A luz de Daniel Senise

Thais Oliveira - Hoje em Dia*
06/09/2015 às 11:52.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:39
 (Eny Miranda/Divulgação)

(Eny Miranda/Divulgação)

  RIO DE JANEIRO – “O que um pintor contemporâneo pode fazer ainda com esta linguagem tão antiga que é a pintura?”, indaga Daniel Senise. A resposta, o artista visual trata de fornecer na mostra inédita “Quase Aqui”, em cartaz até 23 de outubro no Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro. Há cerca de 30 anos dedicando-se à arte, o carioca, mais uma vez, confirma porque é considerado um dos maiores expoentes oriundos da chamada “Geração 80”.   Logo na entrada, um painel de três metros de altura por 12 de largura chama a atenção. Sem título, a curiosa instalação é feita com fita isolante. Estrutural como sempre, fazendo ligação com a arquitetura, Senise quis, com a obra, dar ao visitante a impressão de ver uma peça de madeira. Tal efeito foi possível devido à luminosidade produzida especialmente para a instalação.   A luz, por sinal, marca toda a exposição e é como uma tinta utilizada pelo artista para dar ares contemporâneos à pintura. A mostra, vale explicar, em tese não é exclusivamente de pintura e, sim, concebida a partir desta arte milenar.   “Ao contrário dos artistas que a gente vê, o Daniel trabalha de forma silenciosa; tem uma obra que se aproxima da poesia e exige esforço para ver e ler devido às muitas sutilezas”, considera Alberto Saraiva, que divide a curadoria com Flavia Corpas.   “QUASE AQUI” No trabalho subsequente, a memória começa a ganhar forças para chegar ao ápice no desfecho da exposição. São quatro tampos de mesa de madeira retirados do ateliê de Senise após anos de uso.   Lixa e massa corrida foram usadas para restaurar as “telas”, que receberam, ainda, uma camada de tinta a óleo aplicada com spray.   No meio, retângulos perfeitamente brancos induzem o olhar para a marginal, onde está guardada a memória. “Em geral, na pintura, o sujeito está rodeado pelo fundo. Aqui, onde, teoricamente, seria o fundo (do quadro), está toda uma presença, existência, registros, anotações. Chamo este trabalho de ‘Quase Aqui’ porque fiquei pensando: ‘onde é que está a pintura?’ Respondo: ela está ‘quase aqui’”, explica o artista.   SURPREENDENTE A pintura também quase aparece na instalação “Caminhante”. Aqui, mais uma vez, a estrutura (paredes que foram derrubadas) é destaque e a novidade está à margem. “Esta era uma sala toda fechada. Elas (as janelas) nunca apareceram porque foram lacradas na construção”, esclarece Saraiva.   Segundo ele, Senise destruiu as paredes do local (que já abrigou a Estação Telefônica Beira-Mar, inaugurada em 1918) para ver a luz de “Caminhante Sobre o Mar de Névoa”, do alemão Caspar David Friedrich (Alemanha) – um dos mais relevantes artistas do romantismo no século 19. Nesta tela, um homem está de costas olhando para o horizonte.   Conforme o artista visual, conseguir iluminação semelhante à de Friedrich foi o maior desafio da instalação. “É uma luz que tem uma linha do horizonte, que é simples, porém, às vezes, é difícil fazer coisas tão simples”, diz Senise. Depois de algumas experimentações, o resultado parece ter valido a pena. Afinal, como não chamar de pintura aquela luz, que pode ser tanto do amanhecer quanto do entardecer?   SENSORIAL A videoinstalação “Mundial” ocupa a galeria 3. Na sala escura, está refletida uma fotografia do quarto onde Senise cresceu, que foi mantido exatamente igual por cerca de 30 anos. No espaço, há limitação para o ingresso dos visitantes. De um em um, é autorizada a aproximação da foto. No entanto, o visitante é levado a parar antes de completar o trajeto, já que a imagem desaparece em seguida. O efeito é produzido devido a um software feito para reconhecer a presença humana.   Assim, unindo duas frentes da exposição, memória e iluminação, a visita chega ao fim no quarto pavimento do Oi Futuro Flamengo. A pena é não ter mais andares no edifício. Certamente, engenhosidade para ocupá-los não faltaria a Senise.   Além Disso A exposição “Como Vai Você, Geração 80?” reuniu 123 artistas no Parque Lage, no Rio, em 1984. Os expoentes se diziam livres de tradições e usava hibridismos e diferentes suportes nos trabalhos. Uma multidão acorreu ao local, abalizando a iniciativa. O grupo ficou conhecido como “Geração 80”.     Serviço: “Quase Aqui”. Oi Futuro Flamengo (rua Dois de Dezembro, 63, Flamengo, Rio de Janeiro). Terça a domingo, das 11 às 20h, até 23 de outubro. Entrada franca.   *Viajou a convite do Oi Futuro

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