Arte para ver, sentir e comer

Ludmila Azevedo - Do Portal HD
01/11/2012 às 15:40.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:47
 (Ludmila Azevedo)

(Ludmila Azevedo)

Eat Art. Traduzindo, de modo mais literal, arte comestível. Mas esse movimento abraçado pela chef e artista plástica Agnes Farkasvölgyi, do Bouquet Garni, vai além de contemplar e devorar. Uma experiência sensorial única, recheada de surpresas, a cada edição. Ao fim, a sensação de prazer que perdura por horas e dias.

Este é o quarto ano em que participo do imperdível jantar anual de Eat Art da Agnes. Da primeira vez, foi no Espaço 104 e a música gentilmente deu o tom da noite. Os jogos americanos eram em papel craft. Para serem desenhados, escritos, rabiscados. Parecia que eu estava no filme "A Festa de Babette".

No ano seguinte, na Galeria Celma Albuquerque, a chef e artista brincou com os elementos água, terra, fogo e ar nos pratos e ambientes. Antes que o verbo possa soar "menor" para o que ela apresenta aos convivas, justifico: brincar é uma delícia. No último espetáculo a que assisti de Pina Basch - quando a bailarina estava viva - o jogo era: e se voltássemos a ser crianças?

Embora Agnes sofistique em técnicas e apresentações culinárias, nenhuma de suas intenções jamais soariam esnobes. Ela tem uma forma de tornar sua elegância no que é verdadeiramente essencial. Seus jantares viram aconchego. Cansei de cumprimentar gente na rua que conheci nesse tipo de experiência, como se fôssemos velhos amigos.

Desde 2011, o Ilustríssimo abriga a experiência da chef. Ano passado comi cores, as mais variadas. Deliciei-me com texturas e não havia uma pista exata do que era servido. As dicas iam surgindo. O paladar deve ser curioso. E todos ficaram intrigados sobre estarem provando um determinado legume ou outro.

Na edição 2012, Agnes levou a sedução para uma seara bem interessante. Próximo ao dia dos mortos, a ideia foi olhar nos olhos da indesejada das gentes e pedir para ficar um pouco mais por aqui. E que prazer celebrar os seus menus harmonizados, um a um. Para a curadoria foi convocada a artista plástica Nydia Negromonte, com trabalhos em destaque na última Bienal de São Paulo.

Dessa vez, o menu constava no jogo americano. Quase todos os presentes o levaram como souvenir. À frente com copo com colheres, garfos, facas, hashi e luvinha para comer com a mão. Não há regras nos jantares minuciosamente programados por Agnes (minuciosamente, pois tudo corre às mil maravilhas para quem está à mesa, graças à eficiência e cordialidade de sua equipe). Quem "estreia" na noite, a princípio, fica um pouco em dúvida, que não dura muito.

A beterraba em brotos, quase cozida e desidratada foi batizada como "Germinar". O salmão no invólucro, a torre composta por lombinho, caldinho de feijão e espuma de bacon e o foi gras estavam divinos. Ao meu lado ouvi frases como: "se estamos festejando o dia dos mortos, quero morrer assim" e "se eu morri, esse é o sabor do paraíso".

Interessante notar que as manifestações não eram de críticos de gastronomia. E mesmo os que foram, estavam completamente seduzidos pela arte da anfitriã, que declamou Drummond antes de nos fartarmos com uma mesa de doces. As bandejas traziam homenagens de amigos de Agnes e da própria aos que já partiram. Nuvens de côco, pudins, tortinhas e milhares de delicadezas encerram a festa.

Inesquecível. Para saber mais e participar do próximo, vale ficar ligado neste blog

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