CINEMA

'Amigo Secreto' revela uso da Justiça para se fazer política

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
17/06/2022 às 10:58.
Atualizado em 17/06/2022 às 12:12
No filme de Maria Augusta Ramos, jornalistas evidenciam a prática de "lawfare" durante a operação Lava Jato (Vitrine/Divulgação)

No filme de Maria Augusta Ramos, jornalistas evidenciam a prática de "lawfare" durante a operação Lava Jato (Vitrine/Divulgação)

Abordar a operação Lava Jato no filme “Amigo Secreto”, em cartaz nos cinemas, representa para a diretora Maria Augusta Ramos a continuidade de uma pesquisa iniciada em 2004, com “Justiça”, quando estabeleceu uma reflexão sobre o sistema judicial brasileiro e as estruturas de poder no país.

“Me inspira pensar o Brasil e revelar as relações sociais, humanas e do poder através do sistema de Justiça, daquilo que chamo de teatro da Justiça. E eu digo isso não pejorativamente, mas porque ali estão representadas todas as classes e partes da sociedade. Por meio dessa interação, do rito e do discurso que se dá no universo do judiciário, questões muito características e importantes se revelam”, destaca.

Na análise sobre a operação criada em 2014, para averiguar esquemas de corrupção na Petrobras, um termo em inglês salta aos ouvidos: lawfare. “É como o sistema jurídico pode ser usado para benefícios próprios, para remover um partido do poder, para instalar um outro, para se remover um inimigo”, explica a cineasta. 

O que aconteceu durante a Lava Jato, esmiúça Maria Augusta no filme, é que a Justiça foi usada para fazer política, “com consequências devastadoras para o país, tanto do ponto de vista da democracia, com a fragilização das instituições, como o do econômico, principalmente após a gente saber que a metodologia da Lava Jato quebrou muitas empresas, um prejuízo econômico ao país enorme”. 

Mostrar como a Justiça foi usada de maneira inconstitucional é um dos focos do filme, que acompanha o trabalho investigativo de jornalistas, principalmente na análise das mensagens vazadas entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores. “Através delas ficou impossível negar que havia ali uma violação do processo legal, uma parcialidade profunda, uma cooperação ilegal entre a promotoria e o juiz”.

No documentário, ela expõe que o “lawfare” não era uma novidade para uma série de juristas e de juízes progressistas que já apontavam essas violações. “Na Lava Jato, as mensagens só vieram realmente confirmar o que já se sabia nos autos, com a experiência dos advogados, a respeito do modus operandi dela, algo que já estava sendo discutido pelo próprio Supremo Tribunal Federal em alguns momentos”, assinala. 

Maria Augusta lembra que houve uma tentativa de barrar essas violações, só que as denúncias e críticas não tiveram a mesma divulgação pela mídia da narrativa da Lava Jato, o que acabou gerando, segundo ela, “uma ideia equivocada do que era aquela cooperação, com um juiz se tornando um herói na imaginação coletiva”. Ela não tem dúvida de que essa situação fez “muito mal ao país”.

O filme busca uma releitura da operação de corrupção, trazendo à tona novas informações, “a partir de uma análise criteriosa” feita por jornalistas. “E também mostra a importância da imprensa para a democracia. “Mesmo ela tendo um papel fundamental na Lava Jato, também foi importante agora para desconstruí-la, denunciá-la. É uma pena que isso tenha demorado tanto tempo para acontecer”.

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