(Claudio Roberto)
O que move Santiago Loza no cinema é uma grande necessidade de se meter em certos mundos, temas e imagens. Um processo diferente de seu trabalho no teatro, onde se firmou como um dos grandes dramaturgos argentinos da atualidade. “Personagens, cenas e imagens surgem de forma obsessiva em minha mente. Faço cinema para ‘descobrir’ esse filme, como se eu fosse o próprio espectador”, afirma Loza, que será o homenageado da 8ª Mostra CineBH, com início no dia 16. Ainda pouco conhecido no Brasil, ele virá a Belo Horizonte para realizar um masterclass e também acompanhar a retrospectiva de nove de seus trabalhos, como “A Invenção da Carne” (2009) e “Quatro Mulheres Descalças” (2005). Em entrevista ao Hoje em Dia, o diretor explica que o cinema é “uma maneira de estar no mundo”, trabalhado em equipe. “O cinema permite estar com os outros por um período breve, com todos pensando em cinema”, destaca. Estranhamento Loza assinala que o cinema aparece “onde não chega a palavra”. Um lugar no qual, em suas palavras, há a necessidade de expressar o que não se pode nomear ou dizer. “Quando escrevo para o teatro, é como se estivesse fazendo literatura”. Nascido em Córdoba, o cineasta se especializou em histórias que levam o protagonistas a pôr o pé na estrada, como uma forma de viagem interior. “Me comove quando as pessoas não agem socialmente, quando estão sozinhos com seus pensamentos”, justifica. Para ele, esse é o momento em que “tudo se abstrai e nos aproximamos de algo elementar, privado e misterioso”. Loza define essa situação como um estado anímico de “estranhamento” – título (“Extraño”) de seu primeiro longa, de 2003. Sem destino Nesse filme em particular, premiado no Festival de Roterdã, um homem abandona a sua profissão de médico cirurgião para perambular sem destino certo. Quando encontra uma garota grávida, descobre o que está faltando em sua vida. O misticismo é um dos ingredientes principais de suas histórias. “Suponho que me atraia tudo que escapa da razão, da lógica. Essas forças que fazem você ter uma crença. O místico propõe relatos e imagens permanentes que vêm de uma memória ancestral”. É com esse olhar que apresenta La Paz no filme que carrega o título da capital boliviana. Seu último filme lançado nos cinemas mostra a cidade como um lugar mítico e sonhado. Para onde um jovem argentino em crise gostaria de ir. Nesse longa, Loza trabalha com atores não-profissionais. “Dependendo do projeto, trabalho com atores com mais ou menos formação. “Estou interessado nas pessoas, em procurar a verdade em cada uma delas”, salienta.