‘Aisha’ mostra a realidade das mulheres do Iêmen

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
12/04/2015 às 09:24.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:36
 (Nemo/Divulgação)

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Sucesso mundial na voz de Cheb Khaled, no final dos anos 90, a canção franco–argelina “Aicha” fala de uma mulher ao qual um homem apaixonado oferece joias, músicas, poemas... e até os raios do sol. A musa inspiradora, porém, recusa prontamente todas ofertas: a tais tesouros, prefere conquistar os mesmos direitos garantidos aos homens. E o respeito.   Com uma pequena variação na grafia do nome (no lugar do “c”, o “s”), Aisha é uma das heroínas da HQ “O Mundo de Aisha – A Revolução Silenciosa das Mulheres no Iêmen” (Nemo, 144 páginas, R$ 39,90) , do italiano Ugo Bertotti, elaborado a partir dos depoimentos dados por mulheres locais à fotojornalista Agnes Montanari.   O país focado na obra por meio de várias histórias, você sabe, não sai dos noticiários nos últimos meses. Só para se ter uma ideia, semana passada, a Organização Mundial da Saúde apontou que, desde meados de março, mais de 600 pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas em conflitos entre rebeldes xiitas e partidários do presidente apoiado pela Arábia Saudita.   Mas, independentemente do conflito em curso, o Iêmen sempre foi um país no qual muitas mulheres acabam tendo suas vontades contrapostas pela violência física. É o que apontam as narrativas colhidas por Montanari e amplificadas pela escrita de Bertotti. Motivo pelo qual a obra é apresentada como uma “graphic novel documentário”.   Um recurso, em particular, chama bastante atenção: em meio aos quadrinhos, há fotos, em P&B, feitas in loco. A primeira história nos apresenta Sabiha, que é dada para casar e, aos 13 anos, já é vista prestes a dar à luz. Aos 18, já tem três filhos, embora o marido já esteja cobrando a interrupção da amamentação: os seios da esposa estariam ficando “feios”, o que o desagrada. Flagrada sem o Nigab, o véu que deixa apenas os olhos da mulher à mostra, Sabiha acaba sendo alvejada pelo marido e, paralítica, volta para os braços da família – sem os filhos, que ficarão com o marido. Seu destino já está selado, e isso se sobreviver às eventuais infecções.   Aisha, a moça cujo nome migra para o título, é uma exceção: ela consegue trabalhar na área de informática, e pode ser emblemática da interrupção de um ciclo vicioso no qual a mulher é sempre subjugada. Ao menos, é o que esperam os autores.

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