Em reunião presencial, vereadores divergem sobre reabertura do comércio em BH

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
13/04/2020 às 13:17.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:15
 (Reprodução)

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A Câmara Municipal de Belo Horizonte realizou uma reunião presencial na manhã desta segunda-feira (13) para discutir a reabertura do comércio na capital. No encontro, transmitido pelo site da casa, houve divergência entre os parlamentares sobre uma possível flexibilização das medidas de isolamento social impostas pela prefeitura. A capital registra 351 casos de Covid-19 e tem seis mortes confirmadas. Dos 41 parlamentares da casa, 12 compareceram à reunião. Entre eles, a maioria defendeu a flexibilização. 

A reunião foi conduzida por Jair di Gregório (PSD), um dos sete vereadores que testaram positivo para o novo coronavírus e o parlamentar que teve o quadro mais grave da doença. O vereador defendeu uma flexibilização responsável da abertura do comércio. Por decreto, desde semana passada, todos estabelecimentos não essenciais devem ficar fechados.

“Temos que bater palmas para o prefeito, porém chegou o momento de dizer que defendo o que a população está defendendo”, disse o vereador, sugerindo uma flexibilização do funcionamento do comércio com o uso de máscaras, álcool em gel e outras regras. Segundo ele, durante uma live no Facebook, seus seguidores pediram a reabertura dos estabelecimentos. 

O líder do governo na Câmara, Léo Burguês (PSL), que havia sido o autor do requerimento para a reunião, se mostrou indignado ao ver que a discussão seria conduzida por Di Gregório e se retirou do plenário. Ele convidou então representantes da Prefeitura de Belo Horizonte e do comércio da cidade para uma outra reunião, que acabou sendo realizada em outro espaço da Câmara, de forma paralela à reunião do plenário. A intenção, segundo ele, foi levantar as propostas das várias entidades representativas para o enfrentamento à pandemia e à crise econômica. 

O posicionamento de Di Gregório foi acompanhado de outros vereadores, como Wagner Messias Preto (DEM), Fernando Borja (Avante) e Juliano Lopes (PTC). Irlan Melo, que também foi infectado pelo coronavírus, endossou a flexibilização. Vários usaram os microfones (alguns deles sem a máscara) para dizer que funcionários estão sendo demitidos, que os comerciantes não estão conseguindo pagar as contas e a classe média precisa de um respaldo do governo.

“Qual é o problema em haver um agendamento no salão de beleza? Qual é o problema de os restaurantes ficarem abertos, com uma distância de três ou quatro metros entre as pessoas? Qual é o problema se todos estiverem usando máscara e álcool gel? Precisamos conversar sobre isso porque daqui a pouco a prefeitura não vai ter dinheiro para os mais pobres e a classe média já está pagando o pato”, disse Juliano Lopes.

Fernando Borja defendeu que toda a população seja testada, para que as pessoas que já venceram o vírus possam voltar aos trabalhos. Segundo ele, a Alemanha estaria fazendo 70 mil testes por dia para garantir o retorno ao trabalho de forma gradual. Porém, o Ministério da Saúde brasileiro já garantiu que a prioridade no país para os testes são os casos mais graves e os profissionais da saúde. 

Um documento com propostas de flexibilização do comércio foi encaminhado à presidente da casa, Nely Aquino (Podemos), que não estava presente na reunião – ela também testou positivo para a doença. Entre as propostas, está a recomendação à toda população de uso de máscaras, a autorização para abertura de vários segmentos do comércio e a permanência da suspensão de aulas, shows, cinemas, shoppings, entre outros. 

Pela manutenção do isolamento

Alguns vereadores que defendem o isolamento social não compareceram à reunião desta segunda. Mas dois que estavam na Casa tomaram a palavra para dizer que essa não é a hora certa de mudar as regras do isolamento social na cidade: Dr Bernardo Ramos (Novo) e Gabriel Azevedo (Patriotas).

O médico Bernardo Ramos, que também testou positivo para a Covid-19, deixou claro que é a favor do isolamento social e disse que, neste momento em que as pessoas estão em casa, o sistema de saúde ganha tempo para verificar o que deu certo em outros países e testar drogas (como a cloroquina, a vacina BCG e a ivermectina).

“Não é uma gripezinha, é uma doença séria não só pela letalidade, mas pelo tanto que consegue imobilizar nossa força de trabalho. É preciso ter muita cautela, temos de ter uma discussão muito ampla sobre como sair do isolamento, que não é agora, porque estamos nos aproximando do pior momento”, afirmou o vereador, lembrando que não há testagem suficiente para saber a real situação da epidemia no Brasil.

Gabriel Azevedo (outro que testou positivo) foi duro com os colegas durante sua fala. Reclamou de ver parlamentares e funcionários sem máscaras e luvas e afirmou que a reunião poderia ter sido feita de maneira virtual, da mesma maneira com que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais tem feito.

“Vereador não tem que achar nada. Tem que ouvir especialistas, ciência, dados”, disse Gabriel, pedindo que haja uma reunião de líderes da Câmara para discutir o funcionamento da casa antes que os vereadores possam debater o assunto com a sociedade.

O vereador lembrou que não tinha sintomas da doença quando fez o teste para Covid-19, o primeiro a dar positivo entre os parlamentares da casa. “Só depois me senti muito mal, com dor, febre e tosse. Muitas pessoas podem não passar por isso, mas também tem muita gente morrendo e outras brincando com isso. Agora não é hora de disputa política, mas de olhar para os dados”.

O vereador Pedro Patrus (PT) foi contrário à realização da reunião presencial, mas a acompanhou pela transmissão on-line. “Uma irresponsabilidade esse tipo de reunião. Apesar dos inúmeros elogios ao prefeito Alexandre Kalil, o que ficou claro é que esses vereadores estão contra a cidade de Belo Horizonte. Eles querem ir contra o que está surtindo efeito positivo no mundo, em nome da defesa da economia”.

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