Candidato a estar entre os melhores filmes do ano, o colombiano 'Monos' estreia nos cinemas

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/11/2020 às 18:50.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:01
 (PANDORA/DIVULGAÇÃO)

(PANDORA/DIVULGAÇÃO)

Em “Monos – Entre o Céu e o Inferno”, cartaz de hoje nos cinemas do país, há uma cena muito simbólica das referências deste filme colombiano, em que um garoto paramilitar aparece com o rosto todo pintado de preto. O olhar dele expressa um misto de loucura, poder e liberdade propiciado pela atmosfera da selva, num denso e psicodélico mergulho em suas entranhas que nos remete imediatamente ao capitão Willard e ao general Kurtz.

Willard e Kurtz são os personagens de “Apocalypse Now” (1979). No auge de sua loucura, o Kurtz interpretado por um careca Marlon Brando pinta o rosto como se se preparasse para uma outra guerra que não a do Vietnã, pano de fundo do longa de Francis Ford Coppola. O diretor de “Monos” – o equatoriano naturalizado Alejandro Landes, nascido no Brasil – também encaminha a narrativa neste sentido, na busca do entendimento de qual o verdadeiro conflito que está sendo travado.

Quem entrar na sala de cinema sabendo que se trata de uma produção originária da Colômbia imaginará que a organização a qual o garoto e outros sete jovens pertencem são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas isso não fica explícito no filme – tanto a localização como o nome do grupo. Eles estão sozinhos no alto de uma montanha, próxima do céu do título, de onde se vê nuvens um pouco acima, num cenário exuberante.

Sem ideologia
Na primeira cena, eles parecem participar de uma brincadeira, sensação acentuada por apelidos extraídos da cultura pop, como Rambo e Smurf. Logo depois compreendemos que se trata de uma acampamento secreto e que são responsáveis por esconder uma refém americana. O filme não está preocupado em discutir o que estão fazendo, do ponto de vista ideológico, focando na deterioração da disciplina em função do que a selva e o isolamento passam a representar para eles.

As roupas (do frio da montanha) vão se desfazendo, assim como a ideia de um grupo único e igual, experimentando as suas sexualidades e liberdades, surpreendendo o público com aquele que emergirá ao final como o grande protagonista. Ele aparece num helicóptero, rumo à cidade grande, em que um tripulante diz ser de “identidade desconhecida”, num claro contraponto à selva, que conferia ao grupo uma falsa impressão de domínio e independência.

A partir da excelente trilha sonora de Mica Levi (de “Jackie”, dirigido pelo chileno Pablo Larraín), há uma inquietação permanente, reforçada pelas locações cada vez mais claus-trofóbicas. E a resposta para ela é mais simples do que se imagina, ao apontar para o que realmente importa: a “guerra interior” que se dá quando passamos para a idade adulta. A diferença é que isso se dá num momento em que estão com armas em punho e podem decidir sobre qual vida poupar.

Veja o trailer:

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