Assassinado há 40 anos, Pier Paolo Pasolini é revistado em livro e no cinema

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
22/11/2015 às 12:54.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:02
 (Zeta Filmes / Divulgação)

(Zeta Filmes / Divulgação)

Um filme como “Saló – Os 120 Dias de Sodoma” pode ser encontrado hoje na gôndola de um supermercado, diferentemente de 30 anos atrás, quando a censura mutilou ou proibiu a exibição desse e de outros longas-metragens de Pier Paolo Pasolini. Mas a pecha de polêmico nunca deixará de acompanhar o diretor italiano, assassinado há 40 anos.

A lembrança dessa perda, ocorrida em 2 de novembro de 1975, é o ponto de partida para vários lançamentos e revisões da obra do cineasta. Enquanto “Pasolini”, cinebiografia de Abel Ferrara com Willem Dafoe no papel principal, não chega às telas mineiras, “Mamma Roma” (1962, foto ao lado) continua em cartaz no Belas Artes.

Além disso, a Cosac Naify acaba de lançar uma coletânea de poemas. Intitulada “Poemas: Pier Paolo Pasolini”, com organização de Alfonso Berardinelli e Maurício Santana Dias, a publicação traz à luz uma veia artística pouco conhecida do realizador, embora ele tenha se ocupado dela durante quase toda a sua existência, além de dialogar com outras atividades, como o cinema e os ensaios.

“Pasolini é sempre atual. Foi contra tudo na sua época. E se você assume uma posição positiva em determinado momento, acaba sendo superado pela história. Se ainda estivesse vivo, certamente se adaptaria e criaria outras polêmicas”, afirma Luiz Nazario, professor de cinema da UFMG e um dos principais especialistas em Pasolini no Brasil.

Expulso

Além de ter traduzido três obras do artista, Nazario lançou o primeiro livro sobre o diretor pela editora Brasiliense, hoje fora de catálogo, e, mais recentemente, “Todos os Corpos de Pasolini” (Perspectiva). Ele lembra que, apesar de ter sido militante do Partido Comunista, o intelectual foi expulso do partido, muito por conta de sua homossexualidade.

“Depois de uma festa em que transou com menores de idade, ele foi detido pela polícia e perdeu o cargo de professor. Acabou tendo que ir para Roma com a mãe”, lembra. O episódio remete um pouco à trama de “Mamma Roma”, em que uma prostituta (Anna Magnani) sai de sua cidade natal com o filho a tiracolo. “Nesse filme ele dá visibilidade ao subproletariado, numa época em que os heróis dos comunistas eram os operários. Mostrava a periferia de Roma, com suas favelas, algo que todo mundo queria esquecer”.

Foi exatamente o que chamou a atenção do servidor público Emmanuel Martins, um dos presentes à sessão de quarta-feira no Belas Artes. “O que mais me chamou a atenção é a questão da miséria humana, ligada ao conflito de classes, tema que parece unir todos os seus filmes”, destaca Emmanuel, conhecedor de outras três obras de Pasolini: “Teorema” (1968), “Decameron” (1971) e derradeiro “Saló” (1975).

Foto: Luiz Costa - Hoje em Dia

INTERESSE – Emmanuel Martins conferiu “Mamma Roma”

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