Tendência mundial quando o assunto é altíssima velocidade (superior a um gigabyte por segundo) em banda larga fixa, a última milha em fibra– cabeamento de fibra ótica que chega até a tomada do cliente – ainda está longe de ser usada em grande escala no Brasil. Devido ao alto custo necessário para montagem da rede e às especificidades de instalação, a tecnologia é comercializada de maneira incipiente por Oi e GVT em bairros nobres. E a possibilidade de o quadro mudar no médio prazo, segundo especialistas, é remota. De acordo com os últimos dados divulgados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em janeiro deste ano 990 mil residências brasileiras possuíam fibra até a última milha. O montante representa 4,11% dos acessos de banda larga fixa do país, aumento de pouco mais de um ponto percentual sobre janeiro de 2013, quando representava 3,13% dos acessos nacionais. Conforme explica o professor e vice-diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Carlos Nazareth Motta Marins, enquanto o fio de cobre faz curvas e se adapta com facilidade a qualquer superfície, a fibra requer uma estrutura previamente pensada para recebê-la, precisa de emendas especiais e, principalmente, profissional especializado para instalá-la. “Hoje, alguns prédios são construídos para receber a fibra ótica, principalmente nas regiões mais nobres das cidades, onde os moradores, teoricamente, têm condições de pagar pelo produto. No entanto, nas demais áreas não adianta oferecer a última milha em fibra ótica”, afirma Marins. Ainda de acordo com ele, a fibra é cerca de 30% mais cara do que o fio coaxial. O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) João Maria de Oliveira ressalta que o processo de implantação de última milha em fibra é praticamente artesanal devido ao baixo número de instalações. E, geograficamente, o Brasil não ajuda. “A geografia diversificada do país não contribui para que esse tipo de tecnologia deslanche. Minas Gerais, com seus 853 municípios, é um bom exemplo dessa dificuldade”, ressalta o pesquisador, lembrando que dentro do Estado é possível encontrar várias regiões do Brasil. No Japão e na Coreia esse tipo de tecnologia é mais comum. Além disso, ele comenta que a tecnologia exige que a rede seja completamente nova. No caso das concessionárias que atuam no país há muitos anos, haveria, portanto, a necessidade de troca de toda a rede. O ex-ministro das Comunicações e sócio da Orion Consultoria, Juarez Quadros, comenta que a regulamentação do setor, que diz que a rede é de propriedade da União, afasta os investimentos em massa. Por outro lado, não apostar em alta velocidade em banda larga fixa é manter-se fora do mercado, coisa que as operadoras não querem. “Onde tem concorrência, tem banda larga de alta velocidade”, completa. Demanda ainda reduzida não sustenta investimentos fora do circuito de bairros nobres Em Belo Horizonte, Oi e GVT atuam com tecnologia de última milha com fibra e oferecem banda larga, em alguns bairros, a velocidades que chegam a 200 megabytes (MB) por segundo. A Net tem uma tecnologia híbrida, com fibra na rede da rua e cabos coaxiais a partir de um “armário” na porta da residência. Neste caso, a velocidade pode chegar a 120 MB por segundo. A Oi oferece o serviço para os bairros Sion, Belvedere, Lourdes, Vale do Sereno, Vila da Serra, Anchieta e Santo Agostinho em dois pacotes: 200 MB e 100MB, ambos atrelados à TV. No primeiro, o valor é de R$ 209,90 ao mês com TV de 106 canais. No segundo, o preço é R$ 169,90 ao mês com TV de 129 canais. A GVT não informou os bairros atendidos em Belo Horizonte, mas, segundo o diretor-executivo de Vendas Regionais da companhia, Renato Pontual, a velocidade oferecida chega a 150 MB por segundo. A companhia atua em 98 bairros. Nos que ela não oferece a última milha, a fibra chega até próximo à residência. Além da capital mineira, a empresa está presente em Betim, Contagem, Governador Valadares, Ipatinga, Coronel Fabriciano e Juiz de Fora. Viabilidade comercial Mesmo sem oferecer a última milha em fibra, a Net é capaz de entregar 120 MB de banda larga fixa. De acordo com o diretor regional, Ilmerson Gomes, testes foram realizados com a rede da empresa, que se mostrou capaz de entregar até 500MB. “Porém, não é comercialmente viável para os consumidores residenciais, pois ficaria muito caro”, afirma Gomes. Ainda de acordo com ele, não está nos planos recentes da empresa investir em fibra até a casa do cliente. “Competimos de igual para igual com as demais operadoras com a tecnologia híbrida”, garante. Mas, se o mercado demandar investimentos em mais velocidade, ele afirma que a empresa irá acompanhá-lo. “Por enquanto não há demanda. Mas, se houver, vamos adequar a 1GB, 2GB, o que vier”, afirma. Embora ele não revele quantos clientes são adeptos à velocidade de 120MB, o diretor da NET informa que é a minoria.