(FACEBOOK DO ARTISTA)
Em meio ao fazer artístico que permite a criatividade extravasar por vários suportes, um denominador comum, apontado pelo próprio artista, João Castilho, que inaugura neste sábado (6), na Celma Albuquerque Galeria de Arte, a mostra “O Futuro Avança Para Trás”.
“Tem um trabalho que une tudo, de onde tudo parte, e que dá nome à exposição”, diz, referindo-se à escultura feita com espelhos retrovisores de motocicletas, soldados num tronco de metal, que emula uma árvore. A obra, lembra ele, traz, em seu bojo, a ideia de criar uma espécie de nó temporal. “Porque árvore sugere a ideia de crescimento, de ir para frente, o que é anulado, ou contraposto, pelo retrovisor, que aponta para trás. Assim, esse trabalho traz camadas de significação que, de certa forma, envolvem os outros trabalhos da mostra”, diz ele, citando, a seguir, o vídeo “Progresso”.
“De novo a ideia do tempo, que vai para a frente e é anulada pela ação que o vídeo mostra, no caso, eu engessando um jovem negro. Ao mesmo tempo que o nome traz a ideia de evolução, o vídeo traz o engessamento”.
“Progresso” abarca também a dimensão escultórica, uma vez que o garoto se transforma em uma coisa rígida, imóvel no tempo. “Trata-se, obviamente, de uma obra mais política, mais crítica”, reflete Castilho, linkando sua crítica a um dos episódios mais lamentáveis dos últimos dias, que evidenciou mais uma vez o racismo através da agressão ao jogador...
“Algo inacreditável em um país miscigenado como o Brasil. O meu trabalho também discute a ideia de mobilidade social, mais restrita a alguns. Vale dizer que não é o primeiro trabalho que tem esse conteúdo, ano passado, por exemplo, apresentei um vídeo que trazia uma espécie de bote negreiro, nos condomínios no entorno de BH. São vídeos bonitos, ainda que fortes, contundentes, mas tenho a preocupação de que as minhas peças sejam para os olhos sim, mas para o cérebro também”.
Um outro trabalho é a série “Zoo”, com fotos que mostram animais selvagens deslocados para ambientes domésticos. Trata-se de uma pesquisa realizada com incentivo do Bolsa Fotografia ZUM/Instituto Moreira Salles (IMS).
Título da mostra foi inspirado em texto de Robert Smithson A citada série “Zoo”, diz o artista, suscita a ideia do retorno ao primitivo, à “animalidade” que persiste em nós, humanos.
“A gente vive muito na cidade e se esquece que a única coisa que nos distingue é que somos animais que vamos ao cinema”, ri, tímido. “A ideia foi causar um curto circuito ao colocar, por exemplo, uma onça em uma sala. Mas é um trabalho que tem outras camadas, inclusive de origem kafkaniana, já vista em outras séries minhas”.
A mostra na Celma Albuquerque também inclui “Irreversíveis”, composta de três esculturas em terracota, de jabutis posicionados de cabeça para baixo. “Além do óbvio, da questão da imobilidade, já que dificilmente uma tartaruga volta sozinha (à posição), é uma situação de xeque-mate”.
João Castilho conta que o nome da mostra faz uma alusão ao artista norte-americano Robert Smithson, mais precisamente, de um texto escrito por ele em 1967, “no qual ele discute a visão unilateral que o homem costuma ter do mundo”. O artista cita uma obra de Smithson, feita com espelhos, que procura provocar o colapso da visão única. Em tempo: o artista também enfatiza as pessoas que se envolveram nesta empreitada. “As fotos com os animais (selvagens), por exemplo, foram viabilizadas com o auxílio de uma ONG, e foi um trabalho demorado, até pelos riscos que envolvia”.
João Castilho – Celma Albuquerque (Rua Antônio de Albuquerque, 885, Savassi). Deste sábado (6) a 4/10. Fone: 3227-6494. Site: galeriaca.com