuficiência e que existem, inclusive, investimentos em infraestrutura com duas linhas de transmissão para dar vazão à sobra. "Haverá um excedente importante e diante do quadro de energia atual, este será um bem mais escasso", disse Razzolini. Segundo ele, a empresa ainda não definiu se a energia será vendida no mercado de curto prazo ou por meio de leilões.   Localizada no município de Ortigueira (PR), a fábrica produzirá 270 MWh, sendo 120 MWh para uso próprio e 150 MWh disponibilizados no sistema elétrico brasileiro. "É uma termelétrica, mas será equivalente a uma usina hidrelétrica de médio porte", revelou Razzolini, que explicou que a unidade fabricará 1,1 milhão de toneladas de celulose fibra curta de eucalipto e 400 mil toneladas de pinus, com parte convertida para fluff, um tipo de celulose usada em produtos absorventes, como fraldas descartáveis. "Este conjunto gera mais energia do que 100% de fibra de eucalipto. Tínhamos essa visão de que a energia é um bom produto para o projeto, não somente a celulose e, com isso, maximizar o resultado."   O diretor revelou que 10% da receita gerada pelo Projeto Puma será proveniente da venda de energia. "Com os preços de hoje seria um pouco maior, mas deve ficar entre 8% e 10%, dependendo do preço no mercado livre." Somente para aumentar a geração de energia na unidade, a Klabin investiu cerca de R$ 200 milhões. Todo o projeto Puma tem orçamento estimado em R$ 5,8 bilhões.   No caso da Suzano, a fábrica de Imperatriz, no Maranhão, possui um excedente atual de 100 MWh, sendo 70 Mwh negociados no mercado de longo prazo (leilões) e outros 30 Mwh para fornecedores dentro da área de produção, com custo menor. Em Mucuri, a comercialização começou em julho deste ano e está entre 12 Mwh e 14 Mwh, e a empresa espera chegar a 26 Mwh em 2015.   A fábrica no município de Suzano, no entanto, ainda compra energia, principalmente como resultado da produção de papel. "Temos expectativa de redução da compra e aumento de excedente para que no ano que vem saia da ponta compradora para a vendedora", disse Walter Schalka, presidente da Suzano, em reunião com analistas e investidores realizada em novembro. Para reduzir o consumo e aumentar a eficiência na fábrica de Suzano, a companhia investirá R$ 150 milhões em 2015.   Diferentemente de Klabin e Suzano, que esperam receita com energia, a Fibria já faz a comercialização da sobra, mas estuda ainda novas formas, como energia eólica gerada na unidade do Espírito Santo. "A nossa produção já tem esse excedente, mas há alguns investimentos pontuais, como no gerador 4 de Jacareí, que aumentou a capacidade, e estudos para uso da biomassa e energia eólica no Espírito Santo, que tem ventos favoráveis", explicou Guilherme Cavalcanti, diretor de Finanças e Relações com Investidores da Fibria, ao Broadcast.   No atual momento, o principal benefício da autossuficiência e comercialização da energia é visto no custo caixa, que ficou em R$ 502 por tonelada de julho a setembro, ante R$ 501 em 2013 e R$ 559 no segundo trimestre deste ano.   Imobiliário e Logística   Além da bioenergia, a Fibria estuda novas oportunidades de negócios nos próximos anos, como no segmento imobiliário e logística. Junto com o programa de redução de custos e aumento da eficiência, por meio da compra de caminhões, os negócios têm potencial de gerar R$ 3 bilhões para a empresa.   No setor imobiliário, Cavalcanti explica que a Fibria possui terras espalhadas pelo Brasil inteiro e, em algumas regiões, o valor imobiliário está alto. "Podemos ter um ganho com projetos imobiliários em algumas regiões. Podemos chamar um parceiro (incorporadora) para o desenvolvimento e ter participação nos lucros, mas ainda não há nada em andamento."   Em logística, a empresa espera fornecer a estrutura do Portocel, no Espírito Santo, no qual possui 51% e a Cenibra 49%, para além das produtoras de celulose. "É um porto com potencial grande para expansão e, assim, aumentar as receitas. Está em fase de estudos, mas podemos chamar um parceiro com participação um pouco menor em um negócio maior", disse o diretor da Fibria.

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