Ângelo Antônio vive percalços da vida em “Entre Vales”

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
07/05/2014 às 07:33.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:28
 (Imovision)

(Imovision)

“Rápido, né?”, observa Ângelo Antônio, ao comentar a proximidade da data comemorativa de seu cinquentenário. O ator mineiro, nascido em Curvelo, já antecipa que, no dia 4 de junho, estará muito distante de ostentar a sabedoria daqueles que chegam à meia-idade. “Sinto que ainda não aprendi nada. É como se estivesse iniciando, sempre. Continuo inseguro, querendo saber tudo”, registra Antônio, que recorre a um ensinamento budista de que o ideal é “trabalhar sem a preocupação com os frutos, mas sim em viver”.

Essa sensação de quem ainda está no começo de uma jornada também sintetiza o personagem de Antônio no filme “Entre Vales”, em cartaz a partir desta quinta-feira (8) em Belo Horizonte. No caso do economista Vicente, no entanto, esse processo é percebido de maneira dolorosa. Na história concebida pelo também diretor Philippe Barcinski, o protagonista perde emprego e família de uma só vez, levando-o a adotar uma nova identidade e a trabalhar num aterro sanitário, onde espera reencontrar o objeto que servia de elo com seu filho.

“É um filme que fala dos caminhos da vida, em que somos constantemente surpreendidos. Temos que dar muito valor a ela, pois é um milagre estar vivo. De uma hora para outra, o que está embaixo vai para cima e vice-versa. ‘Entre Vales’ nos ajuda a pensar na importância das pequenas coisas”, destaca.

Dono de personagens fortes, como o médium Chico Xavier no filme homônimo de Daniel Filho, ele tem em “Entre Vales” um dos momentos mais marcantes de sua carreira, a partir de um desempenho muito intenso, que rendeu vários elogios da crítica especializada. Com liberdade para usar a intuição na composição de Vicente, o ator revela que estudou muito para “identificar o espírito” do personagem. “Li muito, vi muito filme, entre eles um de Javier Bardem, ‘Biutiful’, em que faz um papel igualmente atormentado”, assinala.

Preparação para o filme ‘Entre Vales’  aconteceu em um lixão de verdade

Parte da preparação de Ângelo Antônio em “Entre Vales” aconteceu num lixão de verdade, onde o ator se deparou com tocantes histórias de vida. “A gente acha que lixo é simplesmente lixo, mas famílias são mantidas a partir desse trabalho”, registra.

O filme o fez se lembrar de Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina, localizado em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, fechado há dois anos. “Ali trabalharam gerações inteiras e acabaram perdendo tudo, ainda que tenham sido encaminhadas para outros lugares”. Pronto há dois anos, “Entre Vales” teve muita dificuldade para conseguir financiamento, assim como outro trabalho ainda inédito de Ângelo Antônio no cinema: “Deserto Azul”, ficção-científica dirigida pelo mineiro Éder Santos e que tem previsão de estreia para o segundo semestre.

Indagado se tem escolhido obras mais independentes de maneira consciente, o ator, mineiro de Curvelo, explica que não passa de coincidência. “Aconteceu. Escolho meus projetos pelos personagens e, na verdade, a gente acaba sendo escolhido por eles também”, afirma.

Depois de participar da série “A Teia”, Antônio tirará férias da TV, veículo que também lhe proporcionou personagens inesquecíveis como o Alcides de “Pantanal” (1990), seu primeiro trabalho na telinha, na extinta Rede Manchete, e o Beija-Flor de “O Dono do Mundo” (1991), na Globo. No cinema, porém, a agenda está cheia. Ele já garantiu participação no novo filme de Vinícius Coimbra, uma livre adaptação de “Macbeth”, de William Shakespeare, e está escalado para o elenco do longa-metragem de estreia da roteirista Carolina Kotscho.

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