Enderson Moreira relembra início de carreira, fala de sua trajetória e faz planos para o futuro

Lucas Borges*
lborges@hojeemdia.com.br
03/09/2016 às 20:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:41
 (Henrique André)

(Henrique André)

Aos 44 anos, Enderson Moreira volta a Belo Horizonte para, talvez, a missão mais difícil de sua trajetória como técnico. Após passagens pelas categorias de formação de Atlético, Cruzeiro e América, e outras experiências por grandes times do futebol brasileiro, Enderson volta a Minas para tentar salvar o Coelho do rebaixamento.

Com uma origem que aliou o trabalho nas categorias de base dos três grandes da capital com o de treinador de futsal, o técnico teve que romper barreiras impostas pelo meio do futebol. O estilo estudioso, juntamente ao fato de não ter sido jogador profissional, levantou a desconfiança de vários dirigentes no início de sua trajetória como técnico. Entretanto, o sucesso na base, especialmente no Cruzeiro, fez com que alçasse voos maiores. 

A primeira experiência de Enderson à frente de uma equipe profissional aconteceu em 2010, com o Sub-23 do Internacional. De lá pra cá, o treinador colecionou bons trabalhos como no Goiás e no Grêmio, e passagens discretas, no Santos, Fluminense e Atlético-PR. 

O sucesso no América pode significar não somente a redenção do Coelho na temporada, mas também a volta do mineiro à prateleira de cima dos treinadores brasileiros. Ele falou sobre o desafio e o momento.

Qual é o caminho para o América sair dessa situação difícil?

Infelizmente o América está correndo atrás de uma maneira desenfreada. A gente percebe que a equipe está muito equilibrada, mas é uma dificuldade enorme por tudo que passou. Não é um grupo que está iniciando o campeonato agora, é uma equipe que tem um lastro, histórico, momentos que a equipe encontrou dificuldades, sofreu algumas derrotas duras, que tiraram a confiança dos jogadores. Hoje pagamos um preço por isso. O mais importante é que a equipe vem mostrando sinais de evolução, isso para nós é um primeiro passo, mas claro que a gente precisa de mais.

Você já pensa no planejamento de 2017?

Eu sempre gosto de respeitar meus contratos. Eu tenho compromisso com o América até o dia 30 de junho. Um dos papéis em que eu posso contribuir muito é principalmente nessa possibilidade, independentemente de ser na Série A ou na Série B, de ajudar o América a formar uma equipe extremamente competitiva para 2017. A gente já tem uma base muito interessante, jogadores que têm um perfil muito bom, e é claro que com a chegada de mais alguns atletas, essa equipe pode se transformar muito.

Como você avalia sua trajetória pelos clubes mineiros?

O maior destaque, sem dúvida nenhuma, foi a trajetória que tive nas categorias de base. O Ipatinga foi uma experiência curta no time principal. Sem dúvida nenhuma as equipes mineiras – Atlético, Cruzeiro e América – fazem parte do meu período de formação como treinador. É um período em que fiz algumas experiências, tentei, aprendi, apanhei um pouco em alguns aspectos.

Ano que vem completam 10 anos da conquista da Copa São Paulo de Júnior pelo Cruzeiro, qual a importância dessa conquista para a sua carreira?

Foi uma conquista importante para a base, porque é um clube que investe muito na formação de atletas, e até então não tinha tanto reconhecimento, principalmente em relação a conquistas.

Qual foi a importância do futsal para a sua formação como treinador?

O futsal foi muito importante para mim, porque foi o meio em que eu encontrei para manter viva a possibilidade de me tornar um treinador de futebol. Porque nas categorias de base, naquela época principalmente, os clubes viviam uma situação muito complicada, não só no time profissional, mas nas categorias de base também. A gente trabalhava, e muitas vezes não conseguia receber. Eu trabalhava a noite com futsal, no Colégio Magnum, e isso me proporcionava durante o dia, mesmo não recebendo em algum clube, permanecer trabalhando. Foi extremamente importante.

O que faltou para que tivesse mais sucesso nas grandes equipes?

O que interfere sempre no treinador é ansiedade do dirigente, do torcedor, de a gente conquistar alguma coisa, algo que apenas um vai conquistar. Então, eu não vejo que a gente não teve êxito, mas sim que essa ansiedade por parte do torcedor, em cima de um título, que o Grêmio até hoje não conquistou. Não foi culpa do meu trabalho, foi culpa do futebol que vai sempre privilegiar um que vai ser o campeão.
Os trabalhos foram bem feitos, os resultados foram condizentes com um profissional de qualidade, mas a ansiedade as vezes acaba atrapalhando, a gente entende, apesar de não concordar.

Não ser um “medalhão” atrapalha?

Isso tudo influencia. Não ter sido um atleta profissional influencia muito. O meu contato com os dirigentes é muito recente. As vezes um ex-atleta tem essa vantagem, porque de alguma forma ele já passou pelo clube, já teve uma vida profissional ali, conquistas, um relacionamento mais próximo.

Se sente injustiçado pela saída do Santos?

O futebol é injusto por natureza. Nós acabamos de sair de um jogo contra o Vitória em que se estivéssemos empatando no primeiro tempo já seria extremamente injusto, e perdemos. Nem sempre o futebol faz justiça com aquilo que você tem de capacidade, condição[/ENTR_RESP]. 

Como foi o contato com o Ronaldinho Gaúcho no Fluminense?

Sempre foi ótimo, nunca tivemos qualquer tipo de problema. O Ronaldo sempre cumpriu bem aquilo que foi determinado. É o que acontece com vários atletas, os anos passam, e as vezes o sacrifício é muito grande para conseguir se manter em alto nível. As vezes chega um ponto que o atleta quer continuar, mas não quer continuar pagando o preço necessário. A gente sabe que o Ronaldo tem uma vida extremamente vitoriosa, ele mesmo se cobrava muito do seu rendimento, daquilo que ele queria fazer, ele não estava conseguindo mais ter o mesmo nível de regularidade, de aproveitamento, de capacidade técnica. Chegou em um ponto que depois da minha saída, ele mesmo reconheceu um pouco isso. É sempre complicado um atleta da capacidade dele, que gosta de jogar futebol, que se sente a vontade nesse espaço, de alguma forma, entender que o tempo está passando, que o fim da carreira está se aproximando. Havia uma expectativa, mas infelizmente dentro de campo, a equipe talvez não tenha conseguido de favorecer o estilo de jogo do Ronaldo naquele instante.

Qual mensagem você pode passar para a torcida americana?

O que eu posso falar para o torcedor americano é que a gente lamenta muito esse momento. Claro que eu gostaria de chegar ao clube em uma outra situação, com perspectivas diferentes, Mas colocar para eles (torcida) que às vezes um momento ruim, um passo atrás, serve principalmente para que o clube possa dar um salto para frente. É importante verificar o que foi feito de errado, o que pode melhorar, principalmente de continuar firme no seu projeto de participar sempre da elite do futebol brasileiro

(Com a supervisão de Alexandre Simões)

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