(Frederico Haikal)
Três semanas para fazer um desenho com esferográfica é muito tempo. Por isso, o “hiper-realismo” com a popular caneta feito pelo artista plástico e designer Hércules Versiani é tão raro. O belo-horizontino de 31 anos, que desenha desde os 14 anos, há dois, usa o simples objeto escolar para espelhar o real no papel. Animais da Fundação Zoo-Botânica são os mais recentes resultados do esforço de Hércules. Dez telas com o tema estão expostas no Ponteio Lar Shopping (BR-356, 2500, Santa Lúcia). E este domingo (9) é o último dia para a visitação. Depois desta primeira mostra individual, Hércules vai se dedicar às mulheres – as brasileiras, especialmente. “Tenho desenhado rostos de modelos estrangeiras que encontro na internet. Peço autorização a elas e ao fotógrafo e faço o desenho em caneta Bic ou em lápis. Agora, vou buscar mulheres daqui”, diz. Quase “pixelizado” As fotografias são ampliadas no computador e os “pixels” destas imagens são identificados à mão em cada micro-traço do artista sobre um papel especial. No ouvido, música eletrônica durante três, quatro horas madrugada adentro. “Com caneta, não pode errar. Por isso, a pressão do traço é controlada a todo momento”, diz ele. Nem muito forte, nem muito leve. O suficiente. O artista conseguiu espaço para a exposição depois de apresentar um dos trabalhos para a coordenação do shopping: na época, uma arara desenhada com esferográfica. Os demais desenhos foram feitos depois e mostram a diversidade da fauna e da flora do zoo. O desenho é feito em camadas. Desenha-se com lápis, põe uma camada de tinta de caneta e verniz “para segurar” e mais outras camadas de traços com caneta. Eis um desenho com profundidade – daquele tipo que “salta” do papel. Parece que está vivo. As mulheres brasileiras a serem retratadas também seguirão pelo realismo. “Ando pela rua e sempre flagro alguma pessoa que gostaria de desenhar. Mas sou um pouco tímido e não arrisco pedir”, conta. As outras dezenas de imagens que já fez atualmente estão expostas no www.herculesversiani.blogspot.com.br. Elas foram selecionadas por meio dessa “paixão à primeira vista”. “Tenho que gostar da imagem. Vou ficar com ela durante vários dias. Senão, posso enjoar e largar tudo”.
Arte é reflexo da contemporaneidade “Hiper-realismo” ou “foto-realismo” surgiu nos anos 1960 e retoma o realismo (século 19) na arte contemporânea. Entre os diversos e inusitados materiais usados nesses trabalhos estão as esferográficas adotadas por artistas como o português Samuel Silva e o espanhol Juan Francisco Casas – o “Mestre da Caneta Bic Azul”.