Apesar de minorias, os estilistas negros se negam a ser descriminados

AFP
13/02/2017 às 09:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:54

Existe uma "moda negra"? Os estilitas negros deveriam sentir o peso a a responsabilidade de sua herança? Por que há tão poucos modelos e estilistas negros? Um simpósio do Instituto de Moda e Tecnología (FIT) de Nova York e uma grande exposição que fica aberta até maio lança o debate e busca celebrar dezenas de estilistas negros que "muitas vezes tem sido desvalorizados e insuficientemente representados".

Hoje em dia, apesar dos avanços conseguidos no último meio século, "os estilistas negros representam apenas 1% de todos os criadores exibidos pelo VogueRunway.com", principal site com informações sobre as semanas de moda no mundo, lembra Ariele Elia,  cocuradora da exposição no museo do FIT.  "A discriminação existe, tanto com estilistas quanto com modelos", diz Elia em um auditório repleto de acadêmicos, estudantes e estilistas.

"Algo triste"

Apesar disso, muitos estilistas confessam que estão cansados de serem vistos como "estilistas negros" e que desejam ser vistos simplesmente como "estilistas". Alguns dizem que nem sequer pensam na raça na hora de criar. Que não existam mais estilistas negros na Semana de Moda de Nova York, que começa nessa quinta-feira, "é algo triste", mas ainda mais surpreendente é que existam tantos homens e tão poucas mulheres, disse à AFP a estilista Carly Cushnie, da marca Cushnie et Ochs. 

"Mas não tenho certeza da razão real", diz Cushnie, que é londrina de origem jamaicana e cuja sócia, Michelle Ochs, é canadense, cresceu nos Estados Unidos e é metade filipina, metade alemã. "Se fala muito hoje desse tema, mais do que nunca na história, por isso tenho a esperança de que isso mude", dijo Cushnie, de 32 años.

Sua marca participa da Semana de Moda de Nova York (NYFW) e ganhou fama quando foi escolhida pela ex-primeira dama Michelle Obama em 2011, que também levou ao estrelado outras estilistas negras, como Laura Smalls. O francês Olivier Rousteing, representado na exposição com um vestido inspirado no tecido de ráfia feito à mão utilizado em cadeiras cubanas, é um dos estilistas negros mais famosos do mundo hoje em dia, mas é "mais uma exceção que a regra", disse Elia.

Quando foi designado diretor criativo da Balmain aos 26 anos, em 2011, Rousteing disse que o mundo da moda entrou em choque, mas não por sua idade, mas pela cor da sua pele. A exposição no FIT mostra dezenas de estilistas negros como Tracy Reese, Stephen Burrows e Willi Smith,
começando por Ann Lowe, considerada a primeira estilista negra de Alta-costura dos Estados Unidos, que criou o vestido de casamento de Jackie
 Kennedy em 1953.

Lowe consegiu estudar moda em Nova York, mas era a única estudante negra, e seus colegas de turma não queriam se sentar com ela. Cobrava mais barato que os colegas e morreu pobre e esquecida aos 82 anos. Mas a primeira esposa de um presidente americano a escolher uma estilista negra foi Mary Lincoln, por volta de 1860. A escrava Elizabeth Keckly era sua estilista e confidente.

Estilos diversos

Assim como vários estilistas negros preferem nem pensar em raça, e criam grandes peças inspiradas na Alta-costura francesa ou na alfaiataria inglesa, outros mergulham nas raízes do sul americano ou de tribos africanas.

Alguns, como Kerby Jean-Raymond, estilista novaiorquino da marca Pyer Moss, são ativistas. Esse jovem criou uma peça inspirada em Ota Benga, congolenho enjaulado no zoológico do do Bronx no final de 1800, assim como no movimento "Black Lives Matter"  e nos afro-americanos que foram  mortos recentemente nas mãos da polícia.

O americano Patrick Kelly, que morreu vítima do vírus da Aids aos 35 anos após conquistar grande sucesso em Paris nos anos 80, bebia de suas raízes sulinas e tratava o tema da raça e do racismo com um humor que gerou polêmica. Como, por exemplo,  quando entregava às suas aristocráticas clientes alfinetes de bebês negros para colocar nas lapelas e usava como logomarca um "golliwog", boneco de tecido negro que se transformou em símbolo do esteriótipo racista. 

"Acredito que somos mais de 1%, porque temos que considerar todos os negros que trabalham na moda, não só os que têm sua própria marca", disse à AFP Alphonso McClendon, professor de design e autor do livro "Moda e Jazz". McClendon espera que aumente a diversidade com as vendas pela internet, principalmente de estilistas pequenos, que já não dependem tanto de contatos e de famosos editores de revistas de moda para triunfar.
 

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