A ditadura sob um prisma diferente

Pedro Artur - Hoje em Dia
10/06/2014 às 07:46.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:56
 (Divulgação)

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Na ditadura argentina, tornou-se prática comum tirar crianças dos pais militantes e entregá-las à adoção. E a inspiração pode ter vindo do Brasil, onde agentes sequestraram e torturaram filhos de envolvidos com a oposição ao regime. Relato que calça o livro “A Menina que Desenhava com Amoras” (Editora Thesaurus, R$ 30), da educadora Elinete Wanderley Paes Miller, que será lançada nesta terça-feira (10), às 19 horas, na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa.
 
Aos 77 anos, a escritora, militante estudantil à época da ditadura no Brasil, acompanhou três casos de crianças vítimas do regime. “Acompanhei a história e tristeza desses casos, o sofrimento deles e de outras pessoas, e não pode se calar essa página que ainda sangra. Não pode ficar esquecida, ressalta Elinete, que foi perseguida pela repressão.

Segundo ela, esse seria o primeiro livro, no país, a adotar essa abordagem da ditadura, que derrubou o então presidente João Goulart, em 1º de abril de 1964, e que durou 21 anos. “Criei uma ficção a partir de fatos reais, em que uma menina de quatro anos é presa e torturada. Isso era feito para se obter a confissão do pai. Essa menina, depois, desaparece, pois muitas crianças foram exiladas e em suas fichas eram escritas as palavras ‘subversivas’ e ‘comunistas’. Adulta, mora em Paris e, com a descoberta das ossadas em Perus, o tio a chama para procurar o corpo do pai. Ela entra em estágio de amnésia. Não queria lembrar, o ser humano cria mecanismos de não lembrar”, explica Elinete Miller, que trabalhou na Fundação Educacional de Brasília e, como professora, atuou como docente na disciplina de Psicologia da Educação.

Elinete Miller considera fundamental trazer à luz essa história, especialmente para as novas gerações. “Espero que os jovens leiam. E que, ao lerem, possam dizer: ‘Golpe militar e ditadura, nunca mais’. Que os jovens tenham consciência do que foi esse período, porque a maior dor que eu tive, quando jovem, era estar com meus livros na universidade e ver jovens da minha idade com metralhadora em cima de mim, dizendo: ‘comunista, vagabunda’, rememora.

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