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A valorização da saca do café arábica, de 50,8% entre 2 de dezembro e quinta-feira (20), saltando de R$ 256,02 para R$ 386,19, chegou com atraso para o produtor nacional. O clima seco e quente nas principais regiões cafeicultoras do país afetou o desenvolvimento dos grãos tanto da safra de 2014, cuja colheita começa em maio, quanto para o ano que vem. “O produtor precisou vender o que tinha a R$ 230, R$ 240 para quitar as dívidas, valor que não dava sequer para arcar com os custos. Como o preço estava baixo, ele acabou tendo prejuízo”, afirma o diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) Breno Mesquita, que preside a Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ele explica que a safra deste ano foi sobrevalorizada pelo mercado. Portanto, como a colheita foi menor do que o previsto, poucos agricultores ainda têm algum café para vender a preços melhores. “As safras de 2010, 2011 e 2012 foram muito elevadas. Dificilmente em 2013 também seria, apesar de o mercado inteiro falar o contrário”, comenta. Somada à colheita reduzida, a ausência de chuvas agravou o cenário, elevando os preços, mas tardiamente. Como resultado, no segundo semestre é possível que os produtores tenham dificuldades em quitar as dívidas e cumprir compromissos financeiros, inclusive o custeio da produção. Para se precaver, o diretor da Faemg orienta que o produtor com dificuldades solicite um técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para emissão de laudo sobre a plantação. Embora não seja possível mensurar exatamente a perda, ele afirma que o técnico tem condições de emitir um laudo com estimativas. A ideia é reunir todos estes dados e apresentar ao governo, solicitando medidas de reparação ao setor. Os laudos, na avaliação de Mesquita, devem apontar que o café que deveria ser colhido está oco. Os ramos que deveriam crescer para a safra do ano que vem, ainda segundo ele, estão fracos. “Certamente o laudo da maioria dos produtores vai apontar que duas safras foram comprometidas”, conclui. Nota enviada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), vai ao encontro das afirmações do diretor da Faemg. Segundo o texto, colaboradores do Cepea apontam que muitos danos podem ser irreversíveis, porém, ainda não há dados oficiais em relação às perdas. “Uma melhora das lavouras requer mais chuvas, mas, para os próximos dias, os serviços de meteorologia apontam precipitações só para algumas áreas do Paraná e de São Paulo, e de forma isolada”, diz o comunicado.l Minas responde por metade da produção Somente neste ano, o preço da café subiu 37%, com a saca passando de R$ 281,71 no começo de janeiro para R$ 386,19 na quinta-feira. A alta repentina é reflexo das chuvas espaçadas que caíram principalmente em Minas Gerais e São Paulo, fortes produtores do grão no país. O Brasil é o maior produtor de café do mundo, com safra anual de aproximadamente 48,5 milhões de toneladas. Minas Gerais responde por mais de 50% desse montante, o equivalente a cerca de 26 milhões de toneladas todos os anos. “Por isso, qualquer mudança no cenário mineiro afeta todo o país. E mais, afeta todo o mercado cafeeiro”, afirma o presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, Breno Mesquita.