Os egípcios aprovaram a nova Constituição do país em um referendo que terminou no sábado, informou o website do Partido Liberdade e Justiça, o braço político do grupo Irmandade Muçulmana. De acordo com os islamitas, 64% dos eleitores votaram favoravelmente à nova Constituição. A oposição, por sua vez, admitiu a derrota nas urnas, mas denunciou "fraudes", exigiu uma investigação e prometeu continuar combatendo a nova Constituição, o que deve prolongar o impasse político no Egito.
Os números divulgados pela Irmandade Muçulmana são preliminares. O resultado só deve ser conhecido amanhã. Se confirmada a vitória do "sim" no referendo sobre a Constituição, o resultado tende a fortalecer a posição do presidente Mohammed Morsi, eleito em junho. Morsi é ligado à Irmandade Muçulmana, agremiação que impulsionou a nova Carta magna.
Apesar da aprovação da Constituição por quase dois terços do eleitorado, a população ainda se mostra receosa quanto ao futuro do país. Eleitores a favor e contrários à nova Constituição reclamam do processo de elaboração e votação, feito às pressas em meio a uma queda de braço entre os poderes Executivo e Judiciário.
Em vez de unidade, o nascimento da chamada "segunda república" no Egito é marcado por suspeitas, discriminação e violência. A oposição acusa o governo de, com a nova Constituição, tentar impor a lei islâmica no Egito. Também acusa os muçulmanos de tentarem "monopolizar o poder".
"Eu não posso votar por uma Constituição enquanto o Tribunal Constitucional está sitiado e o Judiciário está paralisado", critica Mohamed Said, um advogado de 34 anos que estava na fila de votação ontem no distrito rural de Fayoum, ao sul do Cairo. "Os artigos da Constituição são bons, no geral, mas existem cláusulas dúbias, que são flexíveis e podem ser alteradas dependendo da interpretação", acrescenta.
A votação do sábado encerrou a segunda etapa do referendo, que começou na semana passada, quando cerca de 56% dos eleitores se mostraram favoráveis à nova Constituição. Mas, na ocasião, apenas 32% dos eleitores que poderiam participar do referendo foram às urnas. Nesta segunda etapa, a votação se concentrou em áreas rurais, que são dominadas pela Irmandade Muçulmana e outros grupos islâmicos conservadores.
A maioria das 17 zonas que votaram ontem aprovou a nova Constituição, em alguns casos com mais de 90% dos votos. Entre as únicas duas zonas que votaram pelo "não" está Monoufiya, a terra natal do ex-presidente Hosni Mubarak e um bastião de simpatizantes do regime deposto em fevereiro de 2011.
Em meio às recentes turbulências, o autoritarismo de Morsi tem desagradado alguns membros do seu próprio governo. Ontem, seu vice-presidente, Mahmud Mekki, renunciou. Embora a decisão já fosse esperada, porque a nova Constituição não prevê o cargo de vice-presidente, ele aproveitou a oportunidade para criticar sutilmente o governo. "Eu percebi algum tempo atrás que a natureza do sistema político não se encaixa com minha formação profissional de juiz", disse Mekki na sua carta de renúncia. As informações são da Dow Jones e da Associated Press.
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