Cantora Elis Regina faria 70 anos nesta terça-feira

Elemara Duarte - Hoje em Dia
17/03/2015 às 09:22.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:22
 (Álbum de família)

(Álbum de família)

Os 70 anos de nascimento de Elis Regina, lembrados nesta terça-feira (17), trazem de volta à memória o legado desta que é considerada uma das maiores cantoras do país. Mas, afinal, o que a obra dessa intérprete ainda tem para ensinar ao mundo, 33 anos depois de sua morte?

“Mostrará haver grandes artistas ainda a serem revelados, demonstrando ser o século 20 muito mais interessante do que sabemos. Elis é uma outra escola de canto!”, responde a pergunta do Hoje em Dia, o filho mais velho da cantora, o produtor musical, João Marcello Bôscoli.

E parece que o “interessante” desta “outra escola” realmente vem sendo assimilado pelas cantoras da nova geração – muitas delas que sequer viram Elis Regina em um palco, ao vivo, salvo por vídeos e discos.

A reportagem procurou algumas dessas “alunas” em Belo Horizonte, para saber que lições são estas que a “mestra” Elis deixou para elas. São intérpretes com trabalhos ao estilo folk jazz, bolero e até sertanejo.

Para Carla Lopes, uma das vozes mais conhecidas da noite na capital mineira, e considerada a “rainha do bolero em BH”, Elis sabia escolher repertório, além de se expressar com “a alma”.

“Muitas intérpretes hoje cantam de uma forma mecânica, não interpretam o acontecimento da letra. Elis vivia o que cantava”, aponta Carla, que tem seis CDs gravados.

Como as divas do jazz

Integrante da banda Transmissor e com forte atuação no folk jazz produzido em Minas Gerais, Jennifer Souza diz que ouve Elis especialmente nos vários vinis que tem da cantora gaúcha em casa. “Ela tem uma força parecida com a das grandes divas do jazz. Ela é completa, mas não no sentido de ser perfeita, mas no sentido de ser forte e ao mesmo tempo frágil”, indica.

Portanto, diz Jennifer, aos 32 anos, na interpretação da música, se expor, sem medo de se mostrar frágil, também é algo que se ensina.

Mas e carisma? Há lição para isso? “O carisma dela é nato”, encerra a sertaneja Maria Gabriela. Aos 31 anos, ela faz dupla com o cantor Leonardo, com quem se apresenta toda sexta-feira na casa de shows West Pub, em BH. “Mesmo cantando sertanejo romântico, aprendi com Elis a ter presença de palco e afinação”.

Nova biografia, feita a partir de 125 entrevistas, chega às livrarias

“Alunos” e “elismaníacos” de ontem e de hoje da “Pimentinha” poderão contar com mais uma biografia sobre a artista. Ela está no “pacote educacional” alusivo ao setentenário da intérprete de clássicos da MPB como “Fascinação”, “Upa, Neguinho” e “Como Nossos Pais”.

Ainda neste mês chega às livrarias “Elis Regina – Nada Será Como Antes” (Master Books). A biografia autorizada é assinada pelo jornalista Julio Maria. Músicos, familiares e amigos foram entrevistados para a publicação que traz novidades.

“Tive acesso à cartas e documentos restritos, como o inquérito policial aberto após a morte da cantora e a biografia conta detalhadamente a cena da morte”, revela o biógrafo.

Outro ponto forte do livro é uma carta que a Elis escreveu ao filho dela, João Marcello Bôscoli, quando ele tinha apenas um ano, para que fosse lida quando ele fizesse dezoito anos. “O João, porém, só leu a carta após começarmos o trabalho da biografia, e a carta, por sua vez, encontra-se na íntegra no livro”, conta Julio.

Amigos mineiros

Entre os relatos, o jornalista falou com artistas mineiros como Milton Nascimento e Toninha Horta que foram quase unânimes em se referir à cantora, como alguém que “cantava o que vivia” – mesma impressão das “alunas” da nova geração.

Foram feitas cerca de 125 entrevistas. “Alguns ficaram desconfortáveis para falar sobre Elis e outros muito emocionados”. A maioria, lembra, chorou ao falar da cantora.

Mas quem é a Elis que o leitor poderá conhecer no livro? A cantora famosa? A mãe de família? Ou é alguma Elis desconhecida?

“Minha luta foi para traçar o perfil mais próximo possível da realidade vivida por Elis. Ela jamais se encaixaria em uma biografia que separasse sua ‘vida pessoal’ de sua ‘vida profissional’”, aponta.

Julio Maria comprova na pesquisa, que Elis ultrapassava estes limites e se entregava com uma “interpretação violenta”, indo a lugares dos quais não sabia se conseguiria voltar. “Fico feliz por ter tido carta branca para retratá-la com liberdade”.

Além deste lançamento, uma das publicações mais aclamadas sobre a versátil cantora saiu em 1985. Era “Furacão Elis”, da jornalista Regina Echeverria. Em 2012, o livro teve reedição ampliada.
 

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