Capital Inicial faz homenagens a Charlie Brown Jr. e Raimundos

Marco Aurélio Canônico - Folhapress
14/09/2013 às 22:02.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:24

RIO DE JANEIRO - Dinho Ouro Preto está numa crise de meio de idades. Dinho é jovem: pula e corre pelo palco com um pique invejável até pra gente mais nova que ele. Dinho envelheceu: esquece as letras de vários de seus hits e joga para o público cantar, na tentativa de tapar o buraco.

Dinho é moleque: faz protesto contra políticos e canta usando nariz vermelho. Dinho acha que é jovem: a quantidade exagerada de "cara", "velho", "tá ligado" e "caralho" que fala soa como forçação de barra para os jovens de verdade.

Lobão disse uma vez que o vocalista do Capital Inicial é o único roqueiro de sua geração que ainda pode tocar sem camisa. Mas, no primeiro show do dia no palco Mundo do Rock in Rio, Dinho, de 49 anos, não ficou descamisado.

No meio dessa crise sem-crise, os momentos auge do show do Capital Inicial foram músicas de outras bandas: Charlie Brown Jr. e Raimundos. O grupo fez uma homenagem a Champignon, baixista do Charlie Brown, morto na semana passada, e a Chorão, vocalista da mesma banda, morto em março.

"Vocês sabem que o rock está de luto essa semana. A gente quer pagar pau para o Charlie Brown, vocês ajudam? Já esqueço as letras do Capital, imagina as dos outros...", disse, aproveitando o momento de sensibilidade coletiva para assumir com graça o problema de memória. Contando com o esperado coral de apoio do público, conseguiu cantar "Só os Loucos Sabem" bem e até o final.

No outro momento cover do show, um dos mais animados da apresentação, deixou a galera cantar (e pular) praticamente sozinha toda a letra de "Mulher de Fases", dos Raimundos.

Outros hits tiveram parte dos vocais gentilmente cedidos por Dinho ao seu público, como "Música Ligeira", "Natasha" e "À Sua Maneira", com destaque para "Fátima", em que o vocalista desceu para interagir com a plateia, deixando um branco conceitual na canção.

O Capital animou a plateia com uma fartura de hits e também não perdeu a chance de entrar na onda dos protestos. "Poucas coisas nos dão mais prazer do que rock and roll e falar mal de político", disse Dinho Ouro Preto, puxando o momento "o gigante acordou" do show. "Não sei o que é pior: Natan Donadon, o primeiro presidiário congressista, ou o Congresso, por deixar ele lá."

"Fechem os olhos e elejam o [alvo de protesto] de vocês. Eu escolho o parlamento brasileiro, pelo conjunto da obra", bradou o vocalista, antes de colocar um nariz de palhaço para cantar "Saquear Brasília" ("Eles mentem e não sentem nada. Eles mentem na sua cara").

No fim do show, o público puxou um coro de "Que País é Esse?", na tentativa de ouvir um dos clássicos hits de protesto brasileiro. Em vão. O Capital gastou os minutos finais de sua apresentação coreografando uma foto da banda com a galera ao fundo pra postar no Facebook. Dinho puxou o coro: "1, 2, 3 e... Do caralho!".

Palco pequeno e som ruim atrapalham show do Offspring

Escalados para um palco menor do que sua fama e prejudicados por um som quase inaudível no início de sua apresentação, os californianos do Offspring penaram para fazer seu show decolar no Rock in Rio.

Um dos principais representantes do punk pop que estourou na segunda metade dos anos 1990, o Offspring tocou no secundário palco Sunset e superlotou o lugar, atraindo mais gente do que alguns shows do palco principal e tornando a circulação problemática.

O maior problema, no entanto, foi mesmo o som, o pior de todas as apresentações até agora. A apoteótica "All I Want", usada para abrir o show a mil por hora, teve efeito nulo, porque quase ninguém a ouviu direito.

Outro hit, "Come out and Play", também ficou diluído pelo som de rádio AM. Apenas na altura da sexta música o volume aumentou, mas ainda num nível insatisfatório.

Aparentemente sem notar os problemas e sem ouvir os gritos de "aumenta o som" vindos da plateia, a banda seguiu em frente, privilegiando o álbum "Americana" (1998), do qual tocaram cinco faixas, incluindo a que dá título ao disco e o sucesso "Pretty Fly (for a White Guy)".

O melhor momento do show foi o bis, quando a banda voltou acompanhada de Marky Ramone na bateria para tocar "California Sun" (um cover que os Ramones tocavam com frequência) e "R.A.M.O.N.E.S." (do Motorhead).

Antes de encerrar o show com o hit "Self Esteem", o guitarrista Noodles agradeceu a oportunidade de tocar com o veterano convidado. "Para mim, isso é um sonho realizado", disse o guitarrista. "Esta é a melhor noite da minha vida, e é claro que tinha de acontecer aqui no Rio." Imagine se o som tivesse estado à altura.
 

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