Autor mineiro autografa, nesta quarta-feira, seu quarto livro de crônicas

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
27/08/2014 às 08:18.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:57
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Para Luís Giffoni, não importa o gênero literário. O fundamental é conseguir provocar o leitor, transformar seu processo cerebral. “Engana-se quem diz que cortar o cérebro não dói. Dói, sim, ainda mais quando a faca está cega. Existe lâmina mais sem corte do que a palavra? Fere, mas custa”, escreve em “O Acaso Abre Portas” (Abacatte), seu quarto livro de crônicas, que será lançado nesta quarta-feira (27), na Quixote Livraria.

O livro apresenta 30 crônicas publicadas nos últimos oito anos em diferentes veículos de comunicação – inclusive no Hoje em Dia e na Viver BH, onde escreve semanalmente na atualidade. Há um pouco de tudo – como experiências em viagens, questionamentos contemporâneos, críticas a políticas e comportamentos sociais – com um ponto em comum, o humor.

“Abordo vários temas justamente porque a crônica não possui limites temáticos. O único limite é o do tamanho do jornal ou da revista. Fora isso, resta apenas a criatividade do escritor. Aposto especialmente em crônicas de viagem, um filão pouco explorado no Brasil”, afirma o escritor, que já esteve em mais de 50 países.

Além de trabalhar esses pequenos textos semanalmente e desenvolver um romance ficcional – neste momento, ele está escrevendo um que se passa em diferentes países da América do Sul –, Giffoni carrega consigo a bandeira da leitura por todo o país.

Ele visita escolas, empresas e diferentes instituições para mostrar como a leitura de livros ficcionais é importantíssima para a saúde do cérebro. “Muitos estudos do mundo inteiro provam que a leitura desenvolve o cérebro. Há um impacto na velocidade do pensamento e na l o n g e v i d a d e d o s neurônios. Além de facilitar o relacionamento entre as pessoas”, afirma Giffoni, que tem consultado pesquisas de diversas universidades que comprovam cientificamente os benefícios da leitura de ficção.

Lançamento do livro “O Acaso Abre Portas”, na Quixote Livraria (rua Fernandes Tourinho, 274). Nesta quarta, às 19h30. Entrada franca.
 
Pesquisas em viagens
 
O mineiro Luís Giffoni costuma fazer viagens longas em busca de informações para seus livros. Antes de escrever “O Pastor das Sombras” (2009), por exemplo, o autor refez os passos de Dom Frei Manoel da Cruz de São Luiz, no Maranhão, até Mariana, em Minas Gerais.

“Claro que não pude fazer todo o caminho a pé, como ele, mas boa parte do caminho foi assim. Outra parte foi de barco ou a cavalo”, conta Giffoni, que foi à China três vezes antes de escrever “O Despertar do Dragão” (2007).
 
A economia de um país pode crescer com leitura
 
“Leitura é uma questão de saúde pública e saúde econômica”, afirma Luís Giffoni. Explicando melhor: segundo o escritor, quem lê tende a chegar à velhice menos propenso à doença de Alzheimer. “Uma pesquisa feita nos Estados Unidos, com cérebros doados por freiras, indicaram que aquelas que liam ficção, estavam menos propensas a ter doença de Alzheimer”.

Mas por que essa leitura faz tão bem aos nossos neurônios? Segundo Giffoni, quando estamos lendo, a mente não diferencia ficção e realidade. Isso é fundamental para que, ao final da leitura, o cérebro possa refletir sobre o novo conhecimento, desenvolvendo o senso crítico.

Mas, afinal, por que a leitura seria um caso de saúde econômica? Giffoni também tem realizado palestras em empresas para divulgar esses benefícios. De acordo com o escritor, as entidades que investem em leitura de ficção entre seus funcionários possuem melhora na produtividade. Isso acontece porque os novos leitores passam a ter melhor senso crítico e melhor interpretação de texto. Assim, eles vivenciam um crescimento no domínio de suas atividades e passam a compreender com mais destreza os comandos da própria empresa. E o mais importante: quem lê é mais criativo.

