(Hoje em Dia)
Um ar dolente, histórico e apaixonado pode ser sentido nas letras e melodias de um cidadão belo-horizontino de 83 anos. Este embalo pode ser ouvido no CD do “cidadão calafatense”, o cantor e compositor João Mendonça - a primeira estrela popular a ser homenageada no projeto “Estação Calafate”, expressão que também dá nome ao CD do artista. O disco será lançado nesta terça-feira (23), às 19h, no Espaço Cultural Scada Café, do Cine Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.580, Lourdes)
A maioria das músicas do artista – e o CD mostra apenas uma seleção delas - foi feita em viagens pelo interior de Minas, quando trabalhava como caixeiro-viajante, e em mesas de bar de BH. O CD traz nove composições de Mendonça. Elas são interpretadas pelo autor, que é acompanhado por banda formada pelos filhos e por amigos.
Galã do rádio
E foi no rádio, ainda na juventude, que Mendonça pode exercer boa parte dos seus dons artísticos. Em meados do século passado, ele integrou o "Galãs do Ritmo". O grupo experimentou sucesso na Rádio Mineira e, mesmo depois da fama, já trabalhando como comerciante pelas estradas empoeiradas de Minas, Mendonça não largou a música.
Uma das músicas que representam esta fase é “Canção de Ninar”, fruto da saudade do filho Rodrigo, então no primeiro ano de vida. Nos anos 1970, a faixa foi finalista do Festival Mineiro da Canção, na TV Itacolomi. “O bicho-papão é o mundo,/ seu sono vou proteger,/ pra que você acorde, menino,/ num lindo amanhecer”.
Ainda no disco, a música “Flor do Amor” também teve o mesmo caminho deste concurso, em ano seguinte. E ela diz: “Não há ninguém no mundo/ que não sofreu na vida/ uma desilusão de amor./ Alguém que não sentiu/ pontada dolorida/ do espinho de uma linda flor”.
Quase uma letra de seresta... E é esta mesma levada musical, tipicamente mineira, que também aparece em “Triste sem Você”, outra faixa.
Ode ao bairro
“Deus, sorrindo, disse: O Calafate é ali. Eu vou pra lá, não fico mais aqui”. Este é o “gran finale” do CD, no qual Mendonça faz homenagem ao bairro que escolheu para viver. Os versos compõem a letra do “Hino do Calafate”, também de autoria dele.
A marcha é uma declaração de amor sem limites ao bairro da Região Oeste de BH. A letra ainda faz referência à rotina - não apenas do bairro, mas da confusa metrópole em que BH vinha se transformando. As faixas “Mulher da Rua Turquesa” e “O Meu Bairro é Assim” também utilizam a capital como inspiração.
Por meio de pesquisas e iniciativas culturais, o projeto “Estação Calafate” está reunindo material inédito e histórico sobre o bairro Calafate, um dos mais tradicionais de Belo Horizonte. A iniciativa foi viabilizada graças à seleção e obtenção de recursos via Lei Municipal de Incentivo à Cultura.
Além do lançamento de hoje, o disco será enviado a escolas públicas, bibliotecas e centros culturais de BH. Isso, para que o tal sentimento "dolente, histórico e apaixonado" por BH, pela letra de uma de suas "estrelas populares", seja conhecido pelas novas gerações.