Em Israel, Obama sinaliza mudança em diplomacia

Roberto Simon
24/03/2013 às 09:29.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:12

As expectativas estavam baixas quando o presidente Barack Obama chegou ao aeroporto de Tel-Aviv, na quarta-feira. Dois dias depois, no momento em que deixou Amã de volta para Washington, o debate entre analistas era se Obama havia lançado as bases de uma nova política externa para o Oriente Médio, marcadamente distinta da que teve em seu primeiro mandato. Vários estão convencidos de que a resposta é "sim".

A primeira visita oficial do presidente a Israel veio em meio a uma estranha coincidência de datas: a assinatura dos Acordos de Oslo, que lançaram as negociações de paz sob o princípio de "dois Estados para dois povos", está prestes a completar 20 anos; a invasão do Iraque, que - além da tragédia humana - acentuou a emergência geopolítica do Irã, fez 10 anos; e a guerra civil na Síria, a mais sangrenta crise da chamada "Primavera Árabe", chegou ao seu segundo aniversário. Nesses três eixos históricos da diplomacia americana na região - o conflito palestino-israelense, o papel do Irã e a estabilidade do mundo árabe - Obama emitiu sinais de mudança.

A fala do presidente meio grisalho a estudantes israelenses, na semana passada, difere na forma e no conteúdo do discurso que fez o Obama recém-eleito na Universidade do Cairo, em 2009 - episódio tido como o "marco inicial" de sua relação com o mundo islâmico em geral. "Ver um presidente americano citando o Alcorão emocionou muita gente. Mas hoje é preciso reconhecer que aquilo foi um erro tático para o processo de paz", disse ao Estado Abdallah Schleifer, professor emérito da Universidade Americana do Cairo, que estava numa das primeiras fileiras para ouvir Obama.

Do outro lado, o pronunciamento aos jovens israelenses foi "politicamente brilhante", afirma o acadêmico egípcio, pois mirou os principais obstáculos ao retorno das negociações: a opinião pública israelense e setores radicais pró-Israel nos EUA.

No Cairo, Obama adotou a estratégia da pressão sobre o governo israelense, advogando o fim da construção assentamentos e uma solução com base nas fronteiras pré-1967. Somada às desavenças com Netanyahu, a posição dura lhe rendeu o status de líder americano mais impopular em Israel nas últimas décadas. As construções só aumentaram, apesar de Obama, e em 2011 o premiê israelense foi aplaudido de pé no Congresso dos EUA.

No discurso da semana passada, o foco migrou dos assentamentos para a criação do Estado palestino e o fim da ocupação. O presidente não pediu uma moratória na expansão de Israel em terra árabe (limitou-se a dizer que ela "não é apropriada" ), mas usou palavras fortes ao insistir que israelenses devem aceitar o Estado palestino.

"Coloquem-se no lugar deles (dos palestinos), vejam o mundo por meio dos olhos deles", disse, no imperativo, à plateia de Jerusalém.

Entretanto, poucos analistas acreditam em um retorno imediato ao diálogo. Dave Hartwell, da consultoria IHS Janes, aponta que tanto Netanyahu, à frente de um governo polarizado entre um campo pró-negociação e outro pró-colonos, quanto o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, estão "cada vez mais fracos internamente".

Ao recolocar a questão do processo de paz no centro do debate, Obama lutaria, principalmente, contra a perda de influência de Washington em um Oriente Médio em rápida transição. "Os EUA que abandonam o conflito árabe-israelense à sua própria sorte não merecem ser chamados de ‘superpotência’. Abrir mão do papel principal nesse teatro chamado ‘processo de paz’ equivale a uma declaração de falência da política externa americana", escreveu o israelense Akiva Eldar no site Al-Monitor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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