Se não houver uma grande transformação nos fundamentos da atual política econômica do Brasil, corremos o risco de ter mais uma década perdida em nosso processo de desenvolvimento. Se houver mudanças apenas incrementais, de ajuste em ajuste caminharemos em direção ao atraso e à decadência econômica até o final dos anos 2010.
Desde 2012, a política econômica vem sendo construída e implementada através de uma sequência de decisões casuísticas e voluntaristas comandadas pela presidente Dilma Rousseff. Em geral, foram decisões inconsistentes do ponto de vista conceitual e desarticuladas do ponto de vista operacional. Sem uma visão de futuro, os resultados foram surgindo até mesmo no sentido contrário ao seu escopo inicial. Um desses resultados mais perversos tem sido o aumento da concentração social da renda e da riqueza entre os brasileiros. Uma concentração que já era historicamente recorrente, mas que tendeu a se ampliar a partir da elevação desproporcional das taxas de juros, da redução dramática da renda real e do emprego dos trabalhadores e da menor carga tributária incidente sobre os mais ricos.
A Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda está iniciando a divulgação de informações sobre a concentração da riqueza acumulada no Brasil tomando por base as declarações do Imposto de Renda da Pessoa Física. Dados de 2014 mostram que a parcela de 0,1 % mais rica detém 6% de todo o estoque de riqueza financeira e não financeira observado nas declarações. Trata-se da concentração patrimonial em benefício apenas de 27 mil declarantes. Em sequência, observou-se que 1% mais ricos têm 15% e 5% mais ricos detêm 28% (R$1,79 trilhão) da riqueza nacional.
Como reverter esse processo e recuperar o tempo perdido de uma economia que pode se tornar insolvente e deprimida, sem capacidade para criar oportunidades e esperança para os brasileiros que querem progredir e avançar?
Há pelo menos três grandes desafios a serem superados. Em primeiro lugar, não se pode subestimar o tamanho da crise e tratá-la como se fosse apenas uma questão de falta de confiança nos governantes. As raízes da crise são de natureza estrutural e refletem os impactos de um modelo de crescimento que se esgotou endogenamente. Enquanto isso, diariamente emergem centenas de desempregados nas principais metrópoles e centros urbanos industrializados, famílias que atingem os seus limites de endividamento e governos estaduais e municipais que se inviabilizam financeiramente.
Em segundo lugar, quando se trata de política econômica o tempo é cruel. Mesmo as políticas econômicas de curto prazo (fiscal, monetária, cambial) distribuem os seus impactos assimetricamente no tempo. Assim, decisões equivocadas tomadas no passado recente irão desdobrar os seus efeitos perversos ainda no presente estendido. E decisões que serão o pródromo do futuro terão as suas repercussões diluídas no porvir.
Finalmente, o maior desafio é o da renovação das ideias. Torna-se difícil olhar com leveza as experiências malsucedidas das decisões econômicas desde 2012, julgar com exatidão os fatores que as levaram a um retumbante fracasso e agir prontamente no sentido da construção social dos fundamentos de uma nova política econômica com base em ideias renovadas. Como dizia Keynes, “a dificuldade real não reside nas novas ideias, mas em conseguir escapar das antigas”.