Em sua visita à Alemanha neste domingo (24), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vai liderar uma delegação de empresas norte-americanas que esperam conquistar novos mercados no exterior. Obama deve tentar concluir uma de suas questões inacabadas como presidente - o tratado de livre comércio do transatlântico. Autoridades em Washington e em Bruxelas pretendem definir pontos-chave do acordo antes do final do ano, já que o novo presidente dos EUA e as campanhas eleitorais em vários países europeus podem complicar as negociações.
Os defensores do acordo transatlântico de livre comércio, o Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP), argumentam que a redução das tarifas e a padronização de regras poderiam acelerar o comércio internacional, em um momento de incertezas na economia global. Segundo disse Obama, no início das negociações, há três anos, "novo crescimento e empregos dos dois lados do Atlântico".
Entretanto, essa visão do TTIP não conquistou o público, especialmente na Alemanha. Em novembro, mais de 100 mil pessoas protestaram em Berlim contra o pacto proposto. Neste sábado, a polícia estima que 35 mil pessoas marcharam em Hannover. Os organizadores estimam que a manifestação contou com 90 mil pessoas. Sindicatos, nacionalistas e ambientalistas fazem campanhas contra o acordo, alegando que o tratado pode reduzir os salários, além de prejudicar a proteção a consumidores e padrões ambientais.
As discussões, que devem ser retomadas na segunda-feira em Nova York, são criticadas também pelo sigilo em que acontecem. Os legisladores de cada país só têm permissão para analisar os rascunhos dos documentos em salas especiais e não podem falar sobre os documentos com especialistas, com a mídia ou com os eleitores.
A comissário de Comércio da União Europeia, Cecilia Malmstrom, propôs a criação de sistema judicial transatlântico para mediar disputas entre investidores e governos nacionais. Os críticos, contudo, afirmam que esse sistema poderia colocar os interesses das empresas à frente dos governos democraticamente eleitos.
O braço executivo da União Europeia também tenta promover os benefícios do acordo, sugerindo que o TTIP pode aumentar a demanda por produtos europeus, como queijo, embutidos, vinho, azeite e chocolate. "As elevadas tarifas aos consumidores dos EUA - que superam 30% - fazem que esses produtos sejam pouco acessíveis aos americanos, o que dificulta as exportações europeias", diz o site da entidade.
"Um dos principais equívocos é o entendimento de que estamos fazendo um favor aos americanos", afirmou Juergen Hardt, legislador alemão e coordenador do governo nas negociações do tratado. "Como um país exportador, onde grande parte dos empregos depende das exportações, a Alemanha tem muito interesse no acordo. Por isso acredito que estaremos fazendo um favor a nós mesmos em aceitar o pacto", completou.
Em um vídeo, a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que tudo depende dos avanços na transparência das negociações. "Nós não estaremos deixando nossos padrões para trás, mas assegurando os que temos hoje na Europa, quanto ao ambiente e à proteção ao consumidor", disse ela.http://www.estadao.com.br