Buchecha lança DVD em comemoração aos 17 anos de carreira

Elemara Duarte - Do Portal HD
25/01/2013 às 15:57.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:09
 (Divulgação)

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Claucirlei Jovêncio de Souza, 38 anos, é músico, mas adora ler poemas de Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes. Falando assim, nem parece que isso é descrição do perfil de um dos mais importantes representantes do funk melody no Brasil. Claucirlei ou Buchecha, completa 17 anos de carreira - parte deles vividos juntamente com Claudinho, seu "mano que está lá no céu". Para celebrar a data, o artista volta ao mercado fonográfico com seu primeiro DVD.

A gravação foi feita em Porto Alegre, no final de 2011. Mas funk carioca em Porto Alegre? "O funk não pode ter barreira. Tenho necessidade de ver artistas desse ritmo em outras cidades do Brasil. Por isso, levei a gravação para lá", justifica, em entrevista ao Hoje em Dia, pelo telefone. Na apresentação, uma dezena de músicas de sucesso é cantada do início ao fim pelos gaúchos que lotam a pista.

"O funk fincou as bases no nosso cenário musical, o Naldo, por exemplo, está aí com sucessos estourados. Ele é continuidade daquilo que a gente começou. Eu e o mano que está lá no céu", diz Buchecha, numa referência ao companheiro de palco, que morreu em 2002, durante acidente de carro.

O show conta com as participações dos cantores Belo e Jorge Vercilo. Além dos sucessos da carreira de Buchecha, o DVD traz também músicas novas. Exemplos: “Beyouncezinha”, que já pode ser conferida nas rádios brasileiras, e “Hot Dog”, que faz parte da trilha sonora de uma novela.

Mas chegar ao reconhecimento nacional não foi fácil para a dupla carioca. "Na época, o funk era muito de gueto e as pessoas olhavam com preconceito. Quando acontecia alguma coisa de ruim na cidade, de violência, era sempre atribuído ao movimento". Buchecha lembra-se de que quando ele e Claudinho surgiram, "falando de amor e com sorriso no rosto", o público conheceu outro tipo de funk.

Boyzinhos do funk

"Tínhamos que mostrar que na comunidade também tem coisa boa. Mas, nessas épocas, até o pessoal do gueto começou a criticar. Eles nos chamavam de 'boyzinhos do funk'". A dupla surgida em 1996 foi a pioneira no Brasil no uso de instrumentos musicais juntamente com as batidas tradicionais do ritmo. "Queríamos transformar o funk em uma coisa mais aceitável em todo Brasil", recorda.

Para Buchecha a versatilidade do funk - seja no melody ou no de consciência social, entre outras vertentes - é uma energia que contagia todo mundo, especialmente pelo jeito de dançar livremente. "No funk, se balançou a cabeça, está certo. Conhece aquela frase 'tamo junto e misturado'? Pois o funk é isso. Ele veste todas as camisas".
 
Mas Buchecha gosta mesmo é de vestir a camisa do amor e do bom humor. E hoje, ensina: "Sucesso é o mérito". Ele é autor de mais de 200 músicas - a metade gravada, entre as quais, algumas dezenas de hits. Buchecha diz que só estudou até a quarta série e que compõe com ajuda do dicionário.
 
"O dialeto dos funkeiros era meio pesado. Procurávamos falar com um pouco mais de tranquilidade. Isso é primordial na composição". Com isso, a dupla emplacou funks em novelas e caiu no gosto da classe média, de crianças e também da juventude "do asfalto".
 
Com o hit “Conquista” do primeiro CD “Claudinho e Buchecha” (1996), conseguiram espaço na mídia e chegaram às paradas de sucesso de todo o país. As vendas chegaram até a marca de 1,2 milhões de cópias. A dupla se apresentava com divertidas coreografias e refrões simples como:  "Sabe, tchu ru ru ru... Estou louco pra ter. Oh, Yes!”
 
"É uma oposta. No caso de Só Love (1998), bateu o recorde de execução. A galera vai repetindo. Quando a gente faz uma música, na hora vem a identificação na ideia: 'Isso aí estoura!'.

