(Maurício Vieira)
Belorizontina e com uma carreira dedicada à educação, a secretária municipal Ângela Dalben, de 66 anos, acredita que a escola é solução para os problemas da sociedade, devendo ser feita pela e para a comunidade. Doutora e professora aposentada da UFMG, a autora de livros e artigos na área já passou por antagônicos momentos na prefeitura de BH, desde a greve dos educadores infantis, em 2018, até a universalização de vagas para as crianças nos anos iniciais.
Ângela defende que a capital deve continuar focada em garantir vagas para todos, preza por mais unidades e sustenta que a educação precisa ser mais valorizada.
O que mais dá para fazer nos próximos dois anos de governo?
Nosso projeto principal é toda criança na escola. Acreditamos na instituição como espaço que cria uma rede de proteção para crianças, adolescentes e suas famílias. Esse é o grande desafio, a meta, o desejo de realização. Quando a gente fala toda criança na escola parece simples, mas quando chegamos em 2017 tínhamos filas (de espera) enormes na educação infantil. Esse desafio foi enfrentado de uma maneira forte, quando decidimos realizar o cadastro escolar. Observamos que foi muito acertada essa decisão. Hoje já temos universalizada a oferta de vagas para crianças cadastradas 5, 4 e 3 anos. E temos um número que não é tão grande de 2, 1 e 0 pra universalizar.Maurício Vieira
Qual foi a estratégia para atingir estas metas?
Fizemos parcerias com creches, instituições importantes do Movimento de Luta Por Creches. Então, logo no primeiro mês, em janeiro de 2017, já começamos uma conversa muito séria com o Movimento e os gestores das creches, entendendo um pouco como essa coisas aconteciam.
Como garantir que a creche parceira mantenha a mesma qualidade que as Umei’s?
Pagamos um valor per capita por criança. Quando chegamos, analisamos que o per capita era bem baixo. Definimos que seria interessante que a gente tivesse a maioria das crianças de 4 a 5 anos na rede própria. Com isso, ampliamos o per capita, aumentamos o valor para 0, 1, 2 e 3 anos. Começamos dessa forma. Outra coisa que foi feita foi melhorar o espaço. Analisamos e as creches foram reformadas, todas elas.
Qual a praticidade de ter uma rede própria e de creches conveniadas?
A oferta da educação se organiza com a rede pública e a privada. Acreditamos que todas têm o seu papel. As creches parceiras têm um conhecimento das realidades, das famílias. Elas têm uma proximidade, atendimento com tempo integral. Elas têm um lugar importantíssimo, mas estão na rede privada. A gente não tem pretensão de trazer todo mundo para a rede própria. Tanto que fizemos essa negociação com as creches parceiras. A gente acredita muito no acolhimento dessa instituição a essas crianças.
Como está a estrutura das escolas municipais?
É importante ter uma escola bonita. As crianças gostam de ter uma escola colorida, com parquinhos, que esteja com equipamentos bons e modernos. Acreditamos em instituições que estejam com laboratórios de informática e biblioteca bons. A biblioteca, para nós, é o coração da escola. Queremos que todas as escolas tenham uma biblioteca referência.Pintamos e reformamos todas as escolas. Foi um investimento de mais de R$ 64 milhões. Sendo que nós tivemos em torno de R$ 24 milhões nas creches parceiras. Eu diria que hoje nós não temos problemas de materialidade. Se tivermos algum problema, é um ou outro de adaptação. Acessibilidade, às vezes, é um problema relacionado a uma construção mais antiga, por exemplo.
Qual tem sido a estratégia da prefeitura para mitigar casos de bullying?
Algumas ações são eixos estruturadores. Um deles é a leitura. Temos um projeto o “Leituras em conexão”, que trabalha a dimensão da leitura nas bibliotecas em que o bullying é o foco. Mas temos outro paralelo que é o plano de convivência escolar. Esse foi desenhado em 2017. Criamos uma mesa permanente de discussão da convivência escolar com autoridades. Ministério Público, Defensoria, Promotoria, Conselho Tutelar, Guarda Municipal, secretarias de Segurança, Saúde, Políticas Sociais, Esportes e que a Educação é anfitriã da mesa. Uma vez por mês nos reunimos para discutir essa questão. Nós temos formação para os professores, um mapeamento que foi feito e que está sendo feito de episódios que acontecem nas escolas pela Guarda Municipal.
Maurício Vieira
A senhora percebe que hoje os professores têm desafios mais difíceis para ministrar uma aula?
Não penso que nos tempos anteriores a gente não tinha problemas. Eles existiam, mas, muitas vezes, não chegavam na escola pela forma rígida que a escola trabalhava. Os meninos iam embora, ou muitas vezes eram expulsos. Hoje a gente enxerga com olhar (de que) toda criança (deve estar) na escola. E todas gostando da escola. Agora, a nossa sociedade é muito violenta. Não estamos vivendo um momento de muita tranquilidade. Existe um fator preocupante que é a sociedade desvalorizando a instituição escola. Quando a sociedade a desvaloriza, ela não dá certo. Uma nação dá certo quando existe um projeto claro de educação que tem que estar plantado na realidade.
Como estão as condições de acessibilidade e a inserção de pessoas com deficiência intelectual?
A rede pública municipal é a única que atende a criança com deficiência. Todos os meninos da rede pública estão conosco. Temos a preocupação da acessibilidade física com essas obras de ampliação. Colocando elevadores e rampas. Isso é uma preocupação nossa. Temos uma legislação que coloca o monitor de inclusão com o aluno que tem a necessidade específica de mobilidade, alimentação e higiene.
Tivemos no ano passado uma greve histórica dos professores da educação infantil. Como está hoje a relação da prefeitura com os docentes?
Aquela greve foi triste pra mim, porque nós tínhamos uma legislação que estava na Câmara Municipal desde outubro de 2017 que constava todas as demandas postas. O pedido do sindicato era equiparação de carreira. E era impossível naquele momento. Porque as carreiras entraram diferentemente. A educação infantil com nível médio e o ensino fundamental com nível superior. Mas a lei que tínhamos na Câmara já previa entrada com nível superior. Estava tudo lá. Esse impasse foi muito ruim porque a gente observou que os professores não estavam bem informados. Aquela greve não trouxe uma melhoria de um diálogo. Ela mostrou que nós deveríamos melhorar a comunicação com a ponta.