(Eliana Sangay/Divulgação)
Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas do povo Shipibo (Peru), pintarão nesta sexta-feira (29) o chão da Av. Amazonas, no entorno da praça Raul Soares, região Central de BH. O trabalho faz parte da programação da sexta edição do Cura – Circuito Urbano de Arte. Pela primeira vez no circuito, uma obra será pintada ininterruptamente, 24 horas por dia.
Os Shipibo-Konibo são uma etnia que vive às margens do rio Ucayali, nome que o rio Amazonas recebe na floresta peruana. Por aqui, Sadith e Ronin fazem sua pintura-ritual evocando suas raízes, língua, costumes e conhecimentos de cura.
Uma marca forte da identidade shipiba são os kenés (já declarados como patrimônio cultural do Peru), bordado mítico de padrões geométricos e labirínticos, inspirado pela cultura do chá de Ayahuasca. Nas cerimônias de beberagem desta receita milenar, preparada com o cozimento de plantas amazônicas, os xamãs Shipibo entoam seus ícaros, canções medicinais e curativas, e visualizam em suas mentes as formas e os desenhos que, depois, serão bordados em tecidos, ponto a ponto.
Os Shipibo são artistas ancestrais, suas técnicas e rituais são passados de geração em geração, articulando o conhecimento da biodiversidade, das artes, das práticas e plantas com poder de cura. “Com muita alegria e satisfação difundimos nossa cultura, através dos murais que criamos. Nos murais estampamos o conhecimento de nossos ancestrais, desenhos com padrões geométricos de energia, desenhos que falam da constelação do universo, plantas medicinais, o poder de nossos animais como guardiões de nossa selva”, diz Ronin Koshi, também ativista e líder indígena.
Vivência
De sábado (30) até terça-feira (2), o CURA promoverá uma vivência na praça de presença marajoara, em que o chão é entendido como sagrado, território dos mortos, da comunidade, de onde sai o alimento, de onde sai a cura, por onde correm os rios.
A vivência será guiada pela cozinheira, artista e pensadora indígena Tainá Marajoara, numa criação coletiva com outras três mulheres (Mayô Pataxó, Patrícia Brito e Silvia Herval). Um encontro que será, ao mesmo tempo, fruto de um processo artístico e de intenções, encantarias e espiritualidade.
Estarão presentes quatro alimentos-chave (farinha de mandioca, tucumã, pimentas e beijus), que são um pouco do gosto da floresta.
Durante a vivência guiada, haverá um espalhar de sementes nas pedras portuguesas. “A gente quer atuar num processo de contracolonização, florescer no chão (ainda que simbolicamente) jenipapo, tucumã, urucum... entendendo que a pedra da colonização precisa sair do nosso caminho e, com ele, este sistema de pisotear, de cimentar nossa memória, nossa história, nossa identidade. Será um gesto simbólico com poesia-criação-inspiração, que é base de construção dessa vivência, um gesto de replantar para que o território floresça entre as pedras portuguesas, da colonização, que insistem em ser atiradas sobre nós”, diz Tainá Marajoara.
Confira a programação do Cura para os próximos dias:
Até 2 de novembro:
De sexta a segunda:
De sábado a 2 de novembro: