(LUCAS PRATES)
A voz suave e potente da cantora irlandesa Enya abriu portas, sem dúvida, ajudando a divulgar a música celta mundo afora, a partir da década de 90, papel que também coube à canadense Lorena McKennitt, mas o crescente interesse em Minas Gerais por esse estilo tem outro protagonista. Aliás, no plural: outros protagonistas.
O conhecimento em torno de músicas que enaltecem a natureza e o amor à pátria se deve, em boa parte, a jovens que viajam em grande número à Irlanda para estudar – inglês principalmente. Muitos, diga-se, já estão enfronhados em narrativas mitológicas, apresentadas no cinema em filmes como “O Senhor dos Anéis” e “Valente”.
Na capital e interior, vários grupos têm direcionado o seu repertório para esse universo, em espetáculos sofisticados, que usam instrumentos originais, e outros que apenas querem botar todo mundo para dançar, de preferência ao lado de uma caneca de cerveja, bebida também bastante apreciada no país europeu.
PROVINCIANISMO
“Dançar, beber e até brigar, com muita gente correndo em volta. Tem muito disso na Irlanda”, diverte-se Karl Mooney, da banda The Celtas Ride Again. Ele fala com conhecimento de causa: é um “irish” autêntico. Residindo em BH desde 2001, Mooney enxerga com naturalidade a ponte musical Minas–Irlanda. “Hoje, tem muitos mineiros estudando lá. Há muita sintonia entre eles e os irlandeses. A começar que somos caipiras e muito ‘provincianos’”, salienta esse designer gráfico, que veio para o Brasil após se casar com uma mineira. Entre os músicos, o “Irish Session” tem colaborado para atrair novos amantes do estilo.
Criado em abril pelos integrantes do grupo The Celtic Songs, o encontro acontece no primeiro sábado de cada mês, no Cantim Noir, localizado no bairro Novo São Lucas, e é aberto a quem queira participar. Basta apenas estudar as partituras, tomar seu assento a uma enorme mesa e passar horas tocando ao lado de outros músicos.
“Sentimos que precisávamos divulgar e mostrar um pouco da base da cultura celta”, registra a vocalista Helen Isolani. Os mais experientes comparecem com instrumentos originais, como o bodhran (percussão) e o whistle (flauta irlandesa).
Com a onda New Age, o renascimento
Não adianta buscar no Atlas a localização dos povos celtas, porque eles já não existem mais. Foram conquistados pelo Império Romano entre os séculos 2 AC e 1 DC. Mas suas influências permaneceram, especialmente na Irlanda, na Escócia, no País de Gales e em regiões da França, da Inglaterra e da Espanha. Por pertencerem à tradição oral, suas canções quase se perderam, mas foram resgatadas no início do século 20. O auge desse renascimento se deu na década de 90, com a New Age, em que sintetizadores deram um outro enfoque a sons ancestrais.