Setores produtivos em Minas veem queda no PIB como 'dentro da expectativa'

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
02/12/2021 às 20:27.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:12
 (Fernando Michel)

(Fernando Michel)

O PIB (Produto Interno Bruto) recuou 0,1% no 3º trimestre deste ano em comparação aos três meses anteriores, informou nesta quinta-feira o IBGE. Com isso, o país entra em recessão técnica, que é quando há dois trimestres consecutivos de queda na atividade econômica. O PIB nacional foi puxado para baixo devido, principalmente, à queda de 8% na agropecuária e pelo recuo de 9,8% nas exportações de bens e serviços. Já a indústria ficou estável (0,0%).

Apesar do alerta que representa, a notícia foi recebida por representantes mineiros dos setores da agricultura, indústria, construção civil, comércio e serviços como dentro da expectativa (leia abaixo).

Mais importante indicador do desempenho de uma economia, o Produto Interno Bruto é a soma de tudo o que o país produziu em determinado período.

Desempenho

O economista do Ibmec, Paulo Casaca, explica que os números não indicam, necessariamente, uma recessão econômica no país. “Isso se dá porque se considera, da maneira mais mecânica possível, que, se o PIB recua dois trimestres consecutivos, estamos em recessão técnica, Quando olhamos o acumulado dos quatro trimestres, o PIB está crescendo e vai fechar o ano com crescimento positivo, mas esse desempenho é em relação a uma base enfraquecida, que é 2020, ápice da pandemia em termos de impacto econômico”, analisa.
Conforme os números, a queda só não foi maior porque o consumo de serviços apresentou alta de 1,1%. Sozinha, a categoria representa mais de 70% do PIB nacional.

Quem vê de perto a retomada da procura por serviços é Jaqueline Souto. A empreendedora comanda, há sete anos, uma barbearia localizada na Avenida Amazonas, região central de Belo Horizonte. Ela conta que o aumento na procura pelos serviços cresceu entre 10% e 15%. “Com as pessoas voltando ao trabalho, estudo presencial e a vida social, elas têm procurado mais os serviços de estética, autocuidado de corte e barba”, conta.

Mesmo assim, ela precisou se reinventar para alavancar o movimento do negócio. “Uma das maneiras que encontramos foram as aulas de barbeiro, foi uma oportunidade para conseguir fazer mais caixa”, relata.

 Repercussão

A pedido do Hoje em Dia, lideranças e economistas do setor produtivo de Minas Gerais analisaram a queda no PIB do 3º trimestre apontada pelo IBGE. Confira.

“Os efeitos climáticos foram cruéis com a gente. É preciso ver que, neste momento, não temos nenhuma safra ou colheita sendo feita. Vale a pena lembrar que a colheita de café, geralmente, é feita nesta época. Mas tivemos um ano terrível para a cafeicultura mineira, efeito de secas acumuladas em 2020, chuvas de 2021, geadas em várias regiões mineiras produtoras de café. A crise hídrica causou limitações nas culturas irrigadas. Como dizemos no linguajar pecuarista: ‘Queda e coice’”.
Antônio Salvo, presidente da Faemg

“O que temos que ver é como esse PIB está crescendo e o setor de serviços apresentou crescimento em relação ao ano passado. Um setor extremamente prejudicado durante a pandemia por ser dependente da circulação de pessoas. Isso mostra que o cenário de melhoria da pandemia, com o avanço da vacinação aliada a uma demanda represada, fez com que as pessoas consumissem mais serviços, especialmente o consumo das famílias com crescimento 0,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso é bom para o setor e para economia como um todo porque os serviços representam 70% do PIB. O que é necessário para o setor agora é um comprometimento do governo com a responsabilidade fiscal e reformas estruturantes para criar um ambiente propício para atração de investimento, que é importante para o câmbio.”<EM>
Ana Paula Bastos, economista da CDL-BH

“Essa ligeira queda no PIB do Brasil no terceiro trimestre não é uma surpresa. Em relação à indústria, essa estabilidade também era esperada. Isso porque, de um lado, temos a construção civil, que está passando por um bom momento, apesar da elevação recente da taxa de juros, temos um volume grande de contratação de obras. Por outro lado, o segmento de transformação vem sentindo a escassez de componentes e o setor de energia e saneamento foi muito afetado devido à escassez hídrica. À medida que a gente vê o aumento da mobilidade, é natural que as pessoas deixem de consumir bens e passem a consumir serviços.”
Marcos Marçal, economista da Fiemg

“A construção civil é um grande impulsionador da economia e está se destacando como o grande parceiro do Brasil na retomada econômica. O setor tem sido o pilar de sustentação de empregos no país, uma vez que é o segmento que mais vem gerando vagas com carteira assinada. Só nos últimos 12 meses, encerrados em setembro, o número de trabalhadores com carteira assinada na construção civil cresceu 15,41% em Belo Horizonte. Com esses resultados, o setor ultrapassou o número de trabalhadores do período pré-pandemia (janeiro/20). Além de fortalecer a economia, o setor também proporciona desenvolvimento social, com a diminuição do déficit habitacional. Na prática, a melhora do PIB da construção civil tem impacto em diversos outros campos da atividade econômica, já que está na origem da produção de todos os bens e serviços.”
Renato Michel, presidente do Sinduscon-MG

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