A desbocada e polêmica atriz Norma Bengell lança biografia

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
27/05/2013 às 09:06.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:35

"Esperem tudo", avisa Norma Bengell ao Hoje em Dia, quando perguntada se sua autobiografia ("Coisas que Vivi", Editora NVersos, prevista para o próximo semestre) será do tipo "sem censura", detalhando fatos polêmicos de sua trajetória – e que não foram poucos.

Protagonista do primeiro nu frontal do cinema brasileiro, em "Os Cafajestes" (1962), a atriz e diretora carioca adianta que o livro não fugirá ao que ela foi e é: "intensa, desbocada e transparente", tendo como base textos escritos ao longo de seus 77 anos.

Sensualidade

"Falar nunca foi problema para mim", diverte-se uma das musas da cinematografia nacional, que chamou a atenção pela primeira vez na chanchada "O Homem de Sputnik", em 1959, ao lado de Oscarito, quando já exalava sensualidade ao imitar Brigitte Bardot.

Norma viveu mulheres fortes e sedutoras no cinema. Não é difícil entender o porquê. "Eu não fazia muito o tipo femme fatale. Sempre fui mais espontânea, o que me torna naturalmente sedutora. Os tempos de opressão nunca me assustaram porque sou uma mulher forte".

Ela rompeu "barreiras duríssimas" das décadas de 1960 a 1970, entre abortos, casamentos, separações, ponte Brasil-Europa, música, teatro e cinema. E resume esses anos de intensidade com a afirmação: "Sempre dei minha cara para bater!".

Por ter tirado a roupa em "Os Cafajestes", ganhou muitos inimigos, até mesmo em Belo Horizonte, quando foi ameaçada pela TFP (Tradição, Família e Propriedade, organização católica tradicionalista). Apesar da perseguição, não titubeia em dizer que sente muito orgulho do filme de Ruy Guerra, principalmente por tê-la lançado internacionalmente.

"Aprendi muito durante as filmagens, como técnicas e um novo jeito de atuar... Fui convidada pelo (ator e produtor) Jece Valadão e aceitei de cara!", lembra.
Sobre a famosa cena de nudez, não teve medo porque Guerra garantiu que a cortaria caso não gostasse do resultado.

Palma de Ouro

"Mas eu gostei, achando-a natural. Não imaginei que estava destruindo a moral da época e fiquei arrasada quando proibiram a exibição", recorda. Teve melhor sorte com "O Pagador de Promessas", que foi lançado no mesmo ano e ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

"Eu percebia o potencial do filme, mas ninguém imaginava a repercussão internacional que teria... Cannes nos aplaudindo foi incrível, chiquérrimo, um orgulho que trago em minhas memórias! Eu me consagrei uma estrela internacional", salienta, às gargalhadas.

Atriz não consegue trabalho após ter sofrido uma queda em casa

O ano de 2013 marca os 50 anos do primeiro encontro de Norma Bengell com aquele que seria, pouco tempo depois, o seu marido: o ator italiano Gabrielle Tinti. Os dois atuaram juntos em "Noite Vazia" (1964) e foram morar na "Velha Bota’, onde a atriz fez vários filmes.

"Aprendi muitas coisas nestes períodos em que morei na Itália, principalmente o significado da palavra saudade, e isso me fazia sempre voltar. Saí e voltei ao Brasil muitas vezes", registra Norma, que cita "O Mafioso" como um dos trabalhos mais importantes dessa fase.

Ao ser perguntada se Tinti foi o grande amor de sua vida, ela acena positivamente. "Gabi e eu vivemos momentos intensos juntos. Casamos dentro do estúdio da Vera Cruz. Até meu casamento foi no cinema!", sublinha Norma, que teve como melhor amigo italiano o diretor Pier Paolo Pasolini.

Cadeira de rodas

Com participações cada vez mais raras no cinema e na televisão, a atriz voltou à mídia em 2011, quando foi noticiado que a musa convivia com problemas financeiros por estar doente, presa a uma cadeira de rodas, após escorregar num tapete de sua casa, sofrer um tombo e ter que operar a coluna e o cotovelo.

"Vou levando a vida, mas não é fácil para o artista cair no esquecimento. Nós, artistas, nos doamos tanto ao público, à mídia... Há também os limites físicos, que vão surgindo com o passar do tempo, e aí vêm altíssimas despesas com acompanhamento médico e fisioterapia, além dos limites naturais da idade", lamenta.
 

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