Cacá Machado lança Eslavosamba, seu primeiro disco, com participações especiais

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
20/04/2013 às 09:32.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:59

Cacá Machado tem um currículo considerável como pesquisador, historiador, escritor e criador de trilhas, especialmente para o teatro. Atuou também na política, ao comandar o Centro de Música da Funarte (Cemus) durante a gestão Juca Ferreira no Ministério da Cultura e é professor da USP. Restava ao artista apresentar ao mundo um disco autoral, se fazer conhecido num universo pouco atento aos créditos dados aos compositores.

Pela YB Music, o artista acaba de lançar “Eslavosamba”, um belo trabalho experimental sobre samba e música contemporânea, contando com participações de peso. Em vez de soltar a voz, ele convidou prestigiados amigos para cantar nas gravações. Assim, as 11 faixas são interpretadas por Elza Soares, Márcia Castro, Zé Miguel Wisnik, Juçara Marçal, Ná Ozzetti, Arrigo Barnabé e outras feras.


Para a instrumentação, montou duas bandas com nomes bem conceituados da cena paulistana. A que ele chama de “elétrica” é formada por Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Meno del Picchia e Guilherme Kastrup (também produtor do disco).
Já as três faixas mais “acústicas” contaram com o violão 7 cordas de Swami Jr e o baixo acústico de Zeca Assumpção. A direção musical é de Rômulo Fróes.

Valsa com atabaques e voz de Arrigo Barnabé


O nome “Eslavosamba” é bastante revelador da proposta do álbum. Estão lá a herança do samba e dos ritmos de origem africana, mas também a originalidade e pluralidade de influências de seus parceiros. “Quando pensei em gravar um disco, me dei conta que boa parte dos meus parceiros de samba tinham sobrenomes eslavos: Zé Miguel e Guilherme Wisnik, Arthur Nestrovski, André Stolarski”, diz Cacá Machado.


Segundo ele, a ideia de um música “desconstruída” foi desenvolvida graças às parcerias com um pessoal interessado em pensar novas possibilidades ao ritmo brasileiro (Kiko Dinucci e Rômulo Fróes são bem-sucedidos nisso) e também pelo seu histórico como um músico sem escola bem definida. “Não sou ligado a uma tradição bem definida. Não toco samba de um determinado lugar, não é samba de raiz nem de vanguarda. Gosto mesmo é do trânsito entre estéticas e linguagens”.

Cada faixa foi cuidadosamente pensada para soar instigante. O melhor exemplo é “Valsa Lunar”, parceria com Guilherme Wisnik. Criada como uma valsa tradicional, dentro da tradição formatada por Ernesto Nazareth (objeto de estudo de Cacá), ganhou influência da percussão africana, perfeita para o casamento com as vozes de Juçara Marçal e Arrigo Barnabé.


“Quis desconstruir o que conhecemos de valsa. Na primeira parte, a Juçara canta com atabaques, fazendo ecos de um passado africano. Mas não deixa de ser uma valsa brasileira”, diz o músico. “O Arrigo, uma referência para mim, faz um contraponto à voz da Juçara, que tem uma técnica vocal mais erudita. Ele tem a violência afrobrasileira, a vanguarda da música”.
“Eslavosamba” está disponibilizado para download gratuito no site cacamachado.net. Seu show de lançamento acontece nos dias 4 e 5 de junho, em São Paulo, com todos os músicos e cantores que participaram do trabalho. (CO) l


Cacá poderia ter gravado tudo em seu pequeno estúdio, tocando todos os instrumentos, como sempre fez. Mas preferiu seguir um caminho mais complicado e instigante ao reunir tantos amigos em gravações ao vivo, concentradas em três semanas.


“Sempre toco tudo no meu estúdio e é um processo muito solitário”, diz Cacá, que preferiu gravar em um espaço maior. “Eu precisava de parceiros e o Kastrup foi fundamental para escolha de repertório e contraponto. Eu vim com uma bagagem melódica, enquanto ele, um percussionista, com a intuição e a força”.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por