Baixista da nata da MPB, Dadi lança livro recheado de histórias

Elemara Duarte - Hoje em Dia
01/12/2014 às 08:31.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:13
 (Pedro Lóes)

(Pedro Lóes)

O baixista Dadi já tocou com a nata da MPB: Jorge Ben Jor, Novos Baianos, Rita Lee, Barão Vermelho, Arnaldo Antunes... Tanta memória, naturalmente, tinha que ser revista – e mostrada ao público. E é isso que este músico carioca tarimbado escreve no livro “Meu Caminho é Chão e Céu” (176 págs. R$ 30, Editora Record), que chega agora às livrarias.

De Caetano Veloso, por exemplo, ele ganhou a música “O Leãozinho” como homenagem. “Quando voltei do exílio londrino, Dadi era o menino encantado do apartamento/acampamento dos Novos Baianos. O leonino total, solar. (...) Essa canção diz tudo do alto-astral que é esse carioca de coração claro”, depõe Caetano, ao livro de memórias.

No Novos Baianos, o lendário álbum “Acabou Chorare” contou com a participação dele também. “Precisávamos de um baixista. (...) Fomos todos ao Arpoador, conhecê-lo em seu habitat. Estávamos com o projeto de gravar um novo disco, o ‘Acabou Chorare’. (...) Tínhamos uma banda maravilhosa, onde Dadi se destacava com seu ‘baixão’, como ele mesmo dizia”, lembra o baiano Moraes Moreira, na mesma publicação.

Mas Dadi, hoje, aos 62 anos, parece mesmo é ficar “de boa”, sem ostentação ou afetação, diante deste histórico com tantas participações fundamentais para a construção da música que é a essência do país. “Eu não sou um escritor, sou um músico que teve a sorte de participar de alguns momentos maneiros da música brasileira”, esclarece. Deixe estar, senhor “Leãozinho”, o leitor vai “entrar numa” na entrevista a seguir e entender todo seu legado.

Não teria demorado demais para você contar a sua história?

Começar um livro é que é difícil. Todo mundo ficava me dizendo que eu tinha que escrever um livro. Aí, comecei a escrever um lance para um disco que eu estava lançando no Japão e comecei a pensar melhor nisso. Escrevi no computador e minha irmã, que é revisora, foi ajudando. Eu escrevia e mandava para ela. Ela mandava de volta. Durou três meses e ficou pronto em 2008.

Em 2008? Mas por que saiu somente agora?

Mandei para a Record e dez dias depois assinamos o contrato. Mas a minha experiência é gravar disco. Eu não tinha empresário cuidando disso. A Record é muito grande. E foi ficando. Aí, me procuraram neste ano. Dei uma relida, tirei coisas que não achava bom falar. Bom que amadureceu o texto. Veio o pique. E agora está pronto.

E esse monte de depoimento de músicos da pesada que deixou depoimentos para você no livro?

Sugeriram para eu pedir a eles, mas fiquei meio sem graça de ligar para as pessoas. Achava meio um “aluguel”. Aí, disseram que estava chegando o prazo final para fechar o livro. Resolvi mandar um e-mail para todo mundo: Caetano, Arnaldo... Disse que, infelizmente, tinha pouco tempo e pedi que se tivessem tempo e pudessem mandar algum depoimento e tal. Em um dia eles mandaram muita coisa. Fiquei emocionado.

O que é ser respeitado, heim?

Ah, fiquei até orgulhoso...

Tocar com tantos músicos importantes, isso é predestinação?

Eu acho que foi sorte. Uma sorte musical. Eu chamaria de talento (Risos) Dei sorte de conseguir corresponder à expectativa das pessoas que me chamavam. E dei sorte de poder aprender com eles também. Música para mim é uma coisa tão importante... Na verdade, a música é o meu remédio. Quando gosto de uma música, sei que vou gostar para sempre. Volto a ela, escuto de novo e aquilo me faz bem, traz de novo um momento, uma sensação boa. A gente foca tanto naquilo que acaba dando certo. E também uma coisa foi levando a outra. Novos Baianos, aos 18, Jorge Ben, A Cor do Som... É isso.

Além da musicalidade que os Novos Baianos deixaram nos discos, o que mais você acha que eles ensinaram para o público, no que se refere ao lado comportamental?

Eu sou carioca e tinha a casa dos meus pais aqui no Rio. Tinha momentos que a gente tocava bastante. Mas tinha época que não tinha muito trabalho, então, viajava com amigos meus. Mundialmente acontecia isso. Eles não achavam que eram hippies. Mas era a época da paz e do amor. Todo mundo vivia isso, dividia as coisas. Acho interessante isso. Lógico que é uma utopia.

Mas por um breve tempo não foi uma utopia...

Quanto mais a gente puder ser irmão um do outro, as coisas vão funcionar melhor. Quem sabe um dia isso não vira realidade, uma harmonia legal.

Era realmente gostoso viver com eles?

Era divertido demais! Era tipo jogar bola de manhã, tocar à tarde e filosofar à noite, conversar. Não precisávamos muito de dinheiro. A música também não dava muito dinheiro na época. Não tinha tantos trabalhos, tanto show. Era como um casamento. Depois de um tempo algumas coisas ficaram mais difíceis. Mas foi uma escola.

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