Ideia é que prova seja aplicada em 180 cidades, deixando o processo mais acessível, diz governo; mudança já desperta polêmica entre professores e "concurseiros"
Ideia é que prova única seja aplicada em 180 cidades, deixando o processo mais acessível e democrático (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Uma prova unificada, de ampla concorrência, para todos os concursos federais do país: essa é a proposta do Concurso Nacional Unificado, que — como o próprio nome diz — promete usar uma só prova para preencher milhares de vagas em órgãos públicos federais, como os ministérios, autarquias. O novo método de concurso federal já foi batizado informalmente como o "Enem do emprego".
A meta é ousada e prevê que o CNU já seja aplicado em fevereiro do ano que vem para preencher cerca de oito mil vagas. Segundo a proposta do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), a aplicação do concurso único aconteceria ao mesmo tempo em 180 cidades brasileiras. Mal foi anunciada, a mudança já desperta polêmica entre professores e também entre os chamados "concurseiros".
O cronograma divulgado pelo MGO também é apertado e recebe críticas:
Para o diretor de Mentoria e Coach e professor do Gran Cursos de Brasília, Fernando Mesquita, o tempo é curto para executar tudo que o governo federal se propõe a fazer. Mas ele acredita que esse modelo pode ser aperfeiçoado atender às necessidades do governo.
“Em uma tacada só consegue preencher 8, 10, 15, 18 mil vagas que sejam. De uma certa forma, por ter mais polos, por ser uma prova com amplitude maior, ela pode melhorar a entrada de candidatos. Não significa que vá ser, falta uma definição mais clara do governo federal a respeito de como isso vai acontecer e, para uma prova cuja etapa inicial está prevista para dezembro, as coisas estão meio em cima.”
Mais igualdade, mas uma só oportunidade
Uma das principais vantagens do Concurso Nacional Unificado defendida pelo governo federal é a ampla acessibilidade. Por serem realizadas na mesma data em todas as regiões do Brasil, a prova unificada vai permitir que candidatos de todos os cantos do país tenham a mesma oportunidade. Ideia que o professor Fernando compartilha, mas ele levanta um ponto negativo para os candidatos.
“Existe a possibilidade de essa prova beneficiar o acesso de candidatos de todo país, mas isso não significa que sejam só flores para os candidatos a concursos. O modelo anterior, em que cada órgão realizava sua prova, ele acaba sendo muito mais interessante para o concurseiro profissional, por que se ele não vai bem em uma prova, pode fazer uma prova que vai acontecer dali um, dois meses, de outro órgão. Nesse modelo, o que está parecendo é que dentre aquelas provas do governo federal, o candidato vai ter que escolher uma, o que vai impedir que ele possa concorrer a outras oportunidades.”
Segundo o professor, candidatos mais bem preparados, com acesso a melhores escolas e com mais tempo e qualidade de preparação para as provas, acabam tendo resultados melhores. “Esse candidatos acabam conseguindo ‘tomar’ as vagas de candidatos que vêm de estados menos desenvolvidos — com os das regiões Norte e Nordeste.”
Mas, para o professor, a ideia de unificar os concursos não altera em nada o desempenho deles nas provas. “Isso poderia acontecer mesmo que o concurso não fosse unificado. De uma parte existe a possibilidade de eu fazer uma prova e concorrer no mesmo momento a cargos em qualquer órgão, mas, ao mesmo tempo, eu consigo fazer provas que não havia pensado ", avalia.
Como deve funcionar
A exemplo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) criado em 1998 — cuja nota é usada por centenas de faculdades e universidades de todo o país para substituir o vestibular tradicional — a intenção deste concurso é criar algo parecido, mais acessível e democrático.
Segundo o Ministério da Gestão, a adesão dos órgãos do governo federal à novidade é voluntária e eles têm até o dia 29 de setembro para manifestarem interesse em participar.
A proposta é que a avaliação seja dividida em duas partes, no mesmo dia. A primeira com provas objetivas com matriz comum a todos os candidatos, e a segunda com provas específicas e dissertativas por blocos temáticos.
A previsão é que os resultados gerais da primeira sejam divulgados até o final de abril e os cursos de formação já começam entre junho e julho de 2024.
Desemprego no Brasil
O Brasil tem hoje cerca de 8,5 milhões de desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, feita pelo IBGE no segundo trimestre deste ano. Isso corresponde a 7,9% dos brasileiros.
Foram esses números e um cenário de crise econômica pós pandemia que fizeram com que Thiago Albuquerque deixasse de lado a carreira de nove anos como contador e voltasse à sala de aula. Formado em contabilidade e trabalhando no negócio da família desde que saiu da faculdade, Thiago viu o cenário econômico mudar em 2020.
“Muitas empresas tendo que fechar suas portas, muitas pessoas sendo mandadas embora, muitos empresários desesperados sem ter o que fazer. E a contabilidade depende de empresas abertas, funcionários trabalhando para conseguir se manter também. Foi um baque pra gente, porque a gente trabalha cuidando de empresas e se as empresas fecham a gente não tem empresas para cuidar.”
O medo causado por essa instabilidade fizeram o contador repensar a profissão.
“Eu tenho amigos na área policial e eles me incentivaram a estudar. Foram me falando da carreira e também da estabilidade. Estamos em pandemia, mas temos nossa estabilidade de receber o salário todos os meses, não tem risco de ser mandado embora e isso foi mudando a minha cabeça e eu comecei a estudar.”
Distribuição de cidades por região:
*Com informações da agência Brasil 61
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