Alfaiataria na arte e na resistência em Belo Horizonte

Elemara Duarte - Hoje em Dia
25/06/2013 às 09:19.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:26

Documentário e exposição sobre o imortal ofício dos alfaiates e sua relação com Belo Horizonte serão lançados nesta terça-feira (25), às 19h30, no Centro de Referência da Moda (rua da Bahia, 1149, esquina com avenida Augusto de Lima, Centro). A entrada é gratuita.

"Alfaiates de Belo Horizonte" tem direção de Sílvia Godinho e Ana Luisa Santos. "São profissionais anônimos na criação de moda. Encontramos, pelo menos, dez alfaiates na cidade. Cinco, entraram no documentário", diz.

Ana Luisa é pesquisadora e coordena o Núcleo de Pesquisa em Figurino do Galpão Cine Horto e, há cinco anos, pesquisa a história da moda em BH. Ela conta que na época da fundação da cidade os alfaiates já trabalhavam aqui. "Eram italianos e espanhóis que vieram para cá para vestir os funcionários da nova capital", lembra.

No fio da história

A pesquisadora analisa que a transformação do ofício acontece juntamente com as mudanças da cidade. Antes, traduziam os valores modernos da primeira capital planejada no país. Hoje, ainda na resistência, eles são procurados para fazer roupas para ocasiões especiais.

No evento de hoje, haverá abertura da exposição "Alfaiates em BH" com fotografias de Alexandre Lopes. "Ele já tinha este ensaio, então, propus à Silvia de fazermos o curta-metragem".

Firme e forte

O alfaiate José de Lima Castro, o "Seu" Castro, 89 anos, começou a aprender a profissão aos 12 anos e ainda hoje trabalha com ela no Centro de BH. Ele vê a evolução da profissão, dos materiais e da moda pela sua profissão. Castro participou do documentário.

"Tem que aprender a trabalhar com cada tipo de fazenda (tecido)", diz. Seu Castro cita que a microfibra – tecido mais sintético, hoje muito usado, e que quase não amarrota – era uma "fazenda" que não existia quando começou.

Já os famosos ternos de linho, hoje, caíram de moda. "A manutenção é muito cara. Tem que mandar para a lavanderia uma vez por semana. Além disso, havia uma fábrica no Espírito Santo, a Braspérola, mas fechou. Era um linho muito bom. Hoje não tem tanta qualidade", lamenta Castro. A Braspérola fechou em 2001.

Outro participante do documentário é o alfaiate Marcelo Blade, 53 anos. "Estamos a mil. Além de ternos, fazemos tailleur, capa para uma cliente que foi visitar o Arco do Triunfo, em Paris, e uniformes para clínicas médicas. As funcionárias ficam tão bem vestidas que parecem filhas do dono", brinca o alfaiate que aprendeu o ofício com o pai, "Hermano Alfaiate", hoje com 80 anos, e ainda em atuação em BH.

"Não parei de trabalhar. Saio de casa às 6 horas, no bairro São Lucas, e venho trabalhar a pé. É por isso que tenho 89 anos. Trabalho, caminho e faço academia, me exercito naquelas máquinas. Aí, no outro dia, pego outras máquinas, mas de trabalho", diz Seu Castro.

Aprendiz de "alfaiata" promete renovação

"Alfaiata" ou alfaiate? Tanto faz. Um grupo de cinco estudantes de Moda – quatro deles, mulheres – ganharam bolsa e viraram aprendizes de "mestres alfaiates" em BH. O projeto onde o ofício tradicionalmente masculino está sendo dominado pelas mulheres é intitulado "Preservação da Alfaiataria Tradicional em Belo Horizonte e na Região Metropolitana" e existe desde o final do ano passado.

A iniciativa é da professora e coordenadora do curso de Design de Moda da UFMG, Juliana Barbosa.

"O aprendiz de alfaiate não existe mais. Com os avanços trabalhistas fica inviável contratar um aprendiz. A solução são as bolsas. É um ofício artesanal por excelência", explica. Ela estima que existam cerca de 20 alfaiates em BH.

O interesse pela alfaiataria cresce. "É a questão da valorização do que é único. É a personalização de um produto".

O projeto é uma parceria da UFMG com apoio financeiro do Sindicato das Indústrias do Vestuário no Estado de Minas Gerais (Sindvest-MG). "É uma nova geração. Eles têm visão mais empreendedora", acredita Juliana.

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