(Christus Nóbrega/Divulgação )
Através das tramas da renda e da revisita ao álbum de família, o artista plástico paraibano Christus Nóbrega apresenta obras inéditas na exposição “Labirinto”, em cartaz a partir de amanhã no Palácio das Artes.
A memória pessoal do artista, de sua família e da Paraíba ganham contornos nas 20 obras selecionadas, que passam pela fotografia, foto-instalação, foto-objeto, vídeo-instalação e escultura.
Como o próprio título sugere, na exposição, as produções são posicionadas em uma estrutura labiríntica, onde “as coisas vão se revelando aos poucos”, como explica o artista.
Tendo como ponto de partida a trajetória familiar de Nóbrega – cenário que se assemelha ao de várias outras famílias brasileiras – e um tipo específico de renda, a labirinto, o artista mescla o trabalho das artesãs às artes visuais.
A decisão pela renda labirinto, não é fruto do acaso. Além de ser um artesanato típico da região, Nóbrega conta que reconheceu também no estilo da produção – caracterizada pelo desmantelamento da drama do linho e posterior reconstrução em diferentes desenhos – uma metáfora para a história de sua avó. “Ela tinha seis filhos, quando ficou viúva. Naquela época, a lei não dava às mulheres o direito à pensão. Como ele não tinha renda, ela teve que entregar os filhos para que outras famílias criarem”, conta. “A renda traz essa questão do desmantelamento e da reconstrução, por isso achei que seria uma boa maneira de contar a história da minha família”, explica.
O artista conta que o trabalho, que durou cerca de três anos, foi feito em conjunto com as artesãs. “Imprimia as fotos e levava as imagens para que elas fizessem essas interferências com a renda”, diz o artista.
Volta para casa
Nóbrega, que hoje vive no Distrito Federal, destaca a experiência de voltar à terra natal. “Costumo usar a parábola do filho pródigo para falar sobre essa experiência. Ela é uma história muito interpretada de uma maneira que reforça o arrependimento por ter ido embora. Eu faço uma leitura diferente, acredito que o filho é celebrado não porque voltou para casa, mas sim porque se atreveu a sair de casa e explorar o mundo. Esse retorno, para mim, não tem um peso moral, mas vem como um momento de comemoração, porque você se reconhece no estranho, no que lhe é diferente. Esse meu retorno tem um pouco disso, de transformar o familiar em exótico e o exótico em familiar”, explica.
Serviço: Exposição Labirinto, de Christus Nóbrega, de amanhã a 4 de março, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro). Entrada gratuita