Casarões charmosos de um dos bairros mais tradicionais de Belo Horizonte ganham novo uso e sentido graças à iniciativa de empreendedoras apaixonadas por cultura, gastronomia e artes. Coube a elas dar um destino diferente da demolição e do abandono a imóveis no Santo Antônio, abrindo as portas das propriedades ao público e ajudando a manter viva parte da história da capital.
Poucos metros separam casas com trajetórias completamente diferentes no mesmo bairro. Enquanto, na rua Congonhas, 13 residências tombadas pelo município e que já serviram de set para o filme “O Menino Maluquinho” encontram-se em péssimo estado de conservação, na rua Leopoldina um casarão acaba de ser repaginado e já recebe quem gosta de chá, uma boa conversa e oficinas variadas.
À frente do negócio estão a jornalista Paola Carvalho e a nutricionista Renata Andrade, idealizadoras e sócias da Casa Leopoldina.
O imóvel, construído nos anos 1940, foi transformado em uma “cozinha de cheiro, chá, café e chocolate”. Também é definido como uma “‘casa-tag’ cheia de novidades de makers” e “lugar para cursos, eventos e o livre brincar”, como informa a descrição na página oficial da Casa Leopoldina no Facebook.
Cristiano Machado / N/APARCERIA – Renata e Paola apostaram suas fichas na Casa Leopoldina
Como nos tempos antigos
Com a proposta de remeter “aos tempos de vó”, como diz Paola, vários elementos originais do imóvel foram mantidos, como o oratório e o guarda-roupa. Agora, dividem o mesmo teto com uma sala dedicada às artes visuais.
No estabelecimento, as comidas e as bebidas não contêm aromatizantes nem conservantes. O café vem do Sul de Minas e uma designer de chá foi contratada. “Buscamos esse valor de trazer coisas menos industrializadas”, pontua a jornalista.
Os produtos regionais também têm destaque na cafeteria. Contemplando profissionais da cidade, produtores de orgânicos podem participar da feira realizada na porta do local toda quarta-feira. Dentro da casa, há um empório no qual é possível comprar desde enfeites a livros. E oficinas temáticas sempre pintam por lá.
“A intenção é tentar trazer de volta ao bairro um circuito não só de café e chá, mas também de cultura”, afirma Paola, ao explicar que mantém parcerias com outros estabelecimentos da região.
Nessa semana, foi dada a largada para a construção coletiva de um jardim comestível no quintal da casa. E, reforçando a ideia de ser um espaço aberto ao público, os portões foram retirados e um jardim de capuchinhas foi plantado para quem quiser comê-las. Basta chegar e colher, de graça.
Chá Comigo é referência de aconchego na cidade
O Chá Comigo, também na rua Leopoldina, é um dos pontos mais charmosos da cidade. Inaugurado há dois anos, lá não há garçom, “para que ninguém se apresse”, explica a proprietária do espaço, Laura Damasceno.
Cristiano Machado / N/A
LAURA – “Adoraria que tivesse mais casinhas assim, para que não fossem demolidas”
Jornalista de formação, ela conta que largou o trabalho que fazia em São Paulo e voltou para BH em meados de 2014 para mudar completamente o rumo profissional. “Em São Paulo, há muitas casas de chá, mas não tão aconchegantes. Então, fui atrás de uma casa na cidade e achei essa, que não estava bem conservada, mas minha mãe, que é arquiteta, resolveu encarar o desafio”, conta. Também pesou para a escolha uma ligação afetiva. “Meus avós paternos moravam aqui no bairro”.
Todos que entram ali podem tomar água do filtro gratuitamente. Os clientes aprovam a iniciativa. “Essa é novidade, nunca vi em nenhum outro lugar. Só tive essa experiência fora do país”, diz a psicóloga Adriana Brito. De Nova Lima, há cerca de um ano, ela diz que sempre dá um jeitinho de passar pelo local quando vem a Belo Horizonte. “Aqui me faz lembrar de casa, de afeto. Tem vinil, você pode ler um livro... Tem a coisa do novo e do velho ao mesmo tempo”, comenta.
O músico Jimmy Duchowny é outro que está sempre na casa. Morador do bairro, ele costuma levar a filha Nina, de 7 anos, para comer bolo de cenoura com brigadeiro, o predileto na pequenina. “Aqui tem o melhor clima de todos os lugares do Santo Antônio”, elogia ele.
Casa imaginária
Espaço de valorização de iniciativas locais, foi aberta, na rua Cristina, a Casa Imaginária. De propriedade dos avós da produtora de eventos Bruna Pardini, uma das idealizadoras do projeto, o local é disponibilizado a profissionais da capital mineira que desejem promover atividades nos cômodos.
Também idealizadora da Casa Imaginária, Bruna Viana explica que a ideia é promover a economia criativa. “Damos espaço para artistas e pequenos negócios projetarem ideias aqui. É um espaço para a experimentação”. A ideia tem dado certo. Em seis meses, mais de 20 ações foram promovidas pelo projeto. Cristiano Machado / N/ACRIATIVAS – Bruna Viana e Bruna Pardini dão vida à casa, enquanto a mesma não demolida, já que um prédio deverá ser construído no local
Programe-se:
Além das iniciativas esporádicas, toda segunda-feira e quarta-feira, às 8h, tem aula de ioga na Casa Imaginária. Já às terças-feiras, às 9h, é realizada aula de hatha yoga. O massagista Darlan Andrade também atende no local com horário agendado. Já para quem deseja alugar ou colocar para alugar roupas, a dica é ir ao guarda-roupas da “Mudaria”, iniciativa permanente de Isabela Viana, também idealizadora da Casa Imaginária.
Na Casa Leopoldina já é parte da programação a feira de produtos orgânicos que acontece toda quarta-feira. Mas, para quem deseja acompanhar a agenda de lançamentos e/ou fazer oficinas e cursos oferecidos no estabelecimento, a dica é acompanhá-los pelo Facebook e pelo Instagram, por meio do usuário acasaleopoldina.
Outra opção para quem gosta de casa de café fica na rua São Domingos do Prata, também no Santo Antônio. Trata-se do Noete Café Clube, que garante torrefação de cafés especiais, além de vinhos e cervejas artesanais.