Alceu Valença: "Somos do interior e isso nos aproxima"

Pedro Artur - Hoje em Dia
31/08/2014 às 11:36.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:01
 (Divulgação)

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Encontro de brasis. Assim pode ser classificado o recém-lançado CD/DVD “Valencianas – Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto”, gravado ao vivo no Grande Teatro do Palácio das Artes, em novembro de 2012, reunindo sucessos como “Coração Bobo”, “Estação da Luz”, “La Belle de Jour” e “Girassol”. “Foi um encontro muito feliz. Ouro Preto e Olinda são duas cidades históricas, e em suas ladeiras exala brasilidade. Temos essa brasilidade da música do Alceu e de uma orquestra que se propõe a fazer música brasileira com esse compositor”, ressalta o maestro Rodrigo Toffolo.

Ele diz que a escolha do repertório foi um exercício de democracia. “Foi um bate-bola com o Alceu. Esse projeto demorou um ano e meio para estrear. Durante esse tempo fizemos reuniões em Olinda, Rio de Janeiro, Ouro Preto para poder apostar e definir o repertório que pudesse ser representativo dos 40 anos de careira do Alceu”, pontua.

O artista pernambucano também conversou com o Hoje em Dia sobre esse lançamento e possíveis desdobramentos. “Estou curtindo este momento, ansioso por realizar os concertos de lançamento do DVD. Já temos cinco concertos agendados para Portugal e faremos novas apresentações em cidades brasileiras. Não sei que desdobramentos podemos ter no futuro, mas certamente há repertório para um segundo volume”, afirmou Alceu. O artista falou também sobre sua estreia como diretor de cinema e o lançamento de um livro. Confira a seguir:

O que te tocou mais nesse “casamento” de sua obra, de caráter eminentemente popular, com uma orquestra, que, normalmente, habita um ambiente erudito?

O que me toca é a sensibilidade de músicos jovens como o maestro Rodrigo Toffolo e o arranjador Mateus Freire, que conseguiram adaptar minha música para o universo das orquestras. A ideia foi do meu compadre Paulo Rogério Lage, que atuou como diretor do Grupo Corpo e do Palácio das Artes, e que sempre sonhou em transportar parte da minha obra para a música de concerto. Ele, que morou em Recife, me apresentou a Rodrigo e Mateus no Festival de Inverno de Ouro Preto e a partir daí as coisas começaram a evoluir. Meses depois eles foram a Olinda, numa temporada de verão, e me mostraram os primeiros arranjos. Fiquei encantado. Estreamos o concerto no Palácio das Artes, em abril de 2012, e gravamos no mesmo palco em novembro. Houve apresentações em Ouro Preto, Vespasiano, e também no Rio e em São Paulo. No dia 9 de setembro, faremos uma noite de autógrafos na Livraria Leitura, em BH. Estou muito feliz com o lançamento do DVD.
 
Até aonde vai esse projeto “Valencianas”? Pretende ter outra experiência desse gênero?

Estou curtindo este momento, ansioso por realizar os concertos de lançamento do DVD. Já temos cinco concertos agendados para Portugal em janeiro e faremos novas apresentações em cidades brasileiras. Não sei que desdobramentos podemos ter no futuro. Mas certamente há repertório para um segundo volume. É como eu sempre digo. O tempo é tríplice. Vivemos presente, passado e futuro tudo ao mesmo tempo. Estou vivendo o presente das valencianas.

Sua música é moderna, atual. É um eterno renovar. Você acha que, por isso, atraiu o olhar da Orquestra Ouro Preto?

Minha música não é só moderna, é atemporal, diversificada, plural. Nunca cultuei ídolos e sempre procurei fazer uma arte autoral, original, sem me inspirar diretamente em ninguém. Mas é claro que a música nordestina permeia quase toda a minha obra. O fato de Mateus ser paraibano e ter tocado com o Quinteto da Paraíba, ter os movimentos armoriais em sua formação, facilitou esta aproximação. Assim como eu, ele conhece desde o berço gêneros como forró, xote, xaxado, os martelos agalopados, as emboladas do sertão. Mas há espaço para outros gêneros também, como o samba e a Bossa Nova, presentes em “Ladeiras”.

Essa parceria não poderia ser mais emblemática. De um lado Ouro Preto, com a orquestra, e de outro você, com sua obra e Olinda. São irmãs desse Brasil rico em cultura e ritmo, com seus carnavais...

“Ladeiras” justamente salienta esta aproximação entre as ladeiras de Olinda e de Ouro Preto. São duas cidades de uma cultura riquíssima, entre as mais representativas sob determinados aspectos artísticos, culturais e patrimoniais do Brasil. Há outras características convergentes. O fato de eu ser do interior – de São Bento do Una, no agreste de Pernambuco – me aproxima de certos hábitos mineiros. É aquela coisa da conversa em volta da mesa, dos causos ao pé do fogão, da cultura do leite, do queijo, do ambiente rural. Somos do interior do Brasil e isso nos aproxima bastante.

A orquestra é mineira e vários dos instrumentistas envolvidos também são mineiros. Você acha que eles conseguiram absorver todos os elementos, detalhes da música pernambucana?

A partir do momento em que os arranjos captam perfeitamente as influências nordestinas, a execução dos músicos segue naturalmente nesta trilha. O ambiente é tão bom que muitos dos integrantes da orquestra cantarolam as músicas enquanto as executam. É um caso notável de integração entre o artista, a obra e os músicos.

E como andam os novos projetos?

Os projetos não param. Além dos muitos shows que faço pelo Brasil, tenho o lançamento do meu filme, “A Luneta do Tempo”, que acaba de estrear no Festival de Cinema de Gramado, onde levamos dois kikitos (trilha musical e direção de arte). Devemos percorrer um circuito nacional e internacional de festivais, antes de levar o filme ao circuito comercial, o que deve acontecer no primeiro semestre do ano que vem. Minha mulher, Yanê, está produzindo um documentário sobre os anos iniciais da minha trajetória como artista. E acabo de fechar o lançamento de um livro, com poemas, letras de músicas e outros textos de minha autoria, com a editora do Chiado, uma das mais importantes editoras do mundo lusófono.

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