Caio Vilela: futebol é brincadeira

Elemara Duarte - Hoje em Dia
01/07/2014 às 08:39.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:12
 (Caio Vilela)

(Caio Vilela)

“Onde Mora o Futebol?” pergunta o título do livro do fotógrafo Caio Vilela disponível, agora, nas livrarias.   Por acaso, o futebol mora nos estádios “padrão Fifa”? Por lá, ele dá uma passada rápida. Mas as fotografias de Vilela mostram que ele mora mesmo é no campinho de terra – na lama e na poeira – na praia, no asfalto. Nos pés de meninos e também de meninas.    As marcas do gol podem ser duas Havaianas, duas garrafas pet, dois tijolos no chão. Chuteira de marca? Que nada! Pés descalços. Bola com design avançado? Piorou. A “pelota” quanto mais detonada e esculpida pelos chutes, melhor. O fato é que nada disso é problema para quem ama o lado lúdico do esporte mais popular no Brasil. A espontaneidade é o único juiz na cola dos milhões de jogadores dessas categorias.    “Nunca fui dos craques quando criança, nem entusiasmado em acompanhar jogos pela televisão. Mas sempre soube aplaudir qualquer jogada bonita, seja de qual time for”, ensina.   Para a publicação de 152 páginas, lançada pela Cultura Sustentável Editoração e vendida a R$ 80, o fotógrafo viajou para todos os estados brasileiros – inclusive Minas Gerais, onde flagrou uma pelada próxima da Igrejinha da Pampulha. Porém, o roteiro não foi exclusivo para esta publicação.    Este é o quarto livro de Vilela sobre futebol. No primeiro, o “Futebol Sem Fronteiras” (2009, Panda Books), o fotógrafo mostrou o futebol de rua em 26 países, até lá para as bandas geladas da Antártida.    No ano passado, vieram mais dois títulos: “Futebol Arte – Do Oiapoque ao Chuí” (Editora Grão), com fotos sobre o esporte em todos os estados brasileiros. E, o terceiro, intitulado “Goal”, foi lançado apenas fora do Brasil – na Inglaterra, Holanda, França, Itália e Estados Unidos, como proposta de uma editora internacional. “O meu trabalho é acompanhar equipes estrangeiras de TV no Brasil. Estou sempre na estrada e sempre vejo alguém e o futebol”.      Campinho improvisado, lama, pés descalços e a tal ‘espontaneidade’   Qual foi a última vez que você viu seus filhos se divertirem sem ter que gastar dinheiro? Repare: cada vez mais, crianças e adolescentes, especialmente das áreas urbanas, vão ficando sem opção para viver os momentos de lazer de forma gratuita. Por que não uma pelada? É shopping demais, eletrônicos demais, consumo demais, violência, nem se fala. Falta campinho, lama, pés descalços – e a tal “espontaneidade”.   Paulista, o fotógrafo Caio Vilela diz que a meninada do “seu tempo” jogava bola na pracinha do bairro onde cresceu. Antes, a praça era mais “árida”. “É o bairro onde moro até hoje. Essa pracinha não tem o campinho, tem árvores”. Menos mal. Porém, ele admite: “Campinhos improvisados estão em extinção em São Paulo”.   No bairro, o que salva é quando o trânsito dá uma amenizada. Aí, os garotos montam uma pelada. “Aqui, há placas de trânsito mostrando uma pessoa jogando bola, para sinalizar este costume”.     Balé no campinho   “Alguns escolhem ir ao shopping, brincar com algum motorzinho ou ir ao cinema. Mas acho que a poesia não mora aí”, compara. E falando da beleza na simplicidade do lazer, Vilela diz que sempre enxergou muita “dança” no futebol. “Quando fotografo futebol é como se estivesse vendo o balé da escola de dança das minhas irmãs”, compara.   E sobre os espetáculos com entrada para poucos na Copa do Mundo, Vilela diz que este “é o trato do restaurante mais caro. E a pelada é o arroz e feijão. A raiz do futebol é essa. Afinal, como a Fifa ia fazer a entrada a R$ 1?”, questiona.     DEPOIMENTOS   Moraes Moreira   “Sou amante do futebol. Total. Desde criança, na minha terra jogando as peladas nas ruas. Sem juiz, sem regra... Vai quem pode, quem gritar mais. Nas praças, depois fizemos o “Novos Baianos Futebol Clube”, o nosso time, depois o disco com este nome. Mas não ligue para esta contusão. O que importa é a poesia do que eu estou lhe falando...   Música e futebol. Tema que uso em várias canções. Estou assistindo a Copa sem parar. Estão querendo azarar o Brasil. Eu e Davi (Moraes, filho do músico), vamos fazer o show “Música e Futebol” no Circo Voador (no Rio de Janeiro), um dia antes da final da Copa.    São as duas paixões do brasileiro.  E as minhas também”.   Baiano, músico, flamenguista e peladeiro (mas na base da “poesia”).     Paula Pimenta   “Meu avô era americano. Mas, naquela época, o América era um time grande. Então, no aniversário do meu irmão, Bruno, na Copa de 1982, cada um foi com a camisa do time do coração. A gente, por causa do meu avô, foi de América. Mas eu tinha medo de bola, levava muita bolada das meninas na queimada. Estou relançando o livro “Fazendo Meu Filme”, mas em quadrinhos. Em agosto, sai o primeiro volume: “Antes do Filme Começar”.    No final do ano, sai “Azar no Jogo e Sorte no Amor”, uma história passada em um clássico do Cruzeiro e do Atlético. Tem um romance por trás. Espero que não seja uma premonição para a Copa. (risos)”.   A mineira, best-seller de livros para adolescentes, tem medo de bola.

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