Longa estrelado por Andréia Horta retrata horrores reais ocorridos no Hospital Psiquiátrico de Barbacena
(Léo Aversa/divulgação editora Intrínseca)
Baseado na premiada obra Holocausto Brasileiro, da jornalista mineira Daniela Arbex, o filme Ninguém Sai Vivo Daqui estreia nos cinemas em 11 de julho. Estrelado por Andréia Horta e Fernanda Marques, o longa retrata na telona os horrores reais ocorridos no Hospital Psiquiátrico de Barbacena, relatados por Arbex no trabalho eleito o Melhor Livro-Reportagem de 2013 pela Associação Paulista de Críticos de Arte e segundo colocado na mesma categoria pelo Prêmio Jabuti (2014).
O roteiro segue Elisa, jovem que, após engravidar do namorado no início dos anos 1970, é internada à força pelo pai no manicômio, conhecido como Colônia. Vítimas de todo tipo de abusos no local, a moça e outros internos se unem para descobrir uma forma de fugir de lá.
Fundada em 1903, a instituição tornou-se depósito de homens e mulheres — e até de crianças — indesejáveis para o convívio social: homossexuais, prostitutas, mães solteiras, meninas violentadas pelos patrões, moradores de rua ou moças que tinham perdido a virgindade antes do casamento. Os pacientes, muitas vezes sem diagnóstico de doença mental, eram submetidos a condições desumanas com o consentimento do Estado, de médicos, de funcionários e da sociedade.
Quando chegavam ao Colônia, os internos tinham as cabeças raspadas e as roupas arrancadas. E isso era apenas o começo: no dia a dia eram submetidos a toda ordem de maus-tratos, como mostra o premiado livro de Daniela Arbex, publicado pela editora Intrínseca.
Mesmo nas madrugadas frias da serra da Mantiqueira, eram atirados ao relento e perambulavam nus pelos pátios. Comiam ratos, bebiam esgoto e urina, dormiam sobre o feno, além de serem submetidos a torturantes sessões de eletrochoque. Pelo menos sessenta mil pessoas morreram dentro dos muros do Colônia — a maior parte entre as décadas de 1960 e 1970. Entre 1969 e 1985, quase dois mil cadáveres foram vendidos clandestinamente para dezessete faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Em 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia, pioneiro da luta pelo fim dos manicômios e defensor do tratamento humanizado, conheceu o Colônia e declarou nunca ter visto uma tragédia como aquela.
Num árduo esforço de apuração, Daniela Arbex localizou sobreviventes e entrevistou ex-funcionários para resgatar de maneira detalhada e emocionante as histórias de quem viveu de perto o horror perpetrado por uma instituição com o propósito de limpeza social comparável ao nazismo. Holocausto brasileiro é o relato essencial de um capítulo obscuro da história brasileira, o que fez dele um marco do jornalismo investigativo no país.
Daniela Arbex conquistou ainda outros 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três prêmios Esso e o americano Knight International Journalism Award. Foi repórter especial do jornal Tribuna de Minas por 23 anos e atualmente dedica-se à literatura.
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