O caso da cubana que abandonou o Programa Mais Médicos em Pacajá, município do Pará, e foi abrigada em Brasília pelo DEM, partido de oposição, não representa ainda uma ameaça à iniciativa do governo Dilma Rousseff para levar atendimento à saúde das populações pobres de pequenas cidades do interior do país e na periferia de grandes cidades; entre elas, Belo Horizonte.
Há dois dias, a liderança do DEM na Câmara dos Deputados protocolou um pedido de refúgio para a médica Ramona Matos Rodriguez no Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), ligado ao Ministério da Justiça.
O partido quer causar embaraços ao governo e agradar à Federação Nacional dos Médicos – que já teria oferecido um emprego administrativo a Ramona enquanto ela estiver aguardando a decisão – e a todos os que se opõem ao programa, seja por razões profissionais ou políticas.
Dificilmente Ramona tem o mesmo objetivo do DEM. Pelo que se informou, ela quer se juntar a um cubano que mora em Miami, e que seria seu marido, tanto que logo que chegou a Brasília, vindo de Pacajá, solicitou a concessão de visto à embaixada dos Estados Unidos. Este país tem um programa especial para permitir que médicos cubanos entrem em seu território, do qual se aproveitaram alguns que trabalhavam na Venezuela.
O programa do governo brasileiro estará em dificuldades se Ramona for imitada pela maioria dos 5.378 médicos cubanos. Eles hoje representam 80,7% dos participantes do programa. Não é o que acontece, por enquanto.
Segundo o Ministério da Saúde, desde que se iniciou o programa, há sete meses, apenas 22 médicos cubanos foram desligados, dos quais 17 por causa de problemas de saúde, deles ou de parentes, e cinco por motivos pessoais.
É um trabalho árduo feito por mais de 6.600 médicos participantes do programa. Eles trabalham em 2.166 cidades e 28 Distritos Sanitários Indígenas. Tanto que 102 médicos brasileiros e estrangeiros, incluindo os 22 cubanos – ou 23, com Ramona – já desistiram. Até agora, segundo o Ministério da Saúde, todos os estrangeiros desligados do programa tinham voltado a seus países.
Ramona afirmou, em entrevista, que desistiu porque se sentiu enganada pelo governo cubano, que não lhe disse que o Brasil estaria pagando R$ 10 mil pelo serviço dos médicos estrangeiros. Foi informada apenas que receberia US$ 400 por mês no Brasil e US$ 600 em Cuba depois que terminasse o contrato. “Eu até achei o salário bom, mas não sabia que o custo de vida aqui no Brasil seria tão alto”, disse a médica.
É sempre condenável enganar pessoas. Em Cuba, no Brasil, nos Estados Unidos, em qualquer lugar. Do mesmo modo, tentar prejudicar, por motivos políticos ou egoísticos, 23 milhões de moradores de regiões vulneráveis que, conforme o Ministério da Saúde, estão sendo atendidos por esse programa.