RIO DE JANEIRO - A Petrobras está ganhando dinheiro com a venda de energia no mercado livre, mas esse ganho não superará o gasto da companhia com a importação do GNL (Gás Natural Liquefeito), usado para abastecer térmicas no país. A avaliação é de um grupo de analistas ouvidos pela reportagem. A Petrobras é a única fornecedora de gás do país e também dona de 18 usinas térmicas. Especialistas dizem que a empresa importa GNL a um preço superior ao que ela vende no mercado interno, seja como combustível, seja na forma de energia. Para atender a demanda, a Petrobras vem gastando, em média, US$ 10,3 milhões por dia desde outubro na importação de GNL. O principal entrave para que a empresa zere possíveis perdas com a operação, explicaram, seria a venda de energia no mercado livre, onde a demanda tem se retraído devido ao preço elevado. De acordo com especialistas, a disparada dos preços arrefeceu o apetite de empresas por esse modelo de negociação de contrato. No mercado livre, os preços variam de acordo com a demanda. "Isso (mercado livre) não vai nem de perto cobrir os buracos da Petrobras. Não cobre nem o buraco do GNL nem o da gasolina, cujo preço ela está segurando", disse o presidente da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia), Carlos Faria. "Ela perde", diz Pedro Galdi, economista-chefe da SLW Corretora, "porque tem que importar gás a um preço e vender a outro, menor, como faz com a gasolina e com o diesel", afirmou. A Petrobras informou que em janeiro está importando um volume de cerca de 15 milhões de metros cúbicos diários de GNL, contra importação de 28 mil metros cúbicos há uma ano. A empresa não divulga quanto de energia negocia no mercado livre. De janeiro a setembro do ano passado, a companhia viu o lucro da área de Gás e Energia cair 57%, para R$ 1,138 bilhão. Entre os fatores citados estava a maior participação do GNL no mix de venda, visando suprir o crescimento da demanda termelétrica. Por outro lado, registrou ganho 348% com a venda de energia, ou R$ 112 milhões. O analista Leonardo Alves, da Safra Corretora, concorda que está havendo um descasamento entre a importação e a venda no mercado interno, mas não acha que o gás será o maior problema da estatal no resultado de 2012, já que o peso no resultado não é expressivo, se comparado à área de Exploração e Produção, por exemplo. "Certamente, não será o gás que puxará o balanço da empresa para baixo, como fez a gasolina, pois seu impacto é menor", afirmou. Lucas Brendler, da Geração Futuro, considera precipitado afirmar se a empresa vai ganhar ou perder com isso, já que além de gás ela vende energia no mercado livre e óleos combustível e diesel para as térmicas. Ele estima, porém, que a Petrobras esteja importando GNL em média a US$ 13 o milhão de BTU (medida internacional do gás) e vendendo a US$ 9. Para o presidente da Anace, a vantagem no mercado livre não se compara à importação de GNL. Levando em conta a experiência com os seus 45 associados, entre eles a Sabesp, maior consumidora de energia de São Paulo, poucos estão comprando energia no mercado livre, por causa dos altos preços. "Só compra hoje energia no mercado livre quem não fez nenhum contrato, mas normalmente as empresas procuram ter um contrato no mercado livre de pelo menos 1 ano. No ano passado nossos associados contrataram energia a R$ 90 o megawatt por hora, preço antes dessa loucura da MP 579", disse, referindo-se à Medida Provisória para redução de tarifas elétricas que vai reduzir o ganho de algumas concessionárias. Segundo a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), 40% dos contratos do mercado livre são de quatro anos e apenas 5% de menos de um ano.