Se antes da Copa do Mundo a notícia de que Belo Horizonte receberia novos hotéis era aceita com satisfação, agora, dois anos após a passagem do Mundial, o cenário é de desespero. Além de amargar baixa ocupação, que mal chega aos 50%, o setor hoteleiro convive com alto índice de desemprego. Entre 2013 e 2016, 16 empreendimentos já fecharam as portas ou mudaram de atividade. O último deles, na última sexta-feira, na Savassi. Para 2017, a previsão da categoria é que um hotel encerre suas atividades por mês na capital.
“A conta é simples. Antes da Lei 9952/2010, Belo Horizonte tinha 8 mil quartos disponíveis. Depois da Copa, foram acrescentados mais cerca de 6 mil. Pouquíssimas cidades do mundo comportariam tal aumento, que diria a capital mineira”, avalia o consultor de hotelaria Maarten Van Sluys, sênior da JR & MvS Consultoria.
Ele também explica que antes da Copa de 2014, o Brasil ainda vivia um cenário de crescimento econômico de 4,5% ao ano. A crise enfrentada no país gerou um efeito em cascata, reduzindo a demanda por hospedagem, associada a queda no número de eventos na capital e, consequentemente, a falta de recursos para esses empreendedores investirem em outros segmentos.
Segundo o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb) foram contratados cerca de 3 mil funcionários diretos da cadeia hoteleira durante a Copa do Mundo. Após o Mundial e até este ano foram demitidos cerca de 5 mil.
Mais demandas do setor
No primeiro semestre de 2016, a taxa de ocupação na capital mineira foi de 40% e a diária média em hotéis com bandeira cinco estrelas ficou entre R$ 200 e R$ 250. “Não temos mais aonde enxugar. Substituir um funcionário fica mais caro do que contratar um outro. O setor de serviços é o que mais emprega e menos demite. Vivemos as consequências da crise. Precisamos de mais eventos em Belo Horizonte”, pontua Paulo Pedrosa, presidente do Sindhorb.
Diante desse cenário, o setor hoteleiro começou a se unir para pleitear demandas antigas do setor. Para garantir ocupação durante todo o ano, os empresários buscam a possibilidade de recategorização de hotéis para se transformarem em flats ou apartamentos. Outra reivindicação seria redução de impostos, como a da alíquota do Imposto Sobre Serviços (ISS) para 2,5% e até isenção de IPTU. “Todos os candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte receberam nossas propostas. Estamos preocupados, porque ano que vem serão mais 2 mil novos leitos e já temos uma ociosidade de 50%”, pontua Pedrosa.
Para 2017, a expectativa de todo o setor hoteleiro é que economia reaqueça e que obras previstas pela prefeitura sejam concluídas. “Precisamos também de melhorias em todo o sistema viário. A reforma da rodoviária é uma prioridade. Queremos o olhar do novo prefeito a essas demandas”, diz Patricia Coutinho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-MG).
Ocupação no primeiro semestre de 2016 foi a pior em 30 anos
Segundo avaliação do setor hoteleiro, o primeiro semestre de 2016 foi o pior em 30 anos para a categoria em Belo Horizonte. Os hotéis garantiram ocupação média de 40%. Nem a Olimpíada no Rio, que trouxe alguns jogos de futebol para a capital e os eventos de negócios, como a Superminas, e a feira de tecnologia e a Feira Nacional de Artesanato, no Expominas – sendo esta última ainda em dezembro – são capazes de reverter o quadro.
Para garantir que os hotéis tenham boa ocupação durante o ano, o setor cobra por mais eventos turísticos em Belo Horizonte, principalmente os relacionados a negócios. Segundo cálculos da cadeia produtiva, para que os empreendimentos não fechem as portas, seria necessária uma ocupação média de 65% ao ano. Hotéis econômicos conseguem manter-se com uma ocupação média de 45%. “Precisamos de mais eventos na capital e, principalmente, que a economia reaqueça”, afirma Patricia Coutinho, presidente da ABIH-MG.
Para o presidente do Sindhorb, Paulo Pedrosa, o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, recém-conquistado pelo conjunto arquitetônico da Pampulha, e Carnaval, que começou a se reaquecer nos últimos anos, ainda não fizeram da capital mineira uma referência no turismo de lazer. “Precisamos de mais movimentação de setores da economia, mais eventos. Enfim, calendário turístico”, diz Pedrosa.
Segundo a Belotur, várias ações estão sendo tomadas pela prefeitura para garantir que a capital mineira tenha durante todo o ano um calendário turístico de lazer e de negócios. “Divulgamos o Carnaval de Belo Horizonte mais cedo neste ano para que os hotéis possam se preparar com suas promoções para a data”, diz Gustavo Mendicino, diretor de promoção e marketing da Belotur.
Além disso, no mês de janeiro, considerado um período de baixa temporada, será lançada uma promoção aos fins de semana que combine compras, lazer e hospedagem com preços mais acessíveis, incentivando os turistas sazonais a conhecerem a cidade. “Será uma espécie de Black Friday para o turismo. Conversamos com as operadoras de viagem para garantir bons pacotes que tragam turistas para BH neste período entre janeiro e fevereiro, em que a ocupação tradicionalmente é muito baixa nos hotéis de BH”, diz Mendicino.
Abrindo as portas para congressos médicos
Segundo o diretor de promoção e marketing da Belotur, Gustavo Mendicino, os congressos médicos estão entre os eventos que mais movimentam o turismo de negócios nas capitais brasileiras. Atualmente, esses eventos acontecem de maneira mais enfática em cidades litorâneas, como Maceió e Recife. Para atrair esse nicho a Belo Horizonte, a Belotur tem articulado conversas com presidentes dessas associações para apresentar a capital mineira como um destino aprazível a essas convenções.
Sobre os questionamentos do setor hoteleiro em relação a movimentação de turistas de negócios, Mendicino explica que recentemente foi realizado um road show em cidades-polo mineiras como Ipatinga, Uberlândia e Montes Claros para vender o destino Belo Horizonte. Além disso, a empresa trabalha com uma estratégia de unir toda a cadeia do turismo para fomentar o setor. “Estamos em conversas diretas com o Expominas e o MinasCentro, administrados pelo governo do Estado, e o Mineirão. Principalmente no estádio, queremos trazer cada vez mais shows, feiras e eventos gastronômicos”, garante o diretor.Editoria de Arte