Artista circense Cafi Otta fala sobre o início de sua carreira

Altino Filho - Do Hoje em Dia
10/03/2013 às 07:51.
Atualizado em 21/11/2021 às 01:45
 (Divulgação)

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Como foi o seu início de carreira?

Desde criança me encantei com o circo. Minha mãe me levou ao circo Garcia pra ver os Trapalhões, tiramos aquelas fotos que os artistas vendem pro público.embro dos animais, era uma coisa de outro mundo! Quando comecei a fazer circo era só uma diversão.

O dia em que decidi me tornar artista profissional e viver do circo "pra sempre" foi engraçado: eu estava cursando o último ano de turismo na faculdade, e precisava fazer um estágio pra concluir o curso.

Consegui um estágio num dos hotéis mais chiques de São Paulo, com ajudante de garçom. No primeiro dia de trabalho descobri que minha função era secar copos e talheres, numa sala de 2X2 sem ventilação. Durante o intervalo do jantar recebo uma ligação do Felipe Matsumoto, integrante do Acrobático Fratelli, que tinha sido meu mestre malabarista por muito tempo.

Ele me perguntou se eu poderia ir até o autódromo de Interlagos gravar uma matéria para o Fantástico. Eles iriam entrevistar um piloto famoso de Fórmula 1 que sabia andar de monociclo, e eu ficaria ali demonstrando um pouco do que se pode fazer no mono.

O cachê era quase o dobro do que eu ganharia no mês inteiro secando copos e talheres naquela salinha minúscula… terminei o jantar e fui até a gerência pedir minha demissão, no primeiro dia de trabalho, e decidi que o circo seria meu ganha pão a partir dali.

Conte para a gente como foi sua experiência no circo Fratelli.

Logo que comecei a fazer aulas no Galpão do grupo todos ficaram muito impressionados com minha versatilidade. Com 15 anos já fazia malabares, andava de perna de pau, no monociclo, na corda bamba, rola rola…

Depois de uns 3 anos treinando com eles, comecei a ser chamado pra fazer uns trabalhos, normalmente aqueles que eles não podiam ou não queriam fazer: festas infantis, porta de loja, inauguração de concessionária, enfim, todos os micos pelos quais os artistas iniciantes tem que passar.

O grupo acabou se desfazendo e deu origem aos Irmãos Fratelli, que logo se transformou em Fractons. Foram anos de muito trabalho, treinamento e viagens! Bem divertido!!!

E o Pia Fraus e os Parlapatões?

O mercado circense em São Paulo não era muito grande, e acabava que todo mundo trabalhava com todo mundo. Assim tive a oportunidade de dividir os palcos com o Pia Fraus e os Parlapatões.

Com o Pia Fraus fui até a Europa, participar de alguns festivais de teatro na Espanha em 2010. Já com os Parlapatões fiz alguns eventos, e fui dirigido pelo Hugo Possolo em dois espetáculos de circo e numa ópera, A Italiana e Argel, no Teatro Municipal de São Paulo, uma das experiências mais marcantes da minha vida.
 

Na sua opinião, que tipo de vocação é preciso para se fazer circo?

No meu caso foi e ainda é a diversão, ou seja, fazer circo é muito legal! E acho que sem isso a pessoa desiste, porque o treinamento precisa ser intenso. Circo dói! E não conheço ninguém que ficou rico com o circo...

Como você vê a arte circense hoje no Brasil?

O negócio cresceu e continua crescendo muito. Existem muitos mercados dentro deste mercado. O artista pode fazer eventos corporativos, festas infantis, espetáculos, tv, teatro, internet, cinema e até trabalhar no circo!!! Temos artistas muito talentosos e um campo de trabalho promissor.

Mas com a crise na Europa o Brasil já está sendo invadido por muitos artistas de lá, que vem com uma técnica muito mais apurada e muita experiência, então os brasileiros terão que ralar ainda mais, porque a concorrência é pesada!

Fale um pouco do espetáculo é 'Nóis na Xita' que vocês já fizeram mais de 600 espetáculos

Em 2005 o Grupo Namakaca, formado por Montanha Carvalho, César Cara de Pau e eu criou o espetáculo "É Nóis na Xita". Era basicamente a junção daquilo que cada um sabia fazer de melhor.

Começamos sem a menor pretensão e acabamos vendendo muito!!! Ficamos pop!!! E com isso conseguimos viajar o Brasil inteiro, levando diversão pra muita gente. O ponto forte do espetáculo era a relação entre os 3, cheia de brincadeiras informais e com muito improviso.

E o seu primeiro-solo 'Carlos Felipe em Apuros', como foi?

Depois de ficar mais de 8 anos com meus parceiros do Namakaca, decidi me arriscar e montar um espetáculo solo. No começo dá muito medo, porque não tem onde se esconder nem pra onde correr, é só você e a plateia, pronto!

Mas daí você percebe como a experiência conta. E o crescimento artístico fica mais palpável, as coisas acontecem na sua frente e você tem que reagir, daí o aprendizado é mais profundo. Estou muito feliz com o espetáculo e quero apresentá-lo pra sempre, até ficar velhinho.

E essa tal de 'Convenção Praiana de Malabarismo', parece divertido não?!

Em 2009 um grupo de pessoas se juntou pra fazer um encraontro de malabaristas em Caraíva, na Bahia, um desafio e tanto, porque o lugar não tem muita estrutura, o acesso é difícil… Eu tive o prazer de participar deste evento incrível e agora me juntei aquela turma pra organizar a segunda edição.

Uma convenção de malabarismo nada mais é que o encontro de pessoas apaixonadas pela arte do malabarismo e do circo em geral. Acontecem pelo mundo todo e são uma oportunidade perfeita para troca de experiências, desenvolvimento artístico, além de mexer com a vida do lugar por onde passam.

Em Caraíva acontece tudo isso aliado a belezas naturais que só a Bahia tem. Recomendo a todos, teremos várias apresentações, oficinas, cortejo, noite do fogo, enfim, uma programação recheada de coisa boa no mês de julho!

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