Grude musical
 
A fórmula do grude musical tem uma técnica: "Uma vez, eu assisti uma palestra que dizia que se você repetir três vezes alguma palavra, já fica gravado na cabeça de alguém. Em "Só Love", a gente repetia essa expressão quase 100 vezes! Por isso, temos cuidado com o que repetimos, para que não seja uma palavra que já saia com uma energia ruim".
 
Buchecha acredita no poder da energia. "Quando o Regis Danese (cantor gospel) canta pedindo a Jesus 'entra na minha casa, entra na minha vida', aquilo dá uma energia boa. Quem não quer uma coisa boa em casa? E quem não quer 'só love' na vida?", compara.
 
Em 17 anos, inspiração não falta a Buchecha. "Enquanto houver mulheres vai haver inspiração. Para a mulher, todo mundo tem um quê de poesia na ponta da língua. Mulheres são abundantes no gesto, na maternidade, na doçura".
 
E é por causa da ala feminina que Buchecha acredita que se torne um pouco poeta, mas apenas "em alguns momentos". Tempo raro, mas certamente suficiente para que ele convença multidões em todo Brasil a "só" entrar no amor.
 
Funk entra nas ondas do rádio em BH
 
"Funk Melody é um estilo musical que tem uso de instrumentos e letras voltadas para o romantismo. Ele descreve um sentimento ou um romance vivido por determinada pessoa, ou mesmo, pelo intérprete da música", identifica Warley Leandro, o DJ Arame, apresentador do programa "O Fervo", todas as tardes, na Rádio Autêntica Favela FM, em BH. O programa guarda uma das maiores audiências da emissora graças ao repertório ao qual se dedica: o funk... Mas, desde que tenha letras que não agridam, avisa o apresentador.
 
No programa que comanda, Arame lança novos talentos nessa linha "do bem". MC Pretinha BH, de apenas 8 anos de idade, é a última aposta. A garotinha canta em "Conto de Fadas", seu principal sucesso, a história da menina "mais humilde da favela, que vira Cinderela".

 "Estamos batalhando para mostrar para o jovem a verdadeira cultura do funk que é a conscientização, o amor", reforça o DJ Arame, há mais de 15 anos na profissão junto das pick ups. Nesse pacote, letras que trazem palavras de violência e de banalização do sexo estão fora. "Para quem liga pra cá pedindo esses outros tipos de funks, mostramos que há um caminho melhor. Mas procuramos cativar esse ouvinte para sermos amigos", ensina.
 
O funk melody está sempre entre as mais tocadas do programa. Arame explica que a vertente surgiu na década de 1990, nos Estados Unidos. No Brasil, passou a ser interpretado por nomes como o MC Abdulah, do Rio, que atualmente atua na música Gospel.
 
Outro nome muito conhecido do melody é do MC Marcinho, entre os sucessos dele está "Garota Nota 100". Nesse meio, lista o DJ Arame, pode ser citado ainda o grupo Copacabana Beat ("Como é doce o beijo quando vem da sua boca...", quem não se lembra desse refrão?). "Mas quem fez história foi Claudinho e Buchecha", aponta. Em BH, a MC Bell, hoje fora da profissão, foi um dos destaques daquela época, informa.

 
Mas quem é o "rei do melody" mesmo é o cantor Stevie B, que Arame considera "um clássico do funk melody internacional". Stevie B hoje é um cinquentão norte-americano que é casado com uma brasileira. O artista tem dezenas de discos gravados, entre eles, músicas em parceria com o cantor carioca Latino, outra fábrica ambulante de hits do funk melody, no Brasil.
 
Recentemente, outro "rei" também se dedicou ao funk romântico. Roberto Carlos entrou na onda do funk melody com a música "Furdúncio", uma composição dele com Erasmo Carlos. A música entrou pra trilha de novela, provando que onde tem alguém falando de romantismo, Roberto Carlos está junto.
 
Arame pontua que o funk nasceu do soul, nos anos 1980, com letras de protesto. E avalia: "O melody é a prova de que temos que mostrar o lado bom da vida também".

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