País

Mais do que uma empresa em si, todo o país deveria investir nesse tipo de leitura – por isso a importância de se investir nesse estímulo em todas fases educacionais. Para Giffoni, quanto mais cedo uma pessoa adquire o gosto pela leitura de ficção, mais saudável ela será em toda sua vida, além de estar mais preparada para o mercado de trabalho.

“Um país que não tem bons leitores está fadado a não ter competitividade econômica, não vai conseguir ritmo adequado de crescimento”, diz o escritor. “Veja o caso da China. Há 25 anos, o país estava no mesmo patamar do Brasil em relação à leitura. Houve um forte investimento e hoje as pessoas de Xangai são os melhores leitores do mundo. Não por acaso, o país tem um crescimento econômico superior a 8% ao ano”.

Mas é importante compreender que não é qualquer leitura que é capaz de trazer todos esses benefícios. As pesquisas foram feitas a partir de livros de ficção – como romances, contos, crônicas, poemas. Noticiário, auto-ajuda, manuais técnicos e Facebook não contribuem para a saúde cerebral. “Os best-sellers típicos não costumam fazer tão bem ao cérebro quanto os livros mais reflexivos. Afinal, as metáforas mais estranhas ou complexas são as melhores para os exercícios cerebrais”.
 
Ponto a ponto
 
- Leitura de livros e textos ficcionais fazem muito bem para a longevidade do cérebro e para evitar o Alzheimer. Além disso, o bom leitor possui uma melhor compreensão de textos e sua criatividade é mais bem desenvolvida

- Um bom escritor deve, necessariamente, ser um bom leitor. A leitura é fundamental para a aquisição de um bom vocabulário e a aprendizagem sobre as regras gramaticais

- Empresas que investem no incentivo à leitura de seus funcionários percebem uma melhora na produção. O estímulo pode começar com uma biblioteca nas dependências da própria empresa ou com projetos de troca de livros

- Não gosta muito de ler? Talvez não tenha tido experiências prazerosas. Que tal começar por um livro bem-humorado? Luis Fernando Verissimo, Fernando Sabino, Mario Prata... Uma boa literatura policial – como de Rubem Fonseca – ou um livro de contos também podem ser boas portas de entrada para o mundo da leitura

- No Brasil, há aquele velho comentário de que livro é caro. Mas o preço não pode ser determinante para afastar as pessoas de uma boa leitura. Nas livrarias, é possível encontrar clássicos em formato de bolso – pequenos e acessíveis. Também é fácil encontrar bons exemplares em sebos
 
Quase metade dos alunos brasileiros leem muito mal
 
Estimular a leitura vai além de colocar livros em kits para estudantes da escola pública. É preciso haver ações efetivas para acabar com o enorme número de analfabetos funcionais que existem no país – e, por incrível que pareça, as faculdades estão cheias de pessoas que leem, mas não compreendem os textos.

De acordo com dados revelados este ano pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil está na 55ª posição do ranking de leitura – abaixo de países como Uruguai, Romênia e Tailândia. A avaliação, feita em 2012, verificou que quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros não alcança o nível 2 de desempenho no teste – que tem o nível 6 como teto.

“Vou muito a escolas públicas para dar palestras e percebo um completo desinteresse pela leitura. Não é à toa que apenas um em cada quatro alunos no Brasil consegue compreender bem um texto”, afirma Giffoni. Para o escritor, é preciso uma mudança cultural. “O Brasil é bom no futebol porque, quando um menino se destaca no esporte, há um incentivo na escola e na família. Mas se o menino é bom nos estudos, ele logo é taxado de caxias, CDF, nerd. A escola nivela por baixo”.

As várias feiras literárias realizadas no Brasil podem contribuir para o aumento no número de leitores, segundo Giffoni. Somente na Bienal Internacional do Livro de São Paulo (que termina no próximo domingo), há uma expectativa de um público de 700 mil pessoas. “Os eventos contribuem muito na divulgação da literatura. Mas o mais importante é o público ter contato com o escritor, compreender que ele é acessível, uma pessoa normal. Já fui a muitas escolas em que os garotos achavam que escritor era uma espécie de bicho intocável”.
 

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