Vendas caem de US$ 431,67 mi para US$ 213,94 mi em agosto; ferro-gusa despenca 73,6% e café recua 17% após alta tarifária

Exportações mineiras para os EUA recuaram mais de 50% em agosto após tarifaço de Donald Trump (Divulgação/ Portal Governo Brasil)
Em um mês de vigência do “tarifaço” dos Estados Unidos, as exportações de Minas para o mercado americano despencaram 50,44%, de US$ 431,67 milhões para US$ 213,94 milhões. O Estado ainda fechou agosto com déficit de cerca de US$ 21 milhões na balança comercial com os EUA - a primeira vez desde 2018 -, aponta levantamento do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).
A medida americana entrou em vigor em 6 de agosto, elevando de 10% para 50% as tarifas sobre uma série de produtos estratégicos para a pauta mineira. O impacto já aparece em setores tradicionais: o ferro-gusa, taxado em 10%, teve queda de 73,62% nos embarques em relação a julho; o café, alvo da alíquota de 50%, recuou 17,05% no período.
Um ponto fora da curva ocorreu em equipamentos elétricos - segmento também alcançado pela tarifa de 50%. Em agosto, os envios de transformadores, conversores estáticos e bobinas de reatância/indução saltaram 316,19% ante julho.
A alta, porém, não é tendência, destaca Verônica Winter, da Fiemg: “Isso aconte porque a Ordem Executiva da Casa Branca, publicada em 30 de julho, permitiu que mercadorias embarcadas antes de 6 de agosto e desembarcadas nos EUA até 5 de outubro fossem taxadas ainda pela alíquota anterior de 10%, e não pela tarifa majorada de 50%”.
A expectativa da Fiemg é de agravamento nos próximos meses, conforme a nova tarifa alcance toda a pauta e sem a janela de antecipação. “Esse impacto tende a se acentuar um pouco mais pois o mercado internacional ainda está se acomodando às novas taxas. Além disso, fatores como os que permitiram a antecipação de embarque de alguns produtos para antes de 6 de agosto não devem se repetir se mantidas as condições atuais das tarifas impostas sobre as exportações brasileiras”, avalia Winter.
No cenário nacional, as exportações brasileiras para os EUA caíram 27,74% em agosto em relação a julho (de US$ 3,82 bi para US$ 2,76 bi), com déficit de US$ 1,23 bi no mês. Quando comparado a agosto de 2024, a queda foi de 18,54%.
Entre os segmentos mais afetados na comparação mensal estão: petróleo bruto (-10,07%, isento de sobretarifa), veículos aéreos (-95,75%, taxados em 10%), celulose (-21,70%), semimanufaturados de aço (-15,30%, taxa de 50%).
Entre os que passaram a 40% ou 50% a partir de agosto, carnes (-46,26%), madeira serrada (-40,88%) e transformadores de alta potência (-53,97%).
Em agosto, a Fiemg apresentou uma série de demandas ao governo de Minas e ao governo federal. Entre elas estão a criação de um pacote de R$ 300 milhões no Estado para socorrer empresas atingidas e medidas tributárias e contratuais para aliviar custos com energia, gás e ICMS. No âmbito federal, a entidade defendeu a aplicação de mecanismos de antidumping - medidas que impedem a entrada de produtos importados a preços baixos - e proteção ao mercado nacional.
Em nota enviada ao Hoje em Dia, o governo federal informou que mantém diálogo com os setores exportadores e destacou o Plano Brasil Soberano, lançado no mês passado. O programa prevê linhas de crédito de R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) e outros R$ 10 bilhões do BNDES, a juros baixos, para empresas afetadas pelas tarifas. Segundo o governo, os recursos podem ser usados em capital de giro, prospecção de novos mercados, investimentos em linhas de produção e diversificação tecnológica.
O plano também inclui medidas como diferimento de tributos, compras governamentais, prorrogação de prazos do Drawback e aumento do percentual de restituição do Reintegra. A União ponderou ainda que parte da queda apontada pela Fiemg pode estar ligada a outros fatores além do tarifaço, como a antecipação de embarques.
O Hoje em Dia também procurou o Governo de Minas, mas não houve retorno.
*Estagiária, sob supervisão de Renato Fonseca
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