Aposta na honestidade

Sem funcionários, minimercados são bons negócios que dependem de índole do cliente

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 26/12/2022 às 08:00.
Montados principalmente em condomínios de alto padrão, os minimercados autônomos oferecem praticidade na compra, mas contam com honestidade do cliente (Be Honest/Divulgação)

Montados principalmente em condomínios de alto padrão, os minimercados autônomos oferecem praticidade na compra, mas contam com honestidade do cliente (Be Honest/Divulgação)

Você vai ao supermercado, coloca no carrinho os produtos que precisa, se encaminha ao caixa e a atendente passa suas compras pelo sistema e cobra o valor a ser pago. Esse é o passo a passo, certo? Nem sempre. Um serviço já comum fora do Brasil tem ganhado cada vez mais espaço por aqui: o mimercado com atendimento autônomo. O que muda é o passo final: não há atendente no caixa, o próprio cliente passa os produtos pelo sistema e realiza o pagamento.

Essa modalidade foi impulsionada pelo isolamento social durante a pandemia de Covid-19. São lojas instaladas em espaços mínimos, sem funcionários, onde o próprio cliente entra, pega e paga os produtos que precisa. Uma aposta na honestidade dos consumidores que nem sempre sai como o esperado. Tem aqueles que se aproveitam da falta de vigilância para usurpar alguns produtos.

Uma das empresas que opera esse sistema em Minas Gerais descobriu que nem sempre pode contar com a correção dos clientes depois de amargar prejuízo. Em seis meses, foram mais de 4 mil ocorrências de furto em unidades instaladas em condomínios de alto padrão na Grande BH. De chocolates a várias latas ou garrafas de cerveja saíram pelas portas desses mercados sem o devido pagamento.

“A gente percebeu da pior forma que a ausência de controle pode banalizar a desonestidade”, destaca Vitor Casagrande, fundador da Be Honest. Segundo ele, a imensa maioria dos clientes é honesta e respeita as regras, mas uma minoria pode trazer grandes prejuízos. “Os que são honestos respeitam com câmera ou sem câmera, com dispositivos de segurança ou não. Porém, aqueles que praticam crimes precisam ser repreendidos”, afirma.

A empresa decidiu aumentar os procedimentos de segurança nos minimercados que possui após perceber os furtos. Os mercados da marca ficam dentro de condomínios de alto padrão e o executivo destaca que a experiência de empresas do setor mostram que honestidade ou desonestidade não têm relação com nacionalidade, nível educacional ou renda. “Esse tipo de situação ocorre em vários países e não tem relação com qualquer tipo de recorte. É preciso coibir e educar”, diz.

Bom negócio

Apesar dos problemas, o empresário acredita no modelo e não pretende abrir mão dele. A Be Honest possui hoje mais de 200 pontos de vendas e parcerias com gigantes do varejo, como o grupo Super Nosso. “Nós surgimos oferecendo o serviço de autoatendimento em empresas. Com a pandemia, os funcionários foram para casa e nós vimos nossos resultados caírem. Buscamos alternativas e levamos os mercadinhos para os condomínios. Os resultados mostram que foi uma estratégia correta”, garante Casagrande. 

A prova de que o investimento tem valido a pena está nos números. Enquanto o setor de minimercados, que inclui as tradicionais mercearias, cresceu 13,6% no ano passado, de acordo com dados do Sebrae, as empresas que instalam os mercadinhos de autoatendimento triplicaram de tamanho desde o início da pandemia. 

É o caso da “Minha Quitandinha", rede que oferece o serviço de autoatendimento em condomínios. Em 2022, a rede de lojas autônomas atingiu um crescimento de 300% e um faturamento anual acima de R$ 13 milhões. 

“É possível dizer que 2022 foi um ano de consolidação para o segmento porque os consumidores estão se sentindo cada vez mais confortáveis em fazer compras sem a ajuda de vendedores. Entendem a praticidade que essa iniciativa traz para o dia a dia”, afirma Marcelo Villares, diretor executivo da empresa.

Estratégias

O caminho das franquias tem sido a principal opção das empresas do setor. A startup Peggo, por exemplo, que espera fechar 2022 com 500 unidades, criou um modelo de franquia direto para o condomínio, no qual os lucros são partilhados com a empresa.

O projeto de instalação é realizado em dois dias e os condomínios não têm que gastar nada, apenas ceder o espaço.